Dia Internacional da Caridade celebrado pela Sociedade de São Vicente de Paulo em contexto de pandemia que continua a marcar o trabalho que voluntários realizam
Lisboa, 04 set 2021 (Ecclesia) – Alda Couceiro, presidente do Conselho Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), lamentou hoje a pobreza envergonhada que persiste em Portugal e dificulta a ajuda a situações de fragilidade, e afirmou que a pandemia “acentuou” esta realidade.
“As novas formas de pobreza, que já existiam mas que se foram acentuando com a pandemia, causaram este desconforto em muitas famílias que estavam bem estruturadas, tinham a sua vida segura, tinham uma certa estabilidade e se viram confrontadas com o desemprego. Existe uma vergonha entre as pessoas de procurar ajuda. É preciso estarmos despertos”, evidencia a responsável em declarações à Agência ECCLESIA.
De forma “sublime e o menos visível possível”, os voluntários da SSVP procura aproximar-se das pessoas, para que “não se sintam menorizadas por estarem a pedir e a precisar de ajuda”.
“Contamos nesta altura com a colaboração de muitos párocos e de muitas pessoas que nas paróquias se apercebem dessas realidades e nos informam dessas situações”, avança.
O Dia Internacional da Caridade foi instituído a 5 de setembro de 2012 pela Organização das Nações Unidas e comemorado pela primeira vez em 2013.
A data assinala-se no dia da morte da Madre Teresa de Calcutá, missionária católica albanesa que fundou as Irmãs da Caridade, canonizada a 4 de setembro de 2016 pelo Papa Francisco, durante o Jubileu extraordinário da Misericórdia, na Praça São Pedro.
A pandemia marcou a ação dos vicentinos, provocando um aumento dos pedidos de ajuda, mas impactou também a forma de auxílio, uma vez que os voluntários são “pessoas mais velhas, que não podiam sair de casa por causa do confinamento” e, por outro lado, explica, as visitas domiciliárias que habitualmente realizam tiveram de ser cancelas.
“Vivemos momentos muito difíceis e a Sociedade tem essa função: nas visitas aos lares das pessoas era possível conhecer a realidade. Era a nossa atividade principal. Além dos bens nós levávamos a Palavra de Deus. A nossa missão é ajudar com bens mas evangelizar, tentando ver em cada pobre, em cada pessoa que precisa de ajuda, a pessoa de Cristo e assim amá-lo como a Cristo. A nossa espiritualidade levava-nos à visita domiciliária. Hoje isso não é possível”, lamenta.
Alda Couceiro explica que para além das carências económicas que encontram, registam uma grande solidão.
“Há ainda muito a ajudar. Todos somos poucos porque há muitas pessoas a sofrer, em especial de solidão. Se faz falta comer e pagar as contas, faz muita falta acabar com a solidão. Arranjar formas diversas para permitir que não se viva em solidão, mas que se sintam acompanhadas”, sublinha.
A responsável manifesta preocupação com o rejuvenescimento da SSVP que necessita de voluntários com formação e conhecimento que se sintam vocacionados para este trabalho.
“Um dos objetivos que nos preocupa é o rejuvenescimento. Necessitamos de novos elementos, casais jovens, pessoas mais novas que possam continuar este trabalho. Absorver este conhecimento e dar nova vida às conferências”, explica.
Alda Couceiro dá conta do trabalho em equipa que realizam e sublinha que nem todos os vicentinos têm perfil para visitar as famílias ou pessoas singulares que são acompanhadas, mas “mas ficam na retaguarda e em oração”.
“Sempre que visitávamos alguém, mesmo antes da pandemia, era definido em grupo. Nem todos têm perfil, não é fácil fazer visitas, conhecer a realidade da pobreza do nosso país, mas é gratificante quando na reunião se partilha o encontro e o serviço que fazemos”, recorda.
A Sociedade de São Vicente de Paulo é uma organização católica internacional de leigos, fundada em Paris, em 1833, por Frederico Ozanam e seus companheiros, que pretendia prestar ajuda às famílias, material e espiritualmente.
A organização está presente em 152 países, nos cinco continentes, e conta com cerca de 800 mil vicentinos; Em Portugal são cerca de nove mil.
A entrevista a Alda Couceiro está no centro do programa ECCLESIA este domingo, na Antena 1, às 6h.
OC/LS