A cruz escondida

Mãe recorda o filho que morreu para salvar a vida de centenas de fiéis

Um filho no Céu

O processo de beatificação de Akash Bashir está em curso, embora se tenha atrasado um pouco por causa da pandemia do coronavírus. Mas, para Naz Bano, não há qualquer dúvida. O filho morreu como mártir e vai ser aclamado pela Igreja. “Akash já é o nosso santo”, diz com a certeza que lhe vem do coração de mãe …

Foi há seis anos e quatro meses. É provável que Naz Bano tenha os dias todos contados. Os dias e até as horas. Foi a 15 de Março de 2015, um domingo. Para muitos, aquele era um dia especial por causa de um jogo de críquete entre o Paquistão e a Irlanda. Para outros, era especial apenas por ser domingo. O jogo e a missa decorriam à mesma hora. No Paquistão, por causa da ameaça de atentados terroristas, as igrejas transformaram-se de alguma forma em ‘bunkers’, com os edifícios rodeados de muros, com câmaras de vigilância e até, às vezes, arame farpado. Não é de todo invulgar ver guardas armados à porta dos templos. Em algumas paróquias, especialmente as que se situam nos bairros mais populosos das grandes cidades, onde o risco de ataques é maior, grupos de voluntários procuram também auxiliar nessa ingrata tarefa de impedir que as igrejas se transformem em campo de batalha dos radicais muçulmanos que olham para os cristãos como um dos seus alvos principais. No domingo, 15 de Março de 2015, Akash Bashir, um jovem de apenas 20 anos de idade, estava à porta da Igreja de São João, em Youhanabad, quando tudo aconteceu num espaço de minutos. A missa tinha começado. O templo estava cheio de fiéis. O terrorista tentou entrar disfarçando um cinto com explosivos debaixo das suas largas roupas escuras. Por acaso, Akash reparou nisso e impediu-o de atravessar a porta. Foi então que ele se dez detonar. Morreram os dois.

Dar a vida pelos outros

Naz Bano estava em casa a lavar roupa quando escutou o barulho da explosão. Não sabia o que tinha acontecido, mas correu rumo à Igreja, aflita. Era já o pressentimento de mãe. Quando chegou, viu o corpo do seu filho já coberto de sangue, rodeado de gente, no meio de gritos, de lágrimas. No meio do caos. “Quando cheguei – recordou agora –, procurei Akash entre os jovens que estavam perto da porta da igreja, quando o vi caído no chão. O seu braço direito quase tinha sido arrancado. Não conseguia acreditar no que estava a ver…” Para a comunidade cristã do Paquistão, Akash é um herói. Para Naz Bano é muito mais do que isso. É um mártir, um santo. O processo de beatificação começou um ano depois e só não está neste momento mais avançado por causa da pandemia do coronavírus. Um padre salesiano está a escrever um livro sobre este antigo aluno da Escola de Dom Bosco e a recolher testemunhos de colegas, amigos, vizinhos. Todos falam dele como um jovem especial. Naquele domingo do jogo de críquete, Akash não teve dúvidas em atirar-se para cima do terrorista no preciso instante em que ele fez accionar o engenho explosivo. Morreu para salvar a vida de centenas de fiéis que estavam na Igreja a rezar. Mas, para Naz Bano, não há qualquer dúvida. O filho morreu como mártir e vai ser aclamado pela Igreja. “Akash já é o nosso santo”, diz Naz Bano com a certeza que lhe vem do coração de mãe.

Paulo Aido

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Agência ECCLESIA

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