Covid-19: Igreja tem de ser plataforma de diálogo em tempo de certezas «abaladas», diz Tomás Halík

Teólogo e ensaísta checo apresenta reflexão sobre «Igrejas vazias» durante a pandemia

Lisboa, 12 mar 2021 (Ecclesia) – O padre Tomás Halík, teólogo e ensaísta checo, disse à Agência ECCLESIA que a Igreja Católica tem de ser uma plataforma de diálogo em tempo de certezas “abaladas” pela pandemia.

“Um professor falava da solidariedade dos sacudidos. Penso que a Igreja também deveria ser uma solidariedade dos sacudidos não apenas oferecer respostas simples, antigas, mas também apoiar as pessoas neste tempo”, refere, em entrevista publicada hoje, a respeito do seu mais recente livro, ‘O tempo das Igrejas Vazias’.

A obra reúne as homilias da Quaresma e da Páscoa de 2020 gravadas pelo sacerdote checo na “paróquia universitária”, no seguimento do diálogo interdisciplinar promovido por Tomás Halík na Universidade de Praga.

“Este é um tempo em que muitos valores e muitas certezas são abaladas. As pessoas falaram do abalo das antigas certezas religiosas, mas agora também as certezas seculares foram sacudidas. Estamos num mundo sacudido”, indica Tomás Halík.

Questionado sobre as possibilidades do pós-pandemia, o entrevistado admite que algumas pessoas queiram “regressar ao que faziam sempre”, mas assinala que, para outros cristãos, esta será uma oportunidade para se “questionarem sobre o que é importante” na vida espiritual.

“Há quem pense que o Cristianismo é um passatempo para pessoas pias, que vão à Missa aos domingos”, adverte.

Este tempo das Igrejas fechadas é um tempo para nos questionarmos, porque o Cristianismo não existe só quando há velas no altar”.

Nascido em Praga em 1948, Tomás Halík foi ordenado padre na clandestinidade e vigiado pela polícia secreta; na sequência da queda do regime comunista, em 1989, prestou serviço como conselheiro do presidente checo Václav Havel.

O teólogo, filósofo e ensaísta sustenta que a atual crise é um tempo para “reavaliar” valores e estilos de vida.

“A Igreja e a nossa teologia espiritual devem ensinar-nos que estes momentos obscuros, crises, são tempo de purificação, de aprofundamento”, aponta.

O padre Halík tem dedicado a sua reflexão teológica ao diálogo entre crenças e descrença, considerando que se vive um tempo em que as pessoas procuram por uma profundidade espiritual.

“A voz da Igreja deve ser clara, mas não devemos oferecer soluções simples: em primeiro lugar, temos de ajudar as pessoas a passar por esta crise com a mente aberta e o coração aberto, tentando compreender os desafios que existem, para a Igreja e para todos. Para todos. Pode ser uma mensagem especial para cada pessoa”, sustenta.

No seu novo livro, o autor escreve que muitos “não-crentes” começaram a fazer perguntas fundamentais, durante a crise provocada pela Covid-19.

“Quando a morte está a espreitar por cima do nosso ombro, todos fazem perguntas importantes”, precisa.

Cristo está em todos os lugares onde as pessoas ajudam outras pessoas. Deus não está apenas por trás da cortina do nosso mundo, Deus está presente no amor, esperança e amor das pessoas. E não só dos crentes.

O sacerdote checo rejeita a ideia de que a pandemia possa ser vista como um castigo divino.

“Esta ideia da pandemia como vingança, como castigo… Que imagem de Deus está por trás disso? Às vezes é uma projeção das próprias pessoas que assim falam, que projetam o seu lado mais sombrio, os seus próprios demónios, a sua agressividade, os seus medos”, realça.

Para Tomás Halík, Deus não se faz presente pelas tragédias, mas “está presente nos atos de amor, de esperança e de fé”.

“Esta crise foi uma oportunidade para encontrar Deus nestes atos de amor das pessoas, Deus é o que há de sagrado no nosso amor”, conclui.

OC

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Agência ECCLESIA

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