2021: Ajuda de emergência e problemas estruturais devem ser destino do Fundo de Recuperação Europeu

«Temos sociedade mais desigual, com mais medo, menos unidade, onde a fadiga sanitária é também fadiga mental» – José Miguel Sardica

Foto: Lusa

Lisboa, 13 jan 2021 (Ecclesia) – O professor e historiador José Miguel Sardica disse que a verba que chegará do Fundo de Recuperação Europeu deve ser destinada, em parte, a uma ajuda de emergência imediata e outra canalizada para problemas estruturais.

“Há que inventariar muito bem as famílias, as regiões onde a situação económica é mais sombria. Não tenho dúvidas que é necessária uma ajuda direta às pessoas. Como isso pode ser feito, não sei. Numa emergência sanitária e social há que cuidar mas há que aproveitar para fazer reformas estruturais que nos ajudem enquanto sociedade a estar mais fortes para as contingências que hão de vir.”, explicou numa entrevista à Agência ECCLESIA, a ser emitida hoje na Antena 1 da rádio pública.

O Fundo de Recuperação económica, aprovada pela União Europeia, vai distribuir 750 mil milhões de euros pelos 27 Estados membros, destinando a Portugal cerca de 45 mil milhões de euros, uma verba que se prevê comece a chegar na primavera.

“Que esta ajuda que agora vem seja uma oportunidade cívica para aprendermos a cuidar de dinheiros que não são nossos, com a responsabilidade de quem recebe essa ajuda. Que não vejamos, como infelizmente vimos muitas vezes dinheiro mal gasto, dissipado em coisas não fundamentais, e que o utilizemos para elevar o patamar em que o país está e convergir com a Europa”, sublinha.

O professor da Universidade Católica Portuguesa preconiza que o destino certo do Fundo de Recuperação irá tornar a sociedade mais forte, com consequências numa “economia mais desenvolvida” e com a política a “funcionar melhor”.

A pandemia, que “leva já 10 meses em Portugal”, está a provocar “diferentes estragos em diferentes locais”: “Para alguns, felizmente é uma questão de não ver a pessoas A, B ou C, para outros é uma questão de sobrevivência”, mas a “fadiga mental” não pode ser mitificada.

José Miguel Sardica lamenta que o ano de 2021 tenha começado no mesmo tom que fechou 2020: “Uma sociedade mais desigual, com mais medo, menos unidas, onde a fadiga sanitária é também fadiga mental”.

“Há países onde a pandemia afetou muito sanitariamente, mas onde a economia aguenta melhor; em Portugal isso não acontece. Basta lembrar que até abril de 2020 o PIB caiu 2.4%, um decréscimo como não existia em Portugal desde 2012 ou 1975 – os dois anos nesta escala menos bons – mas entre maio e junho, nos meses de confinamento, o PIB caiu 16.4%. Isto mede-se em empresas que fecharam, comércio que não foi feito, hotéis, restaurantes e bares que fecham, em mesas sem comida”, sublinha.

O docente universitário afirma que a ajuda vinda da Europa “pode ser a última” e necessita “ser bem usada”.

Ao longo da semana o programa Ecclesia na Antena 1 vai estar à conversa com o professor e historiador José Miguel Sardica, perspetivando os acontecimento deste ano em diferentes áreas – Igreja, Política, Sociedade, Europa e Ambiente.

LS

 

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