Saúde: Ser cuidadora «é o amor que fala mais alto»

Fátima Esteves cuida da sua irmã Otília há 20 anos e teme pelo futuro

Foto: AE – Fátima Esteves

Louriçal, 10 fev 2020 (Ecclesia) – Fátima Esteves, uma cuidadora informal que trata da irmã há mais de 20 anos, denuncia a falta de apoios, mas diz que vive “um amor que fala mais alto”.

“O meu dia a dia é cuidar da Otília, trabalhar com ela, não tenho hipótese de sair, quem é que cuida dela?”, explica, em declarações à Agência ECCLESIA.

Fátima Esteves já cuidou dos pais e assumiu a missão de cuidar  sua irmã Otília, de 51 anos, com Trissomia 21, que se encontra acamada há quatro anos.

“É o amor que fala mais alto… Um dia um médico disse-me que, como eu tinha três filhos e ainda cuidava desta irmã, só podia ser um amor maior”, refere.

Otília, que se acalma a ouvir música, vai reagindo à voz de Fátima enquanto esta conta à Ecclesia que se levanta bem cedo para tratar da irmã, seja da higiene à alimentação, para que durante o dia “a sua menina” vá descansando.

“A Otília é como se fosse adotada, quando eu casei ela já existia, depois o meu marido aprendeu a amá-la, para os meus filhos é como uma irmã, não é uma tia… Nós aqui tratamo-la como uma menina, é a minha menina”, afirma.

A viver no Outeiro do Louriçal, os “dias são pesados” para Fátima Esteves, porque não consegue vagas nos lares para colocar a irmã e um problema de saúde tem-lhe tirado as forças, o que a faz interrogar-se sobre o futuro.

Foto: Agência ECCLESIA/SN

“Que fazer, se nós batemos à porta e as portas são fechadas? Eu ando bastante debilitada, e não há vagas, ‘procure noutro sítio’, dizem… Eu não sou rica, o que faço à Otilia? Dedico-me a ela, o que me dói mais é quando eu não arrastar as pernas…”, lamenta.

O sorriso vai estando presente na conversa com Fátima, mulher de fé e oração, “confiante em Deus”, sente que “nasceu para sofrer e cuidar”.

Eu amo muito, acima de tudo é um amor”.

Há pouco tempo, Fátima tornou-se membro da Associação Nacional de Cuidadores Informais porque sentiu “essa necessidade” e acredita que o estatuto de cuidador “pode vir a melhorar” um pouco a sua vida.

“Às vezes é uma janela ou uma porta que se abre, a gente tenta espreitar, encontrar solução uma ajuda… Aquilo que sinto dentro de mim, leva-me a falar mais alto! Hoje é a Otília, serão os idosos e amanhã sou eu, serão os nossos jovens, se assim não fosse não seria mundo, não éramos humanos”, acrescenta.

A Igreja Católica vai celebrar esta terça-feira o Dia Mundial do Doente, este ano com o tema ‘Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei’.

Na mensagem para esta celebração, o Papa Francisco agradece a todos os que “se colocam ao serviço dos doentes, procurando, em não poucos casos, suprir carências estruturais e refletindo, com gestos de ternura e de proximidade, a imagem de Cristo Bom Samaritano”.

SN/OC

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Agência ECCLESIA

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