Tema esteve em destaque no Sínodo especial sobre a Amazónia
Lisboa, 13 jan 2020 (Ecclesia) – Um novo texto escrito pelo Papa emérito Bento XVI rejeita a ideia de ordenação sacerdotal de homens casados, tema que esteve em destaque no Sínodo especial sobre a Amazónia (outubro de 2019).
Em causa, segundo passagens da obra adiantadas pelo jornal francês ‘Le Figaro’, estariam as recentes propostas de ordenação de homens casados que estiveram em discussão no Vaticano, durante o Sínodo dedicado à Amazónia, numa iniciativa convocada pelo Papa Francisco.
O texto do Papa emérito integra o livro “Das profundezas dos nossos corações” vai ser publicado a 15 de janeiro, pela editora Fayard.
A obra, que é assinada também pelo cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé), cita uma frase de Santo Agostinho: “«Silere non possum». Não me posso calar”.
Os autores indicam que o celibato “tem um grande significado” e é “indispensável” para o ministério sacerdotal na Igreja Católica.
“Encontramo-nos, trocamos ideias e preocupações. Fazemo-lo num espírito de amor e de unidade na Igreja. Se a ideologia divide, a verdade une os corações”, pode ler-se.
A obra critica o que denomina como “estranho Sínodo dos media”, que se teria sobreposto ao “Sínodo real”.
Na sua parte do livro, o Papa emérito considera que “não parece possível realizar as duas vocações (sacerdócio e matrimónio) em simultâneo”.
Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, considera, em nota publicada hoje pelo ‘Vatican News’, que se trata de “uma contribuição sobre o celibato sacerdotal em filial obediência ao Papa”.
O texto passa em revista a posição assumida por Bento XVI, segundo o qual o sacerdócio e o celibato estão unidos desde o início da “nova aliança”, de Deus com a humanidade.
O antecessor de Francisco realça que já “na Igreja antiga”, isto é, no primeiro milénio, “os homens casados podiam receber o sacramento da ordem somente se estivessem comprometidos a respeitar a abstinência sexual”.
A questão do celibato ocupa todo o volume, com dois textos, um do Papa emérito e outro do cardeal, com uma introdução e conclusão assinadas pelos dois.
Em entrevista ao ‘Le Figaro’, o cardeal Sarah fala em “crise impressionante” e diz que este livro é “um grito de amor para a Igreja, o Papa, os padres e todos os cristãos”.
O documento final do Sínodo especial dos Bispos de 2019, publicado no último mês de outubro, admite a ordenação sacerdotal de diáconos casados, tendo em vista a celebração dominical da Eucaristia nas regiões “mais remotas” da Amazónia.
O sacerdócio está reservado, na Igreja Latina (que engloba a maioria das comunidades católicas no mundo, como em Portugal), a homens solteiros; alguns ritos próprios, em comunhão com Roma, admitem a ordenação de homens casados como padres.
Em janeiro de 2019, após a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, o Papa Francisco foi questionado sobre o tema, no voo de regresso a Roma, e citou São Paulo VI: «Prefiro dar a vida antes que mudar a lei do celibato».
“Pessoalmente, penso que o celibato é uma dádiva para a Igreja. Em segundo lugar, não estou de acordo com permitir o celibato opcional”, declarou então.
Francisco admitiu que existe discussão entre os teólogos, mas demarcou-se da mesma.
“A minha decisão é: celibato opcional antes do diaconado, não. É uma coisa minha, pessoal… Eu não o farei: que isto fique claro. Sou ‘fechado’? Talvez. Mas não me sinto, diante de Deus, capaz de tomar tal decisão”, explicou.
O Papa Francisco recordou, nessa altura, que no pontificado de Bento XVI foram criados ordinariatos pessoais para “os sacerdotes anglicanos que se tornaram católicos e mantêm a vida [conjugal]”.
Questionado hoje sobre o conteúdo do novo livro, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, lembrou que “s posição do Santo Padre sobre o celibato é conhecida”.
OC
Notícia atualizada às 23h52
A ‘Anglicanorum Coetibus’, documento assinado por Bento XVI em 2009 sobre a instituição de ordinariatos pessoais para anglicanos que entram na plena comunhão com a Igreja Católica, admitia que se pedisse ao Papa para “admitir caso por caso à Ordem Sagrada do presbiterado também homens casados, segundo os critérios objetivos aprovados pela Santa Sé”.
Esse parágrafo previa a derrogação do cânone 277, 1, do Código de Direito Canónico, no qual se pode ler: “Os clérigos têm obrigação de guardar continência perfeita e perpétua pelo Reino dos céus, e portanto estão obrigados ao celibato, que é um dom peculiar de Deus”. |