Cardeal saudou «heroísmo das vidas simples» e pediu aposta na Educação, com maior «consciência ecológica»
Funchal, Madeira, 23 dez 2019 (Ecclesia) – O cardeal D. José Tolentino Mendonça tornou-se hoje a sétima personalidade a receber a Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, numa cerimónia que decorreu na Assembleia Regional.
No discurso que proferiu após a entrega da distinção, o bibliotecário e arquivista da Santa Sé prestou homenagem ao “heroísmo anónimo, o heroísmo das vidas simples” de tantas pessoas, pedindo atenção aos “pontos de partida de cada história”.
“O nosso maior recurso é sempre o humano, não o podemos esquecer”, declarou o colaborador do Papa.
Há passos que parecem invisíveis, de tão discretos, mas que significam uma riqueza humana extraordinária”.
D. José Tolentino Mendonça deixou palavras de admiração pela sua terra natal, confessando sentir-se “pequeno” perante o significado desta condecoração.
A intervenção falou numa “secular cadeia de olhares” no arquipélago, de que cada um é herdeiro, considerando que “o mais importante da vida é receber e passar o testemunho”.
“É impossível para mim não pensar nisso com gratidão”, assumiu o cardeal.
O segundo cardeal na história da Madeira afirmou ter uma “dívida” com a ilha.
Ficamos sem saber se somos nós que sonhamos a Madeira ou se é a Madeira que nos sonha a nós”.
A Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira é a mais alta insígnia regional e foi entregue após proposta do PSD e do CDS-PP, aprovada por unanimidade.
O cardeal madeirense foi recebido pelo presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, e receber uma obra do escultor Ricardo Veloza, um graffiti com a imagem do próprio D. José Tolentino Mendonça.
O ato solene de atribuição da medalha decorreu no Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira, perante D. Nuno Brás, bispo do Funchal; o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque; e outras autoridades políticas, militares, religiosas e civis, além de familiares do homenageado.
D. José Tolentino Mendonça pediu aos presentes uma “especial atenção à causa da Educação”, para que esta “seja assumida como um desígnio transversal e coletivo”.
“Que as novas gerações aqui nascida possam estar competentemente preparadas para responder aos exigentes desafios da época em que vão viver”, desejou.
A intervenção apelou depois a uma consciência ecológica “mais ativa”, sublinhando que “ilha que nos sonha precisa de ser protegida e cuidada”, apesar da sua “intensidade telúrica poderosa”.
O colaborador do Papa Francisco insistiu na necessidade de conciliar as dimensões social e ecológica: “A ilha refletirá, como um espelho, a qualidade da alegria que formos, aqui e agora, capazes de construir”.
“Que Deus abençoe a Madeira. Viva a Madeira”, concluiu.
José Manuel Rodrigues, por sua vez, falou numa “enorme honra” e “infindável orgulho” por acolher o cardeal madeirense, considerando que o mesmo desempenha uma “missão relevantíssima” na Igreja Católica, em diálogo com o mundo da cultura, que abrem “novos caminhos”, numa “expressão real da cultura do encontro de que tanto fala o Papa Francisco”
O presidente da Assembleia Regional da Madeira sustentou que D. José Tolentino Mendonça deve ser visto como um “mestre”, que conseguiu “abrir novos caminhos à Igreja Portuguesa” e fazer com que muitos “regressassem à fé”.
“Nunca ninguém conjugou tão bem a insularidade com a universalidade”, assinalou.
José Manuel Rodrigues evocou a ligação histórica entre o arquipélago e a Igreja Católica, o papel da Madeira na “evangelização de novos mundos”, a partir do século XV, e a diáspora madeirense no mundo, com os atuais problemas sentidos pela comunidade na Venezuela.
“É nosso dever acolher, promover e integrar estes nossos concidadãos”, indicou, recordando também o drama dos “migrantes e refugiados”, uma questão “de todos os tempos”.
O Parlamento regional preparou um espaço exterior para acolher as pessoas que quiseram acompanhar a cerimónia, através ecrãs gigantes e de um sistema de som montados para o efeito.
A Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira visa “galardoar as entidades singulares ou coletivas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, em vida ou a título póstumo, que tenham prestado assinaláveis serviços à Região ou que, por qualquer outro motivo, a Região entenda dever distinguir”.
Ainda hoje, a Câmara Municipal de Machico, terra natal do cardeal madeirense, promove uma receção oficial, pelas 15 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
A autarquia vai proceder à alteração do nome da Rua do Leiria, passando esta a chamar-se Rua Cardeal Tolentino Mendonça.
OC
Biblista, investigador, poeta e ensaísta, D. José Tolentino Mendonça foi criado cardeal a 5 de outubro pelo Papa Francisco e é o sexto prelado português a integrar o Colégio Cardinalício no século XXI, o terceiro no atual pontificado.
O bibliotecário e arquivista do Vaticano nasceu em Machico (Arquipélago da Madeira) em 1965, tendo sido ordenado padre em 1990 e bispo a 28 de julho de 2018; foi reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica em Portugal. D. José Tolentino Mendonça é comendador da Ordem do Infante D. Henrique, título que lhe foi atribuído em 2001 pelo ex-presidente da República Jorge Sampaio, e da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, atribuída por Aníbal Cavaco Silva, antigo chefe de Estado. O primeiro madeirense no Colégio Cardinalício foi D. Teodósio Gouveia, natural de São Jorge, Santana; o arcebispo da então Lourenço Marques (Moçambique), foi criado cardeal por Pio XII, no consistório de 18 de fevereiro de 1946. |