Autor espanhol apresentou em Portugal a obra «O amigo do deserto»
Lisboa, 01 nov 2019 (Ecclesia) – O padre, teólogo e escritor espanhol Pablo d’Ors disse à Agência ECCLESIA que a proposta de interioridade e contemplação da espiritualidade católica é essencial para uma sociedade “do frenesim, da mobilidade absoluta”.
“A viagem interior é a viagem mais importante. O maior desafio que temos, hoje em dia, é aprender a ficar parados, em silêncio”, referiu, em entrevista a respeito do livro ‘O amigo do deserto’, que esteve a apresentar em Portugal.
Segundo o religioso, consultor do Conselho Pontifício da Cultura por nomeação do Papa Francisco, a meditação oferece um “lugar no mundo” e ajuda as pessoas a encontrar “o mais autêntico e genuíno de si mesmas”.
“O desafio é difundir a mística”, realça.
O sacerdote, que fundou em 2014 a associação ‘Amigos do Deserto’, dedicada a aprofundar e difundir a dimensão contemplativa da vida cristã no quotidiano de leigos e leigas, entende ser um erro “identificar a vida contemplativa apenas com a vida monástica”.
“A vida contemplativa é para todos os cristãos, todos temos um chamamento à interioridade e à escuta”, precisa o entrevistado.
Pablo d’Ors entende que qualquer responsável católico tem um dever de “fidelidade ao Evangelho” e de “fidelidade ao homem e à mulher de hoje”.
“A questão não é simplesmente como transmitir o Evangelho, mas como amar o homem e a mulher de hoje, a partir do Evangelho”, explica.
Apresentando o silêncio como “um novo paradigma”, o autor espera que esta dimensão da vida cristã possa ser divulgada, como aconteceu, durante o século XX, com a Palavra de Deus e a disseminação das Bíblias.
“O que aconteceu com a Palavra, penso que pode acontecer hoje com o silêncio”, aponta, considerando que palavra e silêncio são duas “faces da mesma moeda”.
A personagem principal do livro ‘O amigo do deserto’ leva a cabo várias viagens pelo Saara, adentrando-se no deserto, como “metáfora da interioridade” e de um “subsolo comum” para crentes e não-crentes.
“A minha proposta é que a Europa tem de voltar ao deserto, para descobrir o que é”, precisa o padre e escritor espanhol.
Pablo d’Ors destaca a importância de promover o desapego das coisas materiais, realçando que, na mística cristã, “fazer a experiência de pobreza espiritual é uma riqueza”.
Nesta viagem interior pelo deserto, o maior “inimigo” são “os fantasmas”, as “lutas interiores” e os “esquemas mentais” que transportam para um “mundo ilusório”
“A principal tentação é a mente, é pensar que o que está na nossa mente é a realidade”, conclui o entrevistado.
A obra ‘O amigo do deserto’ acaba de ser lançada no mercado português pela Quetzal.
OC