A cruz escondida

Burkina Faso: Fiéis recordam Padre Simeon, assassinado há dois meses

FAIS

O bom pastor

No mesmo domingo, 12 de Maio, em que milhares de fiéis rezavam em Fátima em mais uma peregrinação ao Altar do Mundo, em África, no Burkina Faso, um sacerdote era assassinado, juntamente com mais cinco fiéis, durante a Missa. O Padre Simeon Yampa foi morto a tiro por um grupo de jihadistas. Morreu a servir a comunidade, como tanto gostava. Morreu no Domingo do Bom Pastor…

Domingo, 12 de Maio. Paróquia de Badló, Diocese de Kaya, no Burkina Faso. A pequena capela estava cheia de fiéis e a Missa quase a terminar quando homens armados irromperam pelo templo aos tiros, espalhando o terror entre todos os presentes. Eram mais de 20 jihadistas. No meio do caos, o Padre Simeon tentou proteger os jovens acólitos que estavam junto ao altar. Procurou arrastá-los para a sacristia, uma pequena sala ao lado da capela. De nada valeu. Os jihadistas atravessaram o templo, entraram na sacristia e dispararam a matar. O Padre Simeon não resistiu aos ferimentos. Assassinaram ainda cinco fiéis. Rafael D’Aqui, responsável pelos projectos da Fundação AIS no Burkina Faso, foi das primeiras pessoas a saber do ataque. Foi das primeiras pessoas a escutar o lamento dos que estavam na capela e viram os seus amigos a serem assassinados. Foi com palavras ainda manchadas de sangue e de medo que lhe contaram o que tinha acontecido. “Houve um pânico generalizado e as pessoas estavam aterrorizadas”, contaram a Rafael D’Aqui. “Os assassinos obrigaram os fiéis a retirar os crucifixos e outros objectos religiosos que usavam, colocando-os em cima do altar…” Imagina-se o pânico. Uma capela pequena, completamente cheia, gritos, tiros… pessoas feridas, em lágrimas. Antes de abandonarem o local, os terroristas ainda ameaçaram que iriam voltar e que se as mulheres não estivessem cobertas com véus, como as mulheres islâmicas, seriam assassinadas também. Antes de abandonarem o local, os terroristas deitaram fogo ao altar, queimando os crucifixos que os fiéis ali tinham depositado e todos os outros objectos litúrgicos, e destruíram um automóvel da paróquia para que ninguém pudesse fugir.

 

Igreja sob ataque

Nos últimos meses, grupos jihadistas têm vindo a semear o terror com ataques indiscriminados nos países vizinhos, o Mali e o Níger, com raptos de pessoas, ameaças e intimidação. Uma onda de terror que parece ter chegado também ao Burkina Faso. No final de Abril, um pastor protestante foi assassinado, com dois filhos e alguns fiéis, na sua igreja em Silgadji. Em Fevereiro, o Padre espanhol César Fernández foi morto a tiro na fronteira com o Togo, e desconhece-se, ainda, o paradeiro do Padre Joel Yougbare, raptado em Março junto à fronteira com o Mali. Não parece restar qualquer dúvida: a Igreja no Burkina Faso está sob ataque. Quinta-feira, dia 27 de Junho, um novo incidente. Na aldeia de Bani, no norte do país, homens armados fazem buscas casa a casa à procura de cristãos. Foram assassinados quatro, dois deles irmãos. Todos usavam crucifixo ao pescoço. Os grupos jihadistas matam, violentam e ameaçam. Deixam uma sombra de medo. Passam pelas aldeias ameaçando os habitantes e exigindo que se convertam ao Islamismo, encerram os lugares de culto mas também escolas e centros de saúde… Os jihadistas querem transformar esta vasta região, que compreende o Burkina Faso, o Mali e o Níger, num feudo fundamentalista onde os Cristãos não têm lugar. A capela onde o Padre Simeon Yampa foi assassinado servia quase 20 aldeias. Foi construída há 6 anos graças à ajuda da Fundação AIS. No domingo, 12 de Maio, a capela de Dabló ficou manchada de sangue. A capela é, desde então, um símbolo real da Igreja perseguida, da Igreja que sofre. Da Igreja que precisa de ajuda. No dia 12 de Maio o Padre Simeon Yampa foi morto a tiro por um grupo de jihadistas. Morreu a servir a comunidade. Morreu no Domingo do Bom Pastor…

Paulo Aido

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Agência ECCLESIA

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