Carta Pastoral «A alegria do amor no matrimónio cristão» remete orientações sobre divorciados recasados para bispos diocesanos
Lisboa, 08 mai 2019 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou hoje uma nova carta pastoral, dedicada ao matrimónio e à família, na qual apela a uma maior intervenção das comunidades católicas para ajudar os casais a superar eventuais crises.
“As paróquias, os movimentos e outras instituições da Igreja e casais mais amadurecidos são chamados a apoiar os casais cristãos, especialmente quando surgem crises. Através do seu testemunho experiente e, quando necessário, de ajudas especializadas é possível recordar que o casamento é uma tarefa a dois que implica ultrapassar obstáculos, e que uma crise pode ser uma oportunidade para recomeçar e renovar a mútua entrega e fidelidade”, refere o documento, aprovado na última Assembleia Plenária da CEP (29 de abril-2 de maio), em Fátima.
O texto, com orientações para a preparação do matrimónio e acompanhamento dos casais, apela à criação de “ferramentas concretas de superação de conflitos”, sublinhando que estes podem, se “bem vividos”, contribuir para “uma maior proximidade e intimidade no casal”.
“Comunicação e intimidade estão fortemente interligadas. E há casais com dificuldades na sua relação, porque não conseguem comunicar. Sem diálogo, sorrisos, expressões de carinho ou contacto físico, não há troca de sentimentos, não se transmite ao cônjuge o que realmente se deseja, não se discutem assuntos nem se resolvem problemas e surgem comentários a rebaixar o outro”, pode ler-se.
A Carta Pastoral ‘A alegria do amor no matrimónio cristão’ aborda a situação das famílias numa “sociedade em mudança”, com maior número de separações e receio dos mais novos em relação ao casamento, optando por “viver juntos” ou em união de facto, além de “famílias monoparentais, famílias reconstituídas, comunidades de vida homossexuais ou existências individuais com relações pontuais”.
Os bispos falam numa época em que “o sentimento e o imediatismo” surgem como critérios de vida, apresentando o matrimónio cristão como um “projeto comum” que se realiza em várias etapas, numa “relação estável e permanente”, que exige o compromisso das duas partes.
O sentimento é de uma ordem mais superficial, ao passo que o amor é da ordem da vontade e permanece para além e até mesmo contra todos os obstáculos que a vida possa trazer. Em última instância, um casamento dura porque os esposos decidem que dure”.
O texto cita por diversas vezes a exortação apostólica ‘Amoris Laetitia’ (A Alegria do Amor), que o Papa Francisco escreveu após as duas assembleias do Sínodo dos Bispos dedicadas à família (2014 e 2015),
Neste documento, Francisco propõe um caminho de “discernimento” para os católicos divorciados que voltaram a casar-se civilmente, sublinhando que não existe uma solução única para estas situações.
Em Portugal, várias dioceses que publicaram documentos sobre a aplicação das propostas para a pastoral familiar, sobre o tema, nomeadamente no que respeita ao capítulo VIII da ‘Amoris Laetitia’.
A nova carta pastoral confirma, agora, que o tratamento destas situações deve seguir as orientações da Exortação apostólica do Papa Francisco e de cada bispo diocesano.
“Se, porventura, apesar do sofrimento e dos esforços feitos para a reconciliação, a complexidade da situação tornar inevitável o fracasso do matrimónio, é importante saber que o caminho da Igreja continua a ser o caminho de Jesus, o caminho do acolhimento, da misericórdia e da integração”, realça a CEP.
Assim, enquanto batizados e membros da Igreja, não devem considerar-se condenados ou separados da mesma Igreja. Através de um discernimento pessoal e pastoral em cada caso e dando espaço à consciência de cada um, os interessados devem ser ajudados a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial”.
A CEP convida os casais católicos a assumir, em consciência, um compromisso “irrevogável”, na “complementaridade masculino-feminino”, realçando a importância de uma preparação para o casamento “séria e profunda”, em vez de apenas algo “restringido a um momento específico da vida”.
“A experiência evidencia que, muitas vezes, a preparação imediata dos noivos é manifestamente incompleta ou muito condicionada pelas circunstâncias próprias de toda a preparação para o dia do casamento”, admitem os bispos católicos.
A carta propõe uma “pastoral do namoro” que envolva catequistas, líderes de grupos de jovens, promotores vocacionais e demais agentes, esperando ainda que a preparação imediata seja feita com “nova vitalidade”.
A preparação dos noivos deve primeiramente sublinhar a beleza do matrimónio como autêntica vocação que conduz à felicidade mútua. Mas deve também alertar para a possibilidade de o deslumbramento ou a paixão inicial tenderem a relativizar dificuldades ou divergências que, nalguns casos, podem revelar autênticas incompatibilidades”.
A este propósito, é referida a “grande contribuição” dos Centros de Preparação para o Matrimónio (CPM) em Portugal e de outras propostas que adaptam a mesma metodologia de partilha de experiências.
Os bispos desejam que as comunidades católicas acompanhem os casais nos seus primeiros anos de vida em comum, uma “descida à vida real”.
“Numerosos estudos referem que os casais felizes se distinguem dos infelizes pelo modo como vivem a sua relação em áreas cruciais. Eis algumas: relacionamento ao nível sexual, atividades de lazer, relação com a família e amigos, situação financeira e gestão das economias, modos de viver a fé. Mas, na prática, há um fator base que pode tornar uma relação feliz ou infeliz: a comunicação ou a falta dela”, realça a carta ‘A alegria do amor no matrimónio cristão’.
O documento, disponível online, destaca ainda a importância da oração e o contributo da espiritualidade conjugal e familiar.
OC