Homilia do Bispo de Santarém na Vigília Pascal

Irmãos e irmãs, e catecúmenos.

Alegremo-nos nesta Noite de Vigília em honra de Cristo Ressuscitado!

 

Vigília Pascal, a Noite da Luz

Na Vigília Pascal, a grande celebração do Tríduo Pascal, começa com as velas acesas. Deste modo nos indica aquela atitude de vigilância daqueles que esperam a vinda do seu Senhor. O lume novo para acender o Círio pascal e a própria luz nos indica o princípio da vida e a nova criação com a Graça do Espírito Santo.

A aclamação inicial “Eis a Luz de Cristo” aponta para Cristo Ressuscitado, vencedor das trevas e Luz do mundo. O Precónio Pascal canta a beleza desta Noite bendita, com uma luz fulgurante. Noite em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, se levantou glorioso do túmulo. (…). Noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus.

Depois, certos da Luz da Ressurreição de Cristo, com abundância das Leituras bíblicas e o canto dos salmos,  vamos saboreando a maravilhas das intervenções de Deus na História, até chegarmos ao grande acontecimento que é Jesus Cristo e a sua Páscoa. Aumenta a Luz e a alegria, não apenas por ser mais bela a liturgia, mas porque corresponde àquela verdade cristológica que deu origem ao tempo novo da Igreja: Cristo, o Senhor, Ressuscitou verdadeiramente.

Temos como lema neste ano missionário: “Ser Luz do mundo e Sal da terra”. A celebração da Páscoa constitui nova exortação para assumirmos a vida com este alcance: iluminar, ver, conservar e dar sabor à vida.

 

Vigília Pascal, a Noite da Libertação

          A Páscoa antiga dos hebreus celebrava a libertação do Egito. Em Jesus é a libertação de todas as escravidões, por isso, o consideramos nosso Libertador, porque nos recupera, purifica e nos liberta do que nos oprime e rouba a alegria de viver.

Os hebreus, conduzidos por Moisés, como ouvimos no Livro do Êxodo, tinham uma nuvem de fogo para os guiar na libertação do Egito. Nós, conduzidos por Cristo, temos a Luz da Fé que nos acompanha sempre no sentido da libertação do mal, e temos também um estandarte comum que não dispensamos: é a cruz gloriosa do Senhor. Mesmo em tempo pascal a cruz do Senhor recorda-nos com quanto amor o Senhor nos libertou e liberta.

Também no nosso tempo existem novas formas de escravatura que envergonham o sentido da civilização humana. Também para as escravaturas sociais e familiares do mundo atual, Cristo é libertação pois o seu Evangelho suscita outro olhar, outra atitude e solução verdadeiramente humanizantes.

Mas a maior escravidão era a do poder da morte. A morte encerrava para sempre, e estranhamente, o destino da vida humana. Jesus é o nosso Salvador porque morreu mesmo, conheceu o poder da morte, superou-o saindo vitoriosamente do sepulcro. Enche-nos de esperança, a Luz da fé no Senhor Ressuscitado.

 

Vigília Pascal, e a Nova criação

A Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo que a Igreja, Povo de Deus, celebra tão solenemente, é a Páscoa que liberta e dá origem a nova vida.

A primeira Leitura que ouvimos, do Livro do Génesis, leva-nos à contemplação da criação operada por Deus e como o homem e a mulher se situam no projeto criador de Deus: eles são o centro e a razão de ser de todas as coisas criadas. “Deus viu o que tinha feito: era tudo muito bom”. E é isto que se perdeu e Jesus quer recriar. Deus quer que a Humanidade corresponda  ao seu projeto inicial e Jesus tudo fez e tudo deu para recriar a pessoa humana.

Diz o Evangelho que as mulheres foram ao sepulcro com perfumes, encontraram a pedra do sepulcro removida e não encontraram o corpo do Jesus. Estando elas perplexas com o sucedido, apareceram-lhes dois homens com vestes resplandecentes que disseram: Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?

É a mensagem do céu a explicar que estamos perante uma nova realidade, um novo tempo; Aquele que foi sepultado já não está sujeito à limitação humana. A Ressurreição é uma afirmação da Fé. O Senhor Ressuscitou, não para a vida humana anterior,  mas para assumir à direita do Pai o seu lugar de Senhor da História. Com a sua ressurreição o Senhor Jesus colocou a natureza humana na esfera da natureza divina. No Natal afirmamos a humanização de Deus, na Páscoa afirmamos a divinização do Homem. Mas o Senhor não nos abandonou, deu a vida na cruz e ressuscitou também para os seus Apóstolos e discípulos de todos os tempos, para com eles formar a sua Igreja e derramar sobre ela o dom do Espírito Santo prometido.

Caríssimos irmãos, anunciar a Ressurreição do Senhor Jesus e afirmar à luz da Fé, “creio na Ressurreição dos mortos”, é das mais estrondosas afirmações da Fé da Igreja. Estamos a afirmar que Jesus transformou a morte num nascimento, da morte surgiu uma nova vida. Estamos a afirmar que a Ressurreição do Senhor nos atinge e que o nosso corpo, ainda que mortal, tem assegurado que, do pó da terra ou das cinzas, será retomado para também participar na glória de Deus.

Esta verdade da Fé da Igreja não assusta, enche-nos de esperança e de alegria, porque o Senhor Ressuscitado abre-nos a um horizonte de eternidade, para nós desconhecido, mas que se nos afigura cheio de luminosidade e de festa.

A alegria desta noite santa da Páscoa do Senhor, corresponde a uma graça espiritual, porque a nova criação tem a ver com a vida, com o tempo e a terra onde vivemos. A vida humana ganha a beleza da luz da Fé e do amor fraterno, o horizonte antecipa-se e, assim, estando ainda na terra, já convivemos com os santos do céu e os evocamos como nossos intercessores. É esse o sentido das Ladainhas que vamos rezar, dos sacramentos que vamos celebrar na vida dos nossos Catecúmenos e da renovação das promessas do Batismo que faremos na alegria do dom de Deus.

Entremos na alegria do Dia que o Senhor fez. Aleluia!

D. José Traquina, Bispo de Santarém

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