LUSOFONIAS – Voluntários com Missão

Tony Neves

Conheci a Joana Pedro há muitos anos, nos Jovens em Fronteiras. Habituei-me à sua alegria e irreverência que também levou até às periferias pobres e violentas (mas muito queridas e cheias de gente boa) do Rio Janeiro, aquando da ‘Ponte’ que os JSF ali realizaram. Foi um momento muito forte na história deste Movimento Missionário, uma vez que nos levava a atravessar o Atlântico pela primeira vez. Ali a Joana testava a força das asas para ver se conseguiria um dia voar mais alto!

E voou. Não só um mês de Ponte, mas um ano de Voluntariado Missionário. Um ano de preparação intensa dava-lhe a confiança para levantar âncoras e partir. Itoculo seria a terra dos seus sonhos e o povo dos seus amores para um ano e para sempre. Quando decidiu abrir as primeiras páginas de um blog, agora transformado em livro, a Joana não imaginava a alegria desta Missão e o crescimento de alma que ela lhe traria à vida.

Percorrer, um a um, os textos é quase aceitar que a Joana nos faça uma visita guiada ao seu coração e à Missão que ia desenvolvendo numa terra pobre, uma ‘periferia e margem’, como lhe chamaria hoje o Papa Francisco.

A Missão de Itoculo é das mais emblemáticas que conheço. Tem Padres, Irmãs e Leigos. Tem muitas dezenas de comunidades espalhadas pelo interior daquele município, no norte de Moçambique. Tem desafios enormes nas áreas da pastoral, da educação, da saúde, do desenvolvimento integral. Tem agora um centro de nutrição, uma creche, escolas comunitárias, um centro pastoral, um lar para meninas e outro para rapazes… para que a Escola possa ganhar espaço na vida daqueles jovens. A Joana chegou, viu e foi completamente vencida por aquele povo sempre de braços e sorrisos abertos, apesar da pobreza a que é votado.

‘Até um dia’ é um livro que agora surge onde a autora conta os sentimentos vividos nos muitos dias deste lendário 2008 que tatuou a vida da Joana. Fala da força e da importância do Voluntariado Missionário como uma das expressões mais extraordinárias de uma solidariedade sem fronteiras.

A ‘marca’ desta missão é tão profunda que os tempos que se seguiram a Itoculo foram vividos, já em contexto Professional (falamos de uma Engenheira do Ambiente), noutras paragens de Moçambique e na África do Sul.

Quando partimos para uma terra como Itoculo choramos duas vezes: à chegada e à partida. Assim aconteceu com a Joana e até lhe vejo as lágrimas nos olhos quando, na hora da despedida, lhe vieram oferecer ovos e papaias maduras para trazer para Portugal. Os leitores não imaginam, mas estes eram os bens mais preciosos que as pessoas tinham e, assim, deram o melhor de si, como gesto de profunda gratidão, num gesto que transborda ternura.

Obrigado, Joana, pela excelência do teu testemunho que servirá de ‘empurrão’ a quantos o lerem. Não creio que nenhum dos leitores fique indiferente ao amor que pões nas narrativas que fazes, nas pessoas que evocas, no povo que abraças e que te acolheu.

O Voluntariado Missionário provoca uma ‘revolução silenciosa’ nas comunidades e famílias donde saem os Voluntários. Que o digam a Dina e o Zé Pedro, pais da Joana, no texto tão belo que escrevem neste livro. É dos sinais mais promissores de uma Igreja em saída, sem fronteiras, missionária.

 

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Agência ECCLESIA

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