8 mil mortes na busca de um sonho

V Fórum Migrações da Caritas Europa homenageou os migrantes que faleceram ao tentar chegar à Europa Representantes de várias confissões religiosas e membros das Cáritas de diversos países reuniram-se ontem na Caparica para lembrar todos aqueles que morreram no mar, no deserto e nas montanhas ao tentar chegar à “Europa fortificada”. A cerimónia, integrada no V Fórum Migrações da Caritas Europa, que decorre de 20 a 22 de Setembro, teve como lema “Morrer de Esperança”, sendo dedicada ao silêncio, à memória e à oração “ao Deus que abate todas as fronteiras”. Calcula-se em 8000 o número de mortes ocorridas desde 1988, das quais 6078 afogadas no Mediterrâneo e Atlântico, com 2785 corpos que nunca foram encontrados. Em declarações à ECCLESIA, o Pe. Rui Pedro, missionário Scalabriniano e antigo director da Obra Católica Portuguesa de Migações, sublinha que a cerimónia quis “lembrar os imigrantes que morrem um pouco por todo o mundo”, fazendo ainda memória de um passado em que, por exemplo, muitos portugueses morreram “ao tentar atravessar os Pirinéus”. A dimensão ecuménica e inter-religiosa desta celebração quis expressar uma vontade de trabalhar em conjunto pela paz, “um sinal de desenvolvimento”, e dar respostas conjuntas perante a “discriminação religiosa” de algumas comunidades migrantes. Com esta iniciativa, a Cáritas quis lembrar que os imigrantes e refugiados são vítimas das redes criminosas de trafico de pessoas “devido às leis restritivas e repressivas da União Europeia que não facilitam os canais legais para emigrar”. “São também vítimas de naufrágios, de travessias no deserto do Saara, de campos fronteiriços minados, de conflitos com forças policiais, de transportadores mafiosos em camiões ou comboios fatais”, refere um comunicado da organização católica. A escolha da Caparica, como sublinha o Pe. Rui Pedro, ficou a dever-se a dois motivos: o facto de ser, hoje em dia, a “capital” dos brasileiros em Portugal e, sobretudo, por ter sido o local onde se deu o único caso de morte de imigrantes a tentarem chegar ao nosso país, quando do céu caiu o corpo de um africano que tinha procurado esconderijo no trem de aterragem de um avião. “Gostaríamos de fazer memória destas oito mil pessoas, pensando nas suas famílias, procurando provocar todos os participantes: não podemos esquecer, nas grandes reflexões, nas grandes palavras, que hoje há um exército de desesperados que quer entrar na Europa”, indica.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top