É preciso que a Concordata seja regulamentada para que se concretizem as possibilidades de actuação de cada culto nos hospitais, considera o Bispo do Porto
O Hospital de S. João, no Porto, assinalou a 24 de Junho o seu cinquentenário. A ligação à Igreja Católica, que remonta ao início da instituição, foi recordada nas entrevistas que o bispo diocesano, o capelão e o presidente do Conselho de Administração concederam ao ECCLESIA.
Para D. Manuel Clemente, que presidiu à missa, a importância deste estabelecimento hospitalar para a acção da Igreja reside no facto de ser um importante lugar de encontro para grande parte da população da diocese.
Depois de referir a capacidade manifestada pelo hospital, desde a sua fundação, para acolher e respeitar as presenças e pertenças religiosas, o bispo do Porto saudou a "belíssima pastoral" desenvolvida pelo capelão, padres e voluntários que colaboram na Capelania, tendo considerado "exemplar" a acção do corpo clínico, tanto a nível médico como religioso.
Um apoio para todos os que passam pelo "deserto da doença"
Apesar de a maioria dos utentes do hospital ser católica, o diálogo ecuménico é outra das prioridades pastorais. A acção precursora da Capelania, que tem sido reconhecida por várias igrejas cristãs, criou um dos mais importantes espaços ecuménicos em Portugal. O Pe. José Nuno (na foto) tem igualmente procurado estabelecer parcerias com as comunidades islâmica e judaica do Porto.
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração, considera que o hospital é um lugar "onde a expressão da vida humana é global", desde o nascimento até à morte, pelo que é necessário assegurar "a pluralidade da prática religiosa responsável".
O capelão pretende que cada pessoa que "passa pelo deserto da doença" tenha garantido o acompanhamento da comunidade espiritual a que pertence. D. Manuel Clemente referiu que se sente "um ambiente muito favorável para uma resposta global às necessidades das pessoas" e que a instituição é um bom exemplo do acolhimento religioso que deve ser garantido nos estabelecimentos hospitalares públicos.
Uma parceria cinquentenária
A presença de um capelão no hospital foi salvaguardada ainda antes do início da construção, devido à amizade entre o presidente da comissão instaladora, Hernâni Monteiro, e D. António Ferreira Gomes, na altura bispo do Porto.
"Um homem de quem tudo o que se diga é pouco"; é desta forma que o Pe. José Nuno classifica a acção do primeiro sacerdote ao serviço da Capelania, Pe. Álvaro Guedes de Carvalho.
Para o actual capelão, a "história cheia de singularidades" do hospital e da capelania contribuiu para a riqueza artística da capela. O sacrário foi concebido pela mesma pessoa que desenhou o hospital, tendo sido construído nas suas oficinas. A imagem de Cristo, por seu lado, é a cópia em pedra de ançã de uma das peças mais valiosas da diocese, cujo original está na sacristia da Igreja dos Grilos. Sem esquecer os vitrais, "magníficos".
Regulamentação da Concordata
Permitir que num estabelecimento hospitalar sejam supridas as necessidades religiosas nas devidas condições, é uma das razões que D. Manuel Clemente apontou para que a Concordata seja regulamentada.
"Não basta dizer que há uma possibilidade genérica [de assistência religiosa]; também tem que haver uma possibilidade concreta para cada culto", que, "numa sociedade como a nossa, portuguesa e nortenha, é quase totalmente católico", afirmou o Bispo do Porto.
A necessidade de salvaguardar a presença da Igreja e das confissões religiosas nos hospitais foi também mencionada pelo Pe. José Nuno: "Hoje, só mesmo quem for muito retrógrado é que pode pôr em causa a afirmação de que não é antropologicamente aceitável prestar cuidados de saúde sem garantir a assistência espiritual e religiosa".
O capelão do Hospital de S. João está convencido que a regulamentação acontecerá em breve: "suponho que estamos prestes a ter novidades". "Já que a discussão começou no início da legislatura, seria bom que a pudéssemos concluir no seu termo."
Ligação:
Capelania do Hospital de S. João