48.ª Peregrinação Nacional do Rosário e da Família Dominicana

Homilia de D. José Pedreira, Bispo de Viana do Castelo 48.ª Peregrinação Nacional do Rosário e da Família Dominicana ao Santuário de Fátima 27 e 28 de setembro de 2003 Tema: “Pregar com o Rosário” 1. Pela quadragésima oitava vez, a Família Dominicana promove uma peregrinação nacional do Rosário ao santuário de Fátima. Ao fazê-lo estão a manifestar a sua fidelidade ao dom ou carisma que receberam do seu Fundador, S. Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Padres Pregadores e das Irmãs Dominicanas. Por inspiração e impulso da Rainha do Céu – estávamos nos inícios do século XIII – foi-lhe concedida a revelação da eficácia do Rosário, que ele utilizou como arma poderosa para combater as heresias; grande devoto de Nossa Senhora e amigo de S. Francisco de Assis, viu-se integrado com eles numa visão sobrenatural em que Jesus Cristo os apresentava como setas divinas arremessadas para a conversão do mundo. S. Domingos foi “tocha” de luz para a conversão de muita gente, particularmente dos que tinham caído na heresia dos chamados albigênses ou cátaros, origem de sangrentas guerras religiosas. 2. Mas esta peregrinação está também profundamente de acordo com a mensagem da Carta apostólica sobre o Rosário da Virgem Maria, que o actual Papa João Paulo II nos dirigiu, em 16 de Outubro de 2002. Nela o Santo Padre proclamou um Ano do Rosário, que se prolongaria de Outubro de 2002 a Outubro de 2003. Recordemos as suas palavras: “Desejo que esta oração (referia-se ao Rosário) seja especialmente proposta e valorizada nas várias comunidades cristãs durante este ano. Proclamo, portanto, o período que vai de Outubro deste ano até Outubro de 2003 Ano do Rosário. “A história do Rosário – oração cuja estrutura foi elaborada ao longo da Idade Média – mostra como esta oração foi utilizada, especialmente pelos dominicanos, num momento difícil para a Igreja por causa da difusão da heresia (dos albigenses). Hoje encontramo-nos diante de novos desafios. Porque não tomar na mão o Terço como os outros que nos precederam? A oração do Terço é indicada por Leão XIII como “instrumento espiritual eficaz contra os males da sociedade “. João Paulo II dá este convincente testemunho: O Rosário é a minha oração predilecta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. (…) Pode dizer-se que o Rosário é, de certo modo, um comentário prece do último capítulo da Constituição Lumen gentium do Vaticano II; capítulo que trata da admirável presença da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. (…) Põe-nos em comunhão viva com Jesus… 3. E para desfazer alguns mal entendidos, o Santo Padre adianta-se a responder a certas objecções, vindas dos espíritos menos conhecedores da fé cristã e das formas de a exprimir. E pergunta-se a ele próprio: – Constituirá ele (o Rosário) um obstáculo à centralidade de Cristo na Liturgia da Igreja, tão ressaltada pelo C. Vaticano II? E responde: “Não só não se lhe opõe, como lhe serve de apoio, visto que para ele nos orienta e introduz …” – Será pouco ecuménico, quer dizer, em pouca sintonia com as outras Igrejas cristãs, pelo seu carácter marcadamente mariano? E a resposta surge com toda a clareza: – Se adequadamente compreendido, o Rosário é certamente uma ajuda, não um obstáculo, para o ecumenismo, porque orientado ao centro cristológico da fé cristã: honrando a Mãe, melhor se conhece, ama e glorifica o Filho”. 4. Deste santuário de Fátima queremos proclamar a oportunidade e urgência do relançamento do Rosário nesta circunstância histórica por que estamos a passar. E isto, por duas razões principais: Primeiro porque importa invocar de Deus o dom da paz. O Rosário foi proposto, por diversas vezes na história da Igreja e do mundo, como oração da paz. Fizeram-no vários Papas, com maior insistência pelos quatro ou cinco últimos que presidiram aos destinos espirituais da Igreja. Como não voltar a fazê-lo no início deste novo milénio, particularmente depois do que aconteceu no 11 de Setembro, ou perante o sangue e a violência que lançam o sofrimento e a morte em tantas partes do mundo. É urgente invocar de Deus o dom da paz. E o Terço é oração da paz. Depois, é bom reconhecer que não é só a paz que está em risco. Que dizer da família! Não está esta «célula da sociedade» cada vez mais ameaçada por forças desagregadoras a nível ideológico e prático, que fazem temer pelo futuro desta instituição fundamental e imprescindível da sociedade? Os temores que nos assaltam pelo fracasso da instituição familiar é simultaneamente o que temos pela sorte da sociedade inteira. Por isso, o Santo Padre não hesita em dizer que «o relançamento do Rosário nas famílias cristãs, no âmbito de uma pastoral mais ampla da família, propõe- se como ajuda eficaz para conter os efeitos devastantes desta crise da nossa época» . Pio XII escreveu: «Para levar a cabo empresa tão difícil como é reconduzir a família à lei do Evangelho, um dos meios mais eficazes é a reza do terço em família» . 5. É com este espírito que vos proponho acolher a mensagem da palavra de Deus proclamada nesta celebração. Importa que os cristãos, todos os cristãos, sejamos anunciadores destes valores evangélicos, sejamos profetas, falemos em nome de Deus, como Moisés dizia a Josué: «Quem dera que todo o povo de Deus fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre ele» .Nem devemos ficar com ciúmes ao verificar que outras personalidades, por vezes estranhas às nossas comunidades cristãs, e até figuras públicas de relevo, venham defender, quantas vezes com maior veemência do que nós, estas mesmas verdades da paz e da família. O mesmo pensamento é repetido por S. Marcos no evangelho, através das palavras dirigidas ao apóstolo João que se sente incomodado por encontrar um estranho a agir em nome de Deu: «Não o impeçais de expulsar o demónio em meu nome(por ele não ser do vosso grupo) porque …quem não é contra nós é por nós». Mas vai mais longe: «quem praticar uma boa acção, nem que seja dar a beber um copo de água, por ser de Cristo, não perderá a sua recompensa» . Se merecem louvor as acções boas, as más merecem do apóstolo uma rejeição total. E fá-lo com palavras duras, fortes, incisivas, particularmente ao referir-se aos que provocam escândalo nas almas inocentes, nos mais pequeninos do reino, nas encantadoras crianças. Ah, caríssimos peregrinos, quem nos dera que estas palavras fossem escutadas e acolhidas por todos os seres humanos. Estamos cheios e saturados de escândalos, e de escândalos que ofendem as crianças. Porquê? Será apenas a fragilidade humana, o descontrolo das paixões da carne? Não será também a cobiça do dinheiro, do oiro e da prata de que nos falava o apóstolo S. Tiago ao gritar: «Ai de vós, os ricos, porque as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. A ferrugem do vosso oiro testemunhará contra vós no dia do Senhor» . 6. Caríssimos peregrinos, foi neste local que a Virgem e Senhora de Fátima pediu . orações e sacrifícios pelos pecadores, pela paz no mundo, pelas famílias. Foi neste lugar que nos recomendou, mais uma vez como o tinha feito já a S. Domingos a recitação do Rosário ou do Terço. Os Pastorinhos entenderam a mensagem e transformaram as suas vidas tornando-se apóstolos da oração do Terço. Façamos nós também o mesmo. + D. José Pedreira Bispo de Viana do Castelo

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