40 anos de casamento com a «Humanae Vitae»

«Algumas referências desta Encíclica foram muito importantes ao procurarmos a construção da vida em casal» Casámos faz agora exactamente 40 anos. Recordamos que esta encíclica provocou naquela época uma enorme celeuma e algum afrontamento com as chamadas alas progressistas dentro da Igreja, que esperavam que este documento viesse ratificar a utilização livre das denominadas, e então recentes, pílulas anticoncepcionais, e que, ao invés, veio proclamar os métodos naturais como os que traduzem o plano de Deus para o casal, na construção do seu amor e da sua vida de família. Olhando de novo para este documento tão marcante na vida dos casais cristãos, constatamos, a par de uma linguagem hoje já fora de época, uma antevisão de novas realidades sociais que todos conhecemos do nosso quotidiano: O desenvolvimento demográfico Novas condições de trabalho e habitação Novas exigências económicas e de educação O novo lugar da mulher na sociedade A valorização do amor conjugal e a importância da relação física para alimentar o amor. A “Humanae Vitae” defende uma visão integral do Homem que transcende e integra as suas dimensões biológica, psicológica, demográfica ou sociológica, e o entende na sua vocação natural e terrena mas também sobrenatural e eterna. Considera, pois, que deverá ser nesta perspectiva entendido o conceito de “paternidade consciente e responsável” expresso pelo Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”. Consideramos que algumas referências desta Encíclica foram para nós muito importantes ao procurarmos a construção da nossa vida cristã em casal: “que o matrimónio foi instituído por Deus para realizar na humanidade o seu desígnio de amor”, que este amor proposto para a vida do casal deve ser “total, fiel, exclusivo e fecundo” – e ser fecundo, dar fruto, não se restringe ao plano da fecundidade física – apontando como aspectos fundamentais e inseparáveis do acto de amor o plano unitivo e o plano de abertura à vida. Isto significa, para nós, que esta Encíclica veio atribuir à vida conjugal um valor e um cuidado que não estavam antes tão claramente explicitados. De facto, é preciso entender este documento como um conjunto de princípios que valorizam a relação do casal, sem o que é fácil cair na falta do respeito mútuo e do sentido das verdadeiras características do amor. O prazer e a liberdade, presentes na criação do Homem, são valores fundamentais e queridos por Deus para a realização da pessoa humana, mas não são em si mesmo valores absolutos, antes orientados para a construção do bem e da relação com o outro, numa vida em sociedade. É curioso notar que uma das advertências lançadas por Paulo VI neste documento era o perigo das autoridades imporem métodos de redução da natalidade. Veja-se o que tem sido ao longo dos anos a prática generalizada dos Centros de Saúde e a situação demográfica em que nos encontramos. A “Humanae Vitae” lançou ainda um conjunto de desafios: – Aos governantes para que a solução do problema demográfico seja uma correcta política familiar; – Aos médicos e homens da ciência para avançarem no conhecimento da fisiologia; – Aos Bispos, com os sacerdotes, que trabalhem com afinco e sem tréguas na salvaguarda e na santificação do matrimónio, considerando esta como uma das suas responsabilidades mais urgentes e envolvendo uma acção pastoral coordenada em todos os campos da actividade humana, económica, cultural e social. – Aos esposos cristãos para que sejam capazes de responder no amor e na verdadeira liberdade aos desígnios de Deus. – A uma nova forma de apostolado de família a família, de casal a casal, no sentido do apoio e entreajuda a uma vivência do amor conjugal como caminho de felicidade e santidade. Todos reconhecemos o avanço que se verificou, particularmente em alguns destes domínios. Os métodos denominados naturais, correctamente utilizados, são hoje rigorosos e eficazes. Mas os desafios mantêm-se actuais e a cada um de nós compete contribuir com alguma resposta, na sua vida, no seu meio, a estes apelos, começando pela reflexão quanto à forma como entendemos este mistério de um amor apesar de tudo finito, que deseja projectar-se numa dimensão infinita que só encontra em Deus. Talvez continue a ser, para todos os casais, este o maior desafio. Para nós, 40 anos depois, o desafio mantém-se. Graça e Bernardo Mira Delgado

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