25 de Abril: «Voz Portucalense» recorda celebração do fim da ditadura

Germano Silva evoca intervenções e vigilância da censura

Porto, 22 abr 2024 (Ecclesia) – O semanário da Diocese do Porto, ‘Voz Portucalense’ (VP), fez eco da celebração do fim da ditadura, em 1974, após anos marcados por várias intervenções da censura, no Estado Novo.

“Movimento das Forças Armadas. À hora em que fechamos este número de VP, 5.ª feira de tarde, dia 25 p.p., ainda não conhecíamos claramente os factos em causa no movimento político que, nesse dia se gerou, para podermos informar o nosso público, de acordo com a projecção que os acontecimentos, naturalmente, merecem”, referia a edição de 27 de abril de 1974.

Manuel Correia Fernandes, diretor da VP, assina um artigo sobre a forma como o semanário noticiou a revolução, há 50 anos, destacando o número 4 de maio de 1974, com o título ‘25 de abril – Esperança de dias diferentes’.

“A população aderiu em massa, retribuindo com flores o cavalheirismo dos militares e o silêncio das armas que felizmente não abriram fogo”, podia ler-se.

O editorial desse número, após as manifestações do 1.º de maio, sublinhava que “a metálica ditadura salazarista-caetanista tinha os pés de barro”.

“Tinha as armas, mas não tinha as almas. E as armas sozinhas de nada servem. A alma do povo estava contra, a alma do exército também. Sem perda de sangue, sem alarido, sem perturbação da vida quotidiana, em poucas horas desabou um regime construído ao longo de mais de quarenta anos. Uma das melhores a coisas que uma ditadura pode fazer é morrer a tempo”, indicava a publicação.

A publicação incluiu ainda uma mensagem assinada pelos Bispos António [Ferreira Gomes],  e Domingos [de Pinho Brandão], então bispo auxiliar, sob o título ‘A Voz da nossa Igreja’: “A hora que vivemos é sem dúvida das mais altas, mas também certamente mais grave da nossa história. Como cristãos, portugueses e portucalenses, sejamos dignos desta hora!”.

O atual diretor do semanário sublinha que este número inseria ainda uma “nota simbólica”: De 3 de janeiro de 1970 a 27 de abril de 1974, publicámos 225 números de VP sujeitos, sem exceção, aos espartilhos, arbitrariedades e discriminações da Censura – Exame Prévio. Este é o primeiro número sem censura”.

“Esta última afirmação poderia levar-nos ao percurso dos 225 números anteriores, e como neles se exerceu a ação da censura. Mas sobretudo, verificar o universo dos temas de valor humanístico, teológico e cultural que preenchiam o conteúdo do semanário, que lhe valia também essa atenção privilegiada da verificação censória”, destaca o padre Manuel Correia Fernandes.

O jornalista Germano Silva, que trabalhou para a VP neste período, recordou, na apresentação do ‘25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições’, que a ‘Voz Portucalense’ era um “elemento muito importante da resistência” e foi “o jornal mais vezes castigado” com a obrigação de ir à censura com “provas de página”.

“Nós tínhamos a censura e tínhamos o receio de não saber com quem estávamos”, apontou.

A obra é publicada no âmbito das comemorações dos 50 anos da democracia em Portugal, com coordenação científica do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) e edição da ECCLESIA.

Germano Silva evocou o “movimento” que se criou no Porto, em volta da figura do bispo diocesano, D. António Ferreira Gomes, exilado na Diocese de Valência (Espanha) de 1960 a 1963.

“A liberdade passou também aqui, pela Igreja”, sustentou.

OC

25 de Abril: «Esta data é oportunidade para fazermos memória, mas é também a ocasião para se estabelecerem compromissos» – D. Joaquim Dionísio (c/vídeo)

 

 

 

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