25 de Abril: «Rutura do regime corresponde a um longo processo de mutação na consciência da sociedade portuguesa» – António Matos Ferreira (c/vídeo)

 

Historiador coordena projeto promovido pela Universidade Católica Portuguesa sobre revolução de 1974

Foto: DR

Lisboa, 24 abr 2022 (Ecclesia) – O Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (UCP) está a promover o projeto ’25 de Abril: Permanências, ruturas e recomposições’, que visa estudar o processo democrático em Portugal, 50 anos depois.

“Nós pretendemos perceber o que é que esteve em jogo, em diferentes aspetos no 25 de Abril mas, para isso, temos de recuar, compreender, e uma das coisas, em que as pessoas estão de acordo e que existia um bloqueio na sociedade portuguesa, isso afetava profundamente o regime político da época: era a guerra colonial mas não era simplesmente o problema da guerra, era também a perceção que existia e dividia a sociedade”, explica o investigador responsável pelo projeto, António Matos Ferreira, em declarações à Agência ECCLESIA.

O projeto tem o tema “Cidadania, democracia e reformismo” e António Matos Ferreira aponta a necessidade de estudar, 50 anos depois, “o que se conhece e o que não se sabe”.

“O que deu estofo ao que foi a rutura do regime corresponde a um longo processo de mutação na consciência da sociedade portuguesa e a guerra é um fator importante de aceleração disso”, precisa.

Segundo o historiador da UCP, neste projeto pretende-se estudar o processo societário e mental, ocorrido entre 1968 e 1976 e marcado por mutações internas e externas, correntemente denominado como sendo o “da primavera marcelista à democratização”.

Na época, também a Igreja Católica quis o seu espaço de ação, mas com dificuldades em libertar-se do controlo central.

“O grande problema foi quando começa a haver em setores importantes, clero e leigos católicos, que desajustam essa relação, isso é muito acelerado pelo II Concílio Vaticano”, recorda o investigador.

António Matos Ferreira refere ainda as expetativas dos católicos e “algumas convulsões” onde se puderam vivenciar as divisões e permitiu “criar alguns espaços de legitimidade a alguns católicos que se assumiam antirregime”.

“Muitos católicos entraram na política porque também estavam convictos de que o seu envolvimento correspondia a uma coerência cristã”, afirma.

Após o 25 de Abril, muitos dos que militavam nos círculos católicos ingressam nos sindicatos e forças partidárias, mas nalguns parece esmorecer esse raiz identitária que os tinha animado no passado.

O projeto que traz à memória as várias etapas no processo da democracia em Portugal é o mote do programa ’70×7′, deste domingo, na RTP 2, pelas 17h25.

HM/SN

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