25 de Abril: Protagonismo católico na transição democrática teve «circuitos diferentes de intervenção» – Pedro Silva Rei

Historiador sublinha necessidade de aprofundar estudos sobre o papel dos leigos

Lisboa, 06 abr 2024 (Ecclesia) – O historiador Pedro Silva Rei considera que a Igreja Católica, na transição democrática em Portugal, teve “variados protagonistas” e espaços de intervenção que devem ser estudados, sobretudo na área do laicado.

“Já na oposição do regime do Estado Novo, há modalidades diferentes e circuitos diferentes de intervenção”, disse à Agência ECCLESIA o investigador do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da UCP e do Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH.

O CHER e a Agência ECCLESIA vão publicar um livro intitulado ‘25 de Abril. Permanências, ruturas e recomposições”, que se desenvolve em quatro núcleos fundamentais – guerra, descolonização, democracia e desenvolvimento.

O entrevistado do Programa ECCLESIA deste domingo, na Antena 1 da rádio pública, identifica várias “dinâmicas de pluralidade política e de participação política”, no mundo católico em Portugal, com influências vindas de fora do país.

Para o especialista, “a evolução do pensamento teológico, por um lado, e do pensamento pontifício, também relativamente a estas matérias, vai ser absolutamente determinante para percebermos esse lento despertar de alguns setores do catolicismo”.

O entrevistado recorda que já nas eleições de 1969, há católicos que integram as listas da União Nacional e “os ditos católicos progressistas” a trabalhar e a candidatar-se na Comissão Democrática Eleitoral (CDE).

Pedro Silva Rei sublinha a necessidade de aprofundar os estudos sobre a “ação pastoral da Igreja nas suas várias dimensões e protagonismos”, bem como sobre “o modo como estes católicos, enquanto sujeitos históricos, intervêm no plano político”.

“Não estamos, de todo, a falar de um bloco unidirecional, uniforme, homogéneo e que muitas vezes é atravessado até por diferentes graus de pluralidade, de cissiparidade e até conflito”, prossegue.

O historiador lamenta que, no estudo sobre a história da Igreja, se siga ainda uma “abordagem muito hierarquizada, clerical e verticalista”, no que diz respeito à sua relação com o Estado Novo e o seu papel no pós-revolução de 74.

As relações Igreja-Estado depois de 25 de abril de 74, por exemplo, são “uma matéria que ainda está largamente por explorar”, particularmente depois de junho de 1975, “um período de crescente mal-estar entre a hierarquia eclesiástica e as autoridades políticas”.

“Mesmo no período mais quente, digamos assim, daquele verão, nunca houve por parte das autoridades eclesiásticas um desejo de rutura”, acrescenta Pedro Silva Rei.

O que nós temos depois do 25 de Abril é um sem número de católicos que vão assumir lugares de liderança a nível nacional em movimentos e partidos, da direita à esquerda, no hemiciclo ou fora do hemiciclo”.

Para o entrevistado, com esta intervenção política, os leigos católicos procuravam “transformar a sociedade, a partir de dentro”.

“É a partir daquilo que nós poderíamos chamar uma pluralidade de movimentos eclesiais, que vai nascer também uma pluralidade de modo de intervir politicamente”, acrescenta.

Pedro Silva Rei rejeita a leitura do 25 de Abril como “um empecilho” para a Igreja, por considerar que a revolução “vem potenciar todo um número de trânsitos ideológicos, de afirmações de protagonismos eclesiais e até de debates dentro da própria Igreja”.

Para o investigador, o processo democrático acompanhou “uma maior consciência eclesial e laical, mas também de vários confrontos de horizontes teológicos e eclesiológicos que precisam ainda de ser estudados”.

O programa ECCLESIA na Antena 1, vai apresentar a cada domingo uma entrevista sobre os 50 anos da revolução, a partir da obra publicada em conjunto com o CEHR da Universidade Católica Portuguesa.

OC

 

Igreja/Portugal: Novo livro aborda «permanências, ruturas e recomposições» do 25 de Abril (c/ vídeo)

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