24 horas num Mosteiro

17 pessoas viveram o desafio do silêncio e da vida monacal numa proposta do Secretariado da Pastoral das Vocações de Coimbra O silêncio tomou conta do Mosteiro de Celas em Coimbra. A proposta era, fazendo uma experiência de silêncio, passar 24 horas dentro do mosteiro, experimentando o ritmo quotidiano dos monges do mosteiro. Um desafio ousado, se pensarmos no mundo barulhento e cheio de informação que não abre espaço para ouvir os silêncio. Mais desafiadora foi a proposta quando dirigida a jovens. Mas surpreendentemente, assume Martinho Soares, do Secretariado da Pastoral das Vocações da Diocese de Coimbra, os jovens reagiram muito bem. A proposta foi iniciada com o visionamento do filme “O grande silêncio”, que ilustra a meditação silenciosa sobre a vida monástica no Convento da Cartuxa, nos Alpes franceses. O filme foi exibido já no próprio espaço do Mosteiro, conferindo uma extensão ao ambiente. “Parecia que o local físico onde estávamos era uma extensão do próprio filme”, traduz Martinho Soares. Todo o encontro foi acompanhado pela Irmã Miriam Godinho, Monja da Ordem de Cister da Estrita Observância, que conduziu toda a vivência espiritual e pontuou o encontro com vários momentos pedagógicos e “explicando a razão de determinados movimentos ou rituais”. Os 17 participantes deixaram-se levar pelos momentos de silêncio, mas não só, pois o tempo foi pautado pelas horas da liturgia. Ao longo de 24 horas vários foram os momentos onde os participantes se encontraram e rezaram juntos. Se inicialmente a organização receava uma proposta “demasiada ousada, rigorosa ou austera tendo em conta os ritmos e hábitos que temos”, o final mostrou que a experiência foi conseguida “em vivência espiritual e a aquisição de conhecimento sobre os mosteiros”. A partilha entre os participantes mostrou que a experiência foi rica, “muito profunda e sentiu-se um encantamento e deslumbre”, explica Martinho Soares. “Os jovens são mais ousados e mais exigentes do que muitas vezes possamos pensar”, avança Martinho Soares. A juventude procura o que é radical. Isso vale para desportos radicais mas também para as experiências religiosas. “Por vezes temos receio de lhes mostrar a pureza do Cristianismo e irmos à raiz quando eles, na realidade, aderem muito bem”, sublinha. Propostas mais radicais de experiências interiores vão proliferando nas actividades organizadas pelas dioceses. “Em campos de férias surgem sempre propostas de retiros e normalmente as reacções são muito positivas e com grande adesão”. Martinho Soares traduz este como “um sinal muito evidente de que os agentes pastorais deveriam apostar mais nestas actividades sem receios e medo de um mau acolhimento”. Ruben Fonseca, seminarista, realça a oração em grupo como das experiências mais fortes durante as 24 horas. “Um grupo que não se conhecia conseguiu formar uma comunidade orante”, explica. Não com a rigidez de um esquema monacal, “até porque eram apenas 24 horas”, mas, aponta o seminarista, “com uma partilha muito forte”. O seminarista viu esta proposta como uma “possibilidade de nos aventurar-nos no espírito de uma ordem monástica”. Ruben Fonseca, que tomou conhecimento desta iniciativa através do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações, salienta que “o silêncio é a experiência forte da presença de Deus”. O silêncio não se traduz numa solidão “isolante do mundo”, mas é antes “uma forma de estar no mundo”. Fora das paredes de um Mosteiro o silêncio não surge com tanta facilidade. Lá dentro “senti que todos estávamos na busca sincera de Deus”. Ruben Fonseca admite que “muitas vezes temos medo do silêncio porque somos bombardeados com ruído e imagens. A serenidade do Convento de Celas traduz um ambiente que remete para uma beleza incrível”. A proposta do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações de Coimbra encerra hoje com uma palestra sobre o silêncio que conta com a presença do Pe. Emanuel Matos Silva, da Irmã Miriam Godinho e de um Monge da Ordem de Cister do Mosteiro de Osera, na Galiza.

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