2005 em revista

Ano de grandes eventos eclesiais visto a partir de Roma Janeiro 2005 iniciou com a celebração do XXXVIII dia mundial da paz, á volta do tema não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com bem. A mensagem de João Paulo II partia de uma reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade individuais e projectava depois o principio sobre a dimensão social e comunitária, articulando um conceito de cidadania mundial estreitamente ligado com o conceito de destino universal dos bens da terra. As aplicações que daí derivam tocam evidentemente a agenda internacional sobretudo no que diz respeito ás decisões de caracter económico : acabar com barreiras e monopólios quando se trata de usufruir novos bens provenientes do progresso cientifico e tecnológico, uma maior regulamentação jurídica internacional como garantia dos bens públicos ( paz, segurança, ambiente saúde ) e a luta contra a pobreza segundo os chamados objectivos do milénio delineados pela ONU. O imperativo do dia mundial da paz e as interrogações suscitadas pelo tsunami que atingiu o sudeste asiático a 26 de dezembro de 2004 são retomados por João Paulo II no dia 10 de janeiro no discurso que dirige ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, na tradicional audiência do inicio do novo ano. O Papa sublinha o facto da comunidade internacional se encontrar diante de 4 desafios cujos símbolos são a vida, o pão, a paz e a liberdade ; eles reflectem a questão antropológica ligada ao inicio da existência : a injustiça económica que alimenta o ódio entre os povos, a questão da paz que se deve vencer com as armas da diplomacia e do direito e a da liberdade, da qual a liberdade religiosa representa o núcleo mais intimo, porque relativo á relação mais essencial do homem, a relação com Deus. Estão certos de actuar segundo as indicações e solicitações do Papa, aqueles cristãos que em representação da Caritas Internacional, das caritas dos vários países, da igreja local brasileira, de congregações religiosas e ONG ‘S participam de 26 a 31 de janeiro ao Fórum Social mundial (WSF) de Porto Alegre, no Brasil. Envolvida desde o inicio na WSF como plataforma de discussão económica e social tendente a mostrar a possibilidade de um mundo diferente a Igreja partilha os seus objectivos : opções concretas de participação democrática para um desenvolvimento humano solidário, sustentável, sem paternalismos culturais, alternativo não só ao neo-liberalismo mas também aos vários fundamentalismos de oposição á democracia. 2005 assinala em Janeiro os 60 anos da libertação dos prisioneiros dos campos de concentração de Auschwitz e mais adiante os 40 anos da promulgação da declaração Nostra aetate que de facto abriu caminho ao diálogo entre judeus e católicos. O Papa, que chamou os judeus « irmãos maiores » e depôs no Muro ocidental de Jerusalém o pedido de perdão da Igreja, pelo ódio, os actos de perseguição e as manifestações de anti-semitismo dirigidos contra os judeus por cristãos de todos os tempos e lugares » não podia deixar de sublinhar os dois aniversários ; fá-lo publicando uma mensagem, enquanto que no dia 25 o arcebispo Celestino Migliore intervém em nome da Santa Sé nas Nações Unidas. Fevereiro A preocupação pela saúde João Paulo II acompanhou de maneira continuada o seu pontificado desde 1994, ano da fractura do fémur. No inicio deste mês contudo inicia aquela dramática sequência de acontecimentos ligados à saúde de Karol Wojtyla que em menos de noventa dias o levará à morte, e à eleição de Bento XVI e que praticamente irá absorver em si, durante três meses, os acontecimentos mais salientes da actividade da Santa Sé. São dois os mais importantes actos oficiais tornados públicos no espaço de tempo que passa entre os dois internamentos de João Paulo II, o primeiro dos quais devido a uma gripe complicada com uma laringo-traqueíte aguda e crises de laringo-espasmo que o obrigará por isso a dar entrada na Policlinica Gemelli, visto que o Papa não conseguia respirar. O primeiro desses acontecimentos é a carta aos bispos da França por ocasião do centenário da aprovação da lei sobre as relações Estado-Igreja ainda hoje em vigor. Publicada no dia 12 de fevereiro desenvolve em sete pontos uma leitura da laicidade do estado em positivo como o âmbito para o diálogo construtivo no espirito dos valores da Revolução francesa. O segundo acto oficial é a carta apostólica « O rápido desenvolvimento » que celebra, embora tarde, o 40º aniversario do decreto conciliar Inter Mirifica dedicado aos meios de comunicação social, e que é apresentada no dia 21. O texto que fala de comunicação social tanto do ponto de vista cultural como teológico, confirma que a partir do Concílio se tornou mais positivo o olhar da Igreja sobre estes « maravilhosos » instrumentos, que nos últimos 40 anos ofereceram oportunidades crescentes à formação, participação e diálogo, embora persista ainda uma ambivalência de fundo que invoca um assumir de responsabilidades da parte dos cristãos para salvaguardar a centralidade da pessoa humana e da sua dignidade. O mês de fevereiro regista também a morte de duas personalidades da Igreja muito ligadas, por razões diferentes, a João Paulo II : a Irmã Lúcia, a última vidente de Fátima, no dia 13, e Mons. Luis Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, no dia 22.A primeira foi interlocutora vivente de uma devoção da qual o Papa foi testemunha explicita e singular, tendo lido em chave pessoal uma das visões da Irmã Lúcia e tendo-a ligado ao atentado que ele sofreu na Praça de São Pedro, a 13 de maio de 1981, tendo decidido torná-la pública a 13 de maio de 2000.O segundo é um daqueles homens de Igreja que depois do Concílio, para responder às exigências de renovação eclesial, inventeram novas formas de agregação, mais flexíveis, prevalentemente dirigidas aos leigos, e que encontraram uma grande estima em João Paulo II. A provar esta proximidade , está o facto de João Paulo II ter estado representado no funeral da Irmã Lúcia e de Mons. Giussani, na pessoa dos cardeais, Tarcisio Bertone em Portugal e Joseph Ratzinger em Milão. Março O internamento de João Paulo II até ao dia 13 assinala à Igreja e ao mundo a possibilidade da longa batalha do Papa com a doença ter entrado numa fase, para ele critica. Um facto que se pode observar com maior clareza quando após o regresso ao Vaticano, já não se pode ouvi-lo falar em público, não obstante as repetidas tentativas nesse sentido. Para de qualquer maneira se tornar presente na tradicional Via Sacra no Coliseu de Roma, no dia 25, as câmaras da televisão mostram-no ao mundo inteiro, de costas, na sua capela privada, tendo à sua frente um grande ecrã televisivo que lhe restitui as imagens da procissão guiada pelo cardeal Camillo Ruini e as palavras das meditações escritas, a seu pedido, pelo Card. José Ratzinger. À parte esta da Sexta Feira Santa, assiste-se a uma série de aparições « mudas » da janela dos seus aposentos no Palácio Apostólico, quando qualquer tentativa de articular a palavra se resolve num suspiro, e não lhe resta senão o gesto da mão direita que abençoa ou que cobrindo o rosto manifesta todo o seu abatimento. Assim, no dia 20, Domingo de Ramos, quarta feira dia 23 e ainda no dia 27, Domingo de Páscoa ( 13 minutos com nas mãos o texto da sua mensagem pascal que na Praça de S. Pedro é lida pelo cardeal Secretario de Estado Angelo Sodano) e finalmente quarta feira dia 30 : uma imagem aflitiva que todos os noticiários televisivos e os jornais publicam na primeira página e que permanece a última que temos do Papa vivo. No dia seguinte pouco depois das 11 horas, o Papa, na capela para a celebração da Santa Missa é colhido por um arrepio devastador, ao qual se segue uma subida de temperatura com febre a 39,6º. É uma complicação, bastante temida para os doentes como ele, uma infecção das vias urinárias, com gravíssimo choque séptico e colapso cardio-circulatório. Mas não se decide pelo terceiro internamento no arco de dois meses : João Paulo II manifesta a vontade de permanecer na sua habitação. Para a opinião pública é o sinal inequívoco do aproximar-se da sua morte , e o mesmo se diga para o Papa, que manifesta a decisão exemplar de querer morrer em sua casa. Abril Alimentada por um excepcional trabalho dos serviços de informação do Vaticano, e lançada na evidente espera da notícia, daquela única noticia que se sabia teria chegado brevemente, repentinamente coloca-se em movimento uma gigantesca maquina informativa que as grandes agencias, as redes de televisão internacionais e os maiores diários tinham preparado desde há anos. O dia 1 de abril, com três declarações do director da Sala de Imprensa da Santa Sé, vê o Papa sempre consciente, concelebrar a Santa Missa, seguir a leitura da Via Sacra, rezar a Liturgia das Horas, receber os colaboradores mais estreitos. È muito sereno. Mas à noite as suas condições gerais e cardio-respiratorias agravam-se ulteriormente ao ponto que se difunde- dos ambientes do Vaticano aos cronistas, e ao imenso auditório radiotelevisivo – a convicção que dificilmente João Paulo irá superar a noite. O que sucede é que, em condições gravíssimas, o estado de consciência começa a estar comprometido, passa também o dia 2. Às 7h30 é celebrada na sua presença a Missa, e no fim da manhã recebe a visita do Cardeal Sodano. Por volta das 15h30 com voz mutíssimo débil e palavras quase incompreensíveis , em polaco pede : «deixem-me ir para a casa do Pai ».Entra em estado de coma antes das 19 horas : segundo uma tradição polaca uma pequena vela acesa ilumina a penumbra do quarto. Às 20h00 o secretário D. Dziwisz, o Card. Jaworski, Mons. Rylko e Mons. Mokrzycki celebram aos pés da cama do Papa que está morrendo a missa da festa da Divina Misericórdia. As 21h37 João Paulo II adormece no Senhor : com 84 anos e 10 meses, e sobre os seus ombros 26 anos e meio de pontificado. Cabe aqui referir o que a cidade de Roma viveu entre o 2º e o 8º dias das exéquias de João Paulo II. Três milhões de peregrinos, que enfrentaram com ordem filas de 13 horas para conseguir testemunhar, ao ritmo de 21.000 cada hora, a sua participação nos pêsames, e prestar a sua homenagem a um homem e pastor que amaram. Mas também 6.000 jornalistas acreditados, 137 redes de televisão a transmitir directamente o funeral, 1.300.000 utentes a visitar o site www.vatican.va. Os dois fenómenos, a participação física e a participação mediada pelos instrumentos da comunicação de massa, configuram nestes dias uma opinião publica de luto ; a partilha de um grande, colectivo sentido de perda, de separação, proporcional ao grande carisma de Karol Wojtyla. A 18 de abril os 115 cardeais eleitores entram em Conclave para eleger um novo Papa, o que acontece no dia 19 ; é eleito o Cardeal José Ratzinger, desde 1981 prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé como 264º sucessor de São Pedro, assumindo o nome de Bento XVI. « Gratia copiosa et pax vobis » é o inicio da mensagem com a qual na manhã do dia 20 se dirige aos cardeais que o elegeram ; uma mensagem que ele próprio qualificará em seguida, em sentido programático. Nela estão sublinhados 5 pontos : a comunhão colegial que deve unir o Papa e os bispos, o Concílio Vaticano II como bússola , a Eucaristia como fulcro da missão, o ecumenismo como empenho primário, a vontade de prosseguir o diálogo das civilizações. Quando Bento XVI celebra no domingo dia 24, a Missa de inicio do Ministério petrino, dedica a homilia à explicação e valorização dos dois sinais que caracterizam a celebração. A imposição do sagrado pálio como imagem do jugo de Cristo, da vontade de Deus que o novo Papa acolhe e ao mesmo tempo símbolo tanto da missão do pastor que carrega sobre os ombros a humanidade perdida e de um Deus que se faz ele próprio cordeiro, que dá a vida pelas ovelhas, que redime não com o poder mas com o amor. E o anel do pescador como sinal que também hoje é dito à Igreja e aos bispos :…no mar da historia…lançar as redes para tirar os homens do mar salgado de todas as alienações para os trazer para a terra da vida, para a luz de Deus ». Finalmente o novo Papa dedica a primeira audiência geral de 27 de abril a explicar o motivo do nome que escolheu : Bento. A referência é dupla : a Bento XV que guiou a Igreja num período atormentado por causa da primeira guerra mundial a significar um ministério ao serviço da reconciliação e da harmonia entre os homens e os povos : a São Bento, enquanto « ponto de referencia fundamental para a unidade da Europa e uma forte chamada às irrenunciáveis raízes cristãs da sua cultura e da sua civilização ». Da devota memória do grande Papa falecido à ênfase sobre a relação entre Pedro e Cristo ; do empenho pela paz à defesa da identidade cultural cristã da Europa : a sucessão das intervenções que precedem e seguem imediatamente a eleição, serve mais do que qualquer outra hipótese interpretativa a explicar o processo que levou o Colégio cardinalício a fazer cair sobre o seu Decano a escolha do novo Papa, que junta à absoluta ortodoxia doutrinal a experiência extraordinária dos problemas da Igreja, amadurecida durante o pontificado de João Paulo II. Maio A primeira e até agora mais importante decisão de governo do novo Papa foi tornada pública no dia 13, e refere-se à nomeação do seu sucessor como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A escolha caiu sobre William J. Levada, estadunidense de origem portuguesa, 69 anos, arcebispo de São Francisco desde 1995.O primeiro americano que assume uma tão elevada responsabilidade na Cúria Romana, a significar a convicção de Bento XVI que a experiência amadurecida na Igreja e na sociedade dos Estados Unidos, isto é nas fronteiras da modernização possa resultar decisiva para o catolicismo no seu complexo. No dia 14 celebram-se em São Pedro as primeiras beatificações do novo pontificado, mas não são presididas por Bento XVI mas sim, pelo seu delegado o Cardeal D. José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Com esta decisão deseja-se sublinhar a diferença substancial entre uma beatificação ,em que o Papa concede o culto publico numa forma indultiva e territorialmente limitada, e uma canonização que atribui ao beato o culto na Igreja inteira. Deseja-se envolver mais visivelmente as Igrejas particulares nos ritos de beatificação dos respectivos Servos de Deus, que contudo se efectuarão normalmente na diocese que promoveu a causa do novo beato. E segundo esta nova linha a 23 de Outubro Bento XVI celebrará as primeiras canonizações do seu pontificado : em São Pedro proclamará Santos Felice de Nicosia, G. Catanoso, J. Bliczewski, Z. Gorazdowski e A Hurtado Cruchaga. Junho O empenho primário que Bento XVI quer reservar à promoção da unidade entre os cristãos encontra uma confirmação no dia 16 quando encontra o secretário do conselho ecuménico das Igrejas (CEC) Samuel Kobia. Nos discursos oficiais, ambos recordam os 40 anos do Grupo misto de trabalho Igreja Católica-CEC, e renovam a vontade de uma colaboração cada vez mais fecunda, em particular nos três âmbitos da espiritualidade, da formação ecuménica e da reflexão eclesiológica. Vai também na mesma direcção a visita oficial do Cardeal Walter Kasper a Moscovo de 20 a 23, para consolidar a retomada das relações entre a Santa Sé e a Igreja ortodoxa russa, iniciada em 2004. No dia 24 Bento XVI efectua uma visita ao Presidente da Republica italiana C.A. Ciampi. É a primeira visita oficial a um chefe de estado a salientar os laços particulares existentes entre o bispo de Roma e a Italia. Ciampi reafirma a necessária distinção entre o credo religioso de cada um e a vida da comunidade civil regulada pelas leis da Republica e o Papa reconhece como legitima uma sã laicidade, isto é uma laicidade que não exclua as referencias éticas que encontram o seu fundamento na religião para depois concluir insistindo na importância dos temas da escola, da família e da bioética. No dia 28 é apresentado o Compendio do Catecismo da Igreja Católica, fruto de uma iniciativa que Bento XVI, quando ainda era cardeal tinha patrocinado junto de João Paulo II que por sua vez lhe tinha confiara a direcção. Trata-se de uma síntese fiel e segura do Catecismo da Igreja Católica ; um vademecum redigido em dois anos, como resposta à exigência de um texto autorizado, seguro, completo acerca dos aspectos essenciais da fé da Igreja, aprovado pelo Papa e destinado à Igreja inteira. Julho No dia 7, o terrorismo manifesta-se com grande violência na cena internacional com uma série de atentados de matriz fundamentalista que atingem o centro da cidade de Londres, no momento em que em terra britânica decorre a cimeira anual dos « G8 ». Mais de 60 os mortos, 700 os feridos, e o sentimento difuso que , a partir de 11 de setembro de 2001, os terroristas têm na sua mira não só um país ou continente, mas o Ocidente secularizante : « têm o terror de perder a sua imagem de Deus e espalham terror ; temem o multiculturalismo como uma ameaça às suas sociedades e têm como objectivo um choque neo-integralista das civilizações ».Em Londres, cristãos das principais Igrejas, judeus e muçulmanos assinam um documento conjunto que condena os atentados e defende a causa da paz e do diálogo. Agosto Dia 16, quando encontra 2.500 jovens para as Vésperas na igreja da reconciliação, o Irmão Roger Shutz, fundador da Comunidade monástica ecuménica de Taizé é agredido e assassinado por uma mulher romena de 36 anos.« Fidelidade à Palavra de Deus, enraizamento na própria Igreja » eram as normas que em finais do anos quarenta, colocara na base da sua iniciativa de repropor às Igrejas nascidas da reforma uma experiência monástica ; uma iniciativa que cresceu ao ponto de se transformar num símbolo e encruzilhada da procura da unidade dos cristãos, vivida com autentica paixão. A emoção pela sua morte foi ainda maior pelo facto de ter ocorrido no mesmo dia da abertura em Colónia da XX jornada mundial da juventude (JMJ) . Esta JMJ, articulada em cinco dias, entra no rubro no dia 18 com a chegada de Bento XVI, que nesta sua primeira viagem confirma a capacidade de fazer coexistir em si harmoniosamente e em termos de continuidade o seu estilo pessoal e o ministério do seu predecessor. Setembro De 14 a 16 efectua-se em Nova Iorque a assembleia geral das Nações Unidas que celebra o seu 60 º aniversario. O cardeal Secretário de Estado Angelo Sodano faz uma intervenção precisamente no dia 16 avaliando positivamente a instituição de uma comissão para a construção da paz, sobretudo para a prevenção dos conflitos de origem étnica, e defende o principio da intervenção humanitarária no direito internacional. Mais ou menos nos mesmos dias, de 13 a 17 efectua-se em Roma um encontro internacional sobre « a Sagrada Escritura na vida da Igreja, com o qual a federação bíblica católica e o conselho pontifício para a promoção da unidade dos cristãos, que são os organizadores desejam celebrar o 40º aniversario da constituição dogmática do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina Dei verbum. O objectivo consiste em traçar um balanço conscientes de que, com as palavras iniciais da Dei Verbum, «ouvindo religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com confiança, o Concílio queria resumir a essência da Igreja, na sua dupla dimensão de escuta e de proclamação. »( card. Kasper). O colóquio entre Bento XVI e o teólogo Hans Kung, no dia 24 em Castel Gandolgo faz parte da lista de « surpresas » destes primeiros meses de pontificado. Outubro Com o titulo : «A Eucaristia : fonte e ápice da vida e da missão da Igreja », efectua-se em Roma de 2 a 23 a XI assembleia geral ordinária do sínodo dos bispos. Como o Compendio do Catecismo e a JMJ de Colónia, este Sínodo entra no âmbito das iniciativas promovidas ou iniciadas por João Paulo II e concluídas pelo seu sucessor. A expectativa que rodeia este evento tem pelo menos duas raízes : as discussões em matéria de reforma litúrgica que voltaram a intensificar-se nos últimos anos ; e os pedidos acerca do funcionamento desta instituição sinodal, contidos segundo alguns, na referência programática de Bento XVI à comunhão colegial. Sobre o primeiro ponto o sínodo reafirma que o Concílio Vaticano II lançou as bases necessárias para uma renovação litúrgica autentica. Portanto é necessário cultivar os frutos positivos e corrigir os abusos que se infiltraram na pratica, sem voltar atrás mas também sem perspectivar inovações sobre questões como as celebrações na ausência de sacerdote, a ordenação de « viri probati » casados, a comunhão a divorciados que se casaram de novo, a inter-comunhão e a concelebração ecuménica. Sobre o segundo, a assembleia experimenta com algumas incertezas sobre a modalidade, o debate livre ( uma hora por dia) e decide, pela primeira vez, a publicação, em versão provisória, oficiosa e não oficial, das 50 proposições conclusivas, que, juntamente com outro material produzido pelo sínodo são submetidas ao Papa. Entrelaçados ao sínodo, como já acontecerá nas exéquias de João Paulo II, verificam-se desenvolvimentos nas relações entre a Santa Sé e a Republica Popular da China. Bento XVI de facto tinha incluído entre os padres sinodais de nomeação pontifícia 4 bispos chineses escolhidos em coerência com a vontade de considerar como única a comunidade católica chinesa para além da pertença à Igreja patriótica (reconhecida pelo governo) ou à Igreja subterrânea ( não reconhecida). O governo chinês não permitiu aos quatro a deslocação a Roma, mas a afirmação da unidade da Igreja local e da legitimidade de grande parte dos seus pastores ( incluindo os « patrióticos ») efectuada por D. Lin Chi-Nan, as cartas que três dos convidados enviaram ao Papa, a saudação que o Sínodo lhes dirigiu no dia 22. a recordação final do Papa e as sucessivas afirmações possibilistas do Secretário de Estado do Vaticano e do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Chinês parecem deixar entrever que não deveria estar longe a solução da « questão chinesa ». E enquanto decorre o Sínodo Bento XVI recebe no dia 14 o Cardeal Errázuriz, presidente do CELAM, e estabelece o lugar e a data da próxima grande assembleia sinodal católica : a V conferencia geral do episcopado latino-americano. Será em maio de 2007 no Brasil, junto do Santuário de N. Sr.a Aparecida e poderá ser inaugurada pelo Papa. Bento XVI que tomou pessoalmente esta decisão, já tinha aprovado em Julho o tema da Conferencia : «Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que os nossos povos tenham a vida n’Ele. Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida »(Jo 16,6) Juntamente com a constituição Dei Verbum, é a declaração Nostra aetate sobre as religiões não cristãs, o outro documento conciliar, entre os muitos promulgados em 1965, que cataliza, em finais de 2005, as manifestações em vista do 40º aniversario do encerramento do Concílio Vaticano II. No dia 27 efectua-se em Roma um acto comemorativo organizado pela Comissão para as relações religiosas com o judaísmo, no qual tomam a palavra o presidente da comissão, Cardeal Kasper, o Cardeal Lustiger, arcebispo emérito de Paris e o rabino David Rosen responsável para os assuntos inter-religiosos da Americam Jewish Comittee. Bento XVI que já no dia 15 recebera em audiencia no Vaticano os dois rabinos – chefe de Israel, envia ao card. Kasper uma carta na qual salienta o empenho a levar por diante o diálogo hebraico-cristão como uma firme determinação expressa desde os primeiros dias do seu pontificado, e em particular visitando em agosto a sinagoga de Colónia. »A pregação e a catequese devem empenhar-se a garantir que as nossas relações reciprocas se apresentem à luz dos princípios estabelecidos pelo Concílio ». Novembro 23 bispos da Igreja catolico-caldeia reúnem-se em Roma, em sínodo especial de 8 a 12 de Novembro. São os pastores da grande maioria dos católicos presentes no Iraque : de 350.000 a 600.000 fiéis com uma erosão continua devido à emigração. A sua tarefa, como recordou Bento XVI recebendo-os em audiência no dia 12 é a aprovação de uma reforma litúrgica em rito sirio-oriental, juntamente com a análise de um esquema de direito particular que deverá regulamentar a vida interna das comunidades iraquianas. Mas o futuro da minoria católica iraquiana é evidentemente ligada às incertezas que continuam a envolver o país : no dia 25 de outubro foi aprovada ,através de referendo, a nova Constituição : ela representa um outro passo em frente para a normalização do país, mas contém elementos que os bispos caldeus consideram preocupantes : sobre a relação da sharia com a democracia, na referencia aos cristãos como grupo étnico-cultural e não religioso, sobre alguns aspectos da liberdade religiosa. O ano no qual chegou ao fim o longo pontificado de João Paulo II chega à sua conclusão. Um ano irrepetível pela intensidade da participação com a qual foram vividos tanto a passagem de «di vita in vita » de Karol Wojtyla, como a escolha dos cardeais de um sucessor à altura da herança. Nos meses seguintes, à participação substitui-se a expectativa : o que fará o novo Papa ? Como actuará as linhas programáticas expostas logo após a eleição ? Qual será a continuidade e qual a descontinuidade que marcará Bento XVI em relação a João Paulo II ? Um expectativa centrada já nas palavras que dedicou ao 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II ( dia 8 de dezembro ), naquelas proferidas na sua mensagem de Natal ; nas que acompanharão a celebração do seu primeiro dia mundial da paz, a 1 de janeiro de 2006, dedicado ao tema « na verdade a paz » ; mas sobretudo naquelas contidas na sua primeira encíclica, dedicada ao amor de Deus, e que será publicada, quase certamente no próximo mês de Janeiro.

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