Y con el mazo dando

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

1.Completam-se, dentro de dias (28 de Outubro), 50 anos sobre a Declaração “Nostra Aetate”, que versa as relações entre a Igreja Católica e as religiões não-cristãs.

O texto é breve, mas revela um olhar límpido e uma abertura que, sem esconder distinções, procura antes de mais nada ver em cada religião “o raio de verdade que ilumina todos os homens”.

 Para a Igreja católica, a fraternidade universal não consente qualquer discriminação racial ou religiosa. Cite-se o parágrafo final da Declaração: “A Igreja reprova (…) como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião». Consequentemente, o sagrado Concílio pede aos cristãos que observem uma boa conduta no meio dos homens e se esforcem por viver em paz com todos – de modo que, quanto deles depende, “sejam na verdade filhos do Pai que está nos céus”.

A “Nostra aetate” não ignora – nomeadamente nas relações com o Irão – muitos momentos de discórdias e ódios. Mas, há 50 anos, acreditava num exercício de compreensão mútua e num esforço conjunto em prol da justiça social, dos bens morais, da paz e da liberdade de todos os homens. Hoje tem de reafirmar-se esta mesma esperança – apesar do cenário de opressão que recai sobre milhões de crentes.

O “Relatório sobre os cristãos oprimidos”, esta semana divulgado pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), não pode ser lido com indiferença. Num arco de dois (2013-2015) revela um período “catastrófico” (especialmente para os cristãos) em regiões bem específicas: casos da Síria, Iraque, Nigéria e zonas da África Oriental. Mas não esconde também quem está por detrás do genocídio em marcha – não sendo possível deixar de referir o autoproclamado Estado Islâmico, cujo radicalismo não poupou qualquer religião.

Está em marcha um indesmentível genocídio, provocando um êxodo que, no caso dos cristãos do Médio Oriente, os expulsa do seu próprio berço.

2.O Relatório da AIS tem, entretanto, um título que é, em si mesmo, uma pergunta pertinente: “Perseguidos e esquecidos?”.

Ao lê-lo, sente-se um dedo apontado à generalizada indiferença da comunidade internacional, repetidamente denunciada pelo Vaticano e ainda há dias duramente criticada pelo libanês Fadi Rabbat, num encontro realizado no México.

Com tanto silêncio ou discreto lamento, parece mesmo que alguém acredita que seja possível afirmar os direitos humanos quando se assiste, em figura de cera, à violação do direito à liberdade religiosa, recentemente assim expresso pelo papa Francisco: “é um direito fundamental que plasma o modo como interagimos social e pessoalmente com os nossos vizinhos, cujas visões religiosas são diferentes das nossas”.

3. O Senhor recomendou orações pelos que nos perseguem e caluniam.

Temos de assumir este dever de caridade – tal como devemos, nós os que vivemos uma feliz liberdade, pedir fortaleza e paz para os que sofrem martírios diários. E temos de estar disponíveis para toda a ajuda necessária: apoio material e fraterno acolhimento… Mas nada disto nos dispensa de erguer a voz, exigindo aos governos e instituições internacionais medidas concretas e não mero spray anestesiante e diplomático.

Sim, oração e ação. Ou, como diz o refrão espanhol, “a  Dios rogando y con el mazo dando“.

João Aguiar Campos

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Agência ECCLESIA

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