Voluntários missionários reforçam acção em 2009

Ano após ano, coincidindo com a chegada do Verão, centenas de jovens portugueses partem para países lusófonos, oferecendo o seu tempo de férias ao serviço de projectos de voluntariado missionário, que ajudam algumas das populações mais pobres do mundo. Este despertar da consciência missionário é um fenómeno muito relevante na vida da Igreja dos nossos dias, fruto de um processo gradual que tem gerado um novo dinamismo.

A "revolução" eclesiológica do II Concílio do Vaticano estimulou uma nova participação dos leigos na vida da Igreja, com repercussões óbvias na Missão. Assim, foi ultrapassada uma visão que limitava a cooperação à oração pelas Missões e ao gesto de partilha material, no Dia Mundial das Missões.

Os números actuais do voluntariado missionário são incomparáveis aos que deram início a este movimento, na década de 80. Os leigos missionários são todos aqueles que, em ligação com uma das entidades associadas a este projecto, queiram trabalhar, pelo menos durante um ano, em projectos de cooperação ou de evangelização com a Igreja Católica.

Para abordar este fenómeno, a Agência ECCLESIA convidou voluntários, missionários e responsáveis da FEC, num ano em que são quase 400 os portugueses que integram projectos de missão. Uma realidade que não se repete e procura novas formas de afirmação, criando novos protagonistas e dinamismos.

Ana Patrícia Fonseca, da Plataforma Voluntariado Missionário da FEC, escreve que "a missão que o voluntário cumpre tem no horizonte o sonho de instaurar uma nova ordem social, onde as desigualdades possam ser atenuadas e toda a Humanidade possa viver em comunhão fraterna".

Vanda Barnabé, enfermeira, trocou Évora pelas terras quentes de África "para partilhar um pouco da minha vida com os leprosos" e o povo moçambicano. Esteve 24 meses junto dos doentes de lepra, no distrito rural que envolve a cidade de Nampula, ao Norte de Moçambique. "Fui voluntária através da Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau (APARF) e estive a exercer a minha profissão de enfermeira em favor destes doentes", diz no seu testemunho.

Hugo Gonçalves, da paróquia de Famões, fala do projecto "Tuala Kumoxi – Estamos Juntos", em Angola, e assegura que "os medos e dúvidas que surgem durante a preparação, a sensação de não estarem à altura, as privações que passam, as frustrações e insucessos no terreno, as coisas preparadas com tanto trabalho que nunca chegam a ser realizadas, todas as contrariedades experimentadas por quem se lança num projecto assim são sempre superadas pela experiência de radical entrega, de encontro e pela sensação inconfundível de missão cumprida".

Rui e Diana Nunes Antunes falam, por seu lado, da experiência de missão a dois: "Notamos que mais importante que realizar obras, o estar, o ser presença, o ser casal é um testemunho indispensável para a missão onde estamos, e o carinho que recebemos da parte das pessoas dá para perceber isso. Por isso é que a nossa opção de vir para a missão enquanto casal foi a mais acertada".

A Ir. Maria Inocência Costa é missionária em Moçambique há mais de duas décadas. No seu artigo, refere que "ainda que sinta que são precisas muitas mais mãos, cabeças e corações juntos, a sentir e a agir, desde a solidariedade e o voluntariado nacional e internacional, até ao compromisso activo dos moçambican@s e de todos os que nos sentimos sê-lo, creio e confio, que o povo de Moçambique tem futuro".

Números

Portugal volta a enviar mais voluntários missionários este Verão, para trabalhar em projectos de cooperação para o desenvolvimento, sobretudo em países lusófonos. Cerca de quatro centenas de voluntários portugueses partem para dez países diferentes, reforçando a dinâmica de voluntariado missionário no nosso país, com 50 entidades promotoras.

Segundo a Fundação Evangelização e Culturas (FEC), este ano são 381 voluntários, mais 99 do que em 2008, o que representa um aumento de 35%.

Os voluntários são na sua grande maioria jovens estudantes universitários e recém-licenciados (56%), mas nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de pessoas em idade activa que fazem este tipo de experiência nas férias ou tiram licenças sem vencimento (44%) e também reformados. Com recursos escassos em muitos dos países de destino, os voluntários são mais-valias para os projectos de desenvolvimento a decorrer no terreno.

As áreas de trabalho são quase sempre as mesmas: a saúde, a educação e a evangelização, que é a parte principal. As motivações, essas, estão na vontade de ajudar o outro e na fé de cada um.

Este ano, os voluntários partirão em missão para Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Brasil, Timor-Leste, República Centro-Africana, Taiwan e Tailândia. 70 repetem mesmo a experiência.

Moçambique, à semelhança dos anos anteriores, é o país para onde parte o maior número de voluntários (208), o que equivale a 55 por cento das partidas. A grande maioria dos voluntários (84%) irá participar em missões de curta duração (de 15 dias a seis meses) e os restantes irão ficar por mais de um ano.

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