Visitas Ad limina na primeira pessoa

D. Manuel Madureira Dias, Bispo Emérito do Algarve, recorda experiências vividas no pontificado de João Paulo II Fiz apenas duas visitas “Ad limina Apostolorum”, e ambas no Pontificado de João Paulo II. Foram experiências muito gratificantes: a primeira revestiu-se da grande surpresa da primeira vez; a segunda, já mais responsabilizada e assumida, não foi de menor importância e riqueza. O facto de poder privar, por algum tempo, pessoalmente, e em grupo, com a figura do Papa, a sua bondade e o seu acolhimento de Pastor, seria, só por si, uma graça nunca esquecida. Mas, como este tipo de visitas inclui muitos outros contactos, mais ricas e apreciáveis elas se tornam. Vejamos então, alguns marcos mais significativos das visitas feitas: a celebração da Eucaristia, pela Conferência episcopal, como tal, no túmulo de São Pedro; a oração da Liturgia das Horas, nas outras três basílicas principais (S. João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora de muros); as visitas a algumas Congregações Romanas que têm a ver com muitas das nossas actividades diocesanas, e junto de cujo Prefeito temos oportunidade de expor problemas e ouvir orientações para alguns procedimentos; e, enfim, os contactos com o Santo Padre. Sobre estes, serei mais pormenorizado. São de quatro espécies os contactos com o Sumo Pontífice: a concelebração da Eucaristia, na sua capela particular: impressionava entrar naquela capela, de manhã bem cedo, e deparar com a figura do Santo Padre, de joelhos no seu genuflexório, concentrado em profunda oração; a sensação da presença de Cristo no meio dos Doze, a instituir a Eucaristia, tinha ali o seu ícone mais visível e palpável. As refeições: João Paulo II gostava de aproveitar as visitas dos Bispos para, com eles tomar algumas refeições, na sua residência: um pequeno-almoço, no dia da concelebração, e um almoço em dia previamente combinado. Eram a ocasião mais aproximativa dos Pastores com Aquele que preside ao seu colégio. Maravilhosa oportunidade para, no ambiente familiar da mesa, se falar das coisas mais variadas, de alcance nacional ou mundial. O Papa sabia orientar os assuntos das conversas que pretendia ter connosco. Os encontros com o Santo Padre: Eram de duas espécies, uns individuais e outros em grupos ou com a Conferência no seu conjunto. Os primeiros destinavam-se a uma troca de impressões sobre a Diocese, confiada ao cuidado daquele Bispo concreto. O Papa, previamente informado pelos dados do Relatório que cada Bispo envia com antecedência, para Roma, estava situado, antes ainda de começarmos a conversa. Mas, com o mapa na mão e o dedo sobre o local da sede episcopal do Pastor que tinha diante de si, procurava recolher mais informações e ouvir a exposição do que esse Bispo entendesse por bem referir-lhe. Eram encontros muito íntimos e fraternos. Os outros, os colectivos, eram mais formais, embora João Paulo II nos surpreendesse sempre com alguns improvisos e graças (piadas) oportunas. Aqui, um Bispo, em nome da Conferência, dirigia uma saudação ao Sumo Pontífice, saudando-o e apresentando as questões tidas como da maior relevo nas nossas Igrejas e o Santo Padre respondia com outro discurso, apontando algumas linhas de orientação para todos. Naturalmente, no seu conjunto, estas visitas têm um grande alcance pastoral. Delas resulta uma palavra e um testemunho papais que não podem deixar de influenciar a nossa vida subsequente. Além disso, e tendo em conta o estudo dos referidos relatórios, feito pelas diversas Congregações Romanas, por vezes recebemos a posteriori orientações preciosas sobre alguns pontos da vida diocesana a que, do ponto de vista de Roma, precisamos de prestar maior atenção. Não podemos desperdiçar estas visitas. Elas são uma forma privilegiada de construir a comunhão entre os Pastores e as Igreja locais com aquele que foi chamado a presidir a todas as Igrejas e a confirmar os irmãos na fé. + Manuel Madureira Dias, Bispo Emérito do Algarve

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