Jesus amou os seus até ao fim
Queridos irmãos sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos.
Deus ama-nos. Não devemos ter receio de o amar. A fé é professada com os lábios e com o coração, com palavras e com amor. Com Cristo a nossa vida torna-se plena. Com Ele tudo faz sentido…
“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo 15,14). Só no amor verdadeiro, sincero e transparente tem sentido a nossa vida e o nosso ministério sacerdotal.
A lógica do Mestre é chamar, servir e amar até às últimas consequências. Jesus chamou-nos e escolheu-nos, para vivermos felizes em comunhão e unidade com Ele no mistério do amor, que gera vida ao serviço a Deus e dos irmãos. Este foi o dom, que nos foi confiado no dia da nossa ordenação sacerdotal. “Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,17)…
Ao sinal do amor em plenitude e verdadeiro para com Deus e com o próximo, fomos cristificados pela graça santificadora da Ordenação Sacerdotal, chamados ao ministério para darmos muitos frutos de santidade e caridade no mundo. Eis a grandeza da vocação sacerdotal. O desafio do testemunho pastoral no amor e na verdade. Em tudo devemos amar e servir a Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, razão de ser da nossa vida e da nossa Páscoa.
Conscientes da grandeza da vocação e da missão sacerdotal, reunimo-nos nesta manhã de Quinta-Feira Santa, todos juntos, revestidos com as vestes da salvação a proteger a nossa pobreza, a nossa miséria e fraqueza, para à volta do altar como presbitério, celebrarmos o Banquete Eucarístico sentados com o Mestre à sua mesa, para comungarmos o mesmo pão, e bebermos do mesmo cálice, sinal da Nova e Eterna Aliança.
Como ministros do altar, servimos o povo de Deus com o sinal indelével do Sacramento da Ordem, que nos consagrou e ungiu para sermos testemunhas da Sua Ressurreição. “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”.
Chamados a ser discípulos missionários, peregrinos pela estrada de Emaús para encontrar Cristo Ressuscitado em cada dia, ao partir do Pão, na Eucaristia que celebramos em união com o Povo Santo de Deus.
Hoje fazemos memória agradecida do dia em que fomos ordenados sacerdotes e do mistério da Eucaristia, que nos alimenta para servir a Deus e a Igreja pelos caminhos da esperança.
O Espírito do Senhor, está sobre mim, porque Ele me ungiu.
À luz da Palavra de Deus, que escutámos em Isaías e no Evangelho é nos apresentada a missão do Servo do Senhor, do Messias enviado “a anunciar a boa nova aos pobres e a levar-lhes o óleo da alegria” (cf. Is 61, 1-3ª).
O Evangelho apresenta-nos Jesus na Sinagoga de Nazaré a fazer a leitura do livro de Isaías, para assumir a sua missão de Messias, o Ungido do Senhor, que veio “para anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor” (cf. Lc 4, 16-21). Como sacerdotes rezemos muitas vezes esta passagem do Evangelho, para sermos verdadeiramente discípulos de Cristo. É esta a missão de “Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos […], Aquele que nos ama e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (cf. Ap 1,5-8).
Mergulhados no mistério de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, na Eucaristia e no mistério da Sua Paixão, Morte e Ressurreição, lembremos os sacerdotes do nosso presbitério, particularmente os idosos e os doentes, todos os que se encontram em dificuldade e provação, os que celebram o Jubileu de Ordenação Sacerdotal. Os 25 anos do Padre Gabriel da Paz Ulumdo, pároco de Pinheiro de Lafões, Destriz e Reigoso e o Padre João Dele Pároco de São Miguel do Outeiro, Parada da Gonta, Sabugosa e Lageosa do Dão, ambos do Presbitério de Benguela, ao serviço da nossa Diocese; os 60 anos, do cónego Arménio Ferreira Lourenço, a viver na Residência Jesus Maria José, Viseu; os 70 anos, do Padre Eugénio Duarte Henriques de Sousa, a viver no Centro Sócio Pastoral, Viseu e do Padre Geraldo de Fátima Morujão, Assistente Diocesano dos Escuteiros e Capelão do IPV; e os 75 anos, do Padre Júlio Homem de Almeida, a viver no Centro Sócio Pastoral. Rezemos por estes irmãos sacerdotes, pelas suas famílias e comunidades. Dou-lhes os meus parabéns por todo o trabalho pastoral realizado e imploro para eles as maiores bênçãos e graças de Deus.
A renovação das promessas sacerdotais, que vamos fazer diante do povo de Deus, assumidas com o compromisso de viver o ministério sacerdotal em fidelidade, devem ser causa de alegria e de serviço à Igreja em caminho sinodal.
Serão também benzidos os Óleos dos Enfermos e dos Catecúmenos e a consagração do Crisma para alívio, conforto e alegria do Povo de Deus. “Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade” (Heb 13,8).
A vocação e a consagração sacerdotal são um dom ao serviço da Igreja.
Jesus antes da sua última ceia rezou ao Pai dizendo: “Consagra-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17,17).
Trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, que gera na Igreja uma dimensão ministerial de serviços, onde a vocação sacerdotal, consagrada e laical desponta como um dom e uma graça para cuidar do Povo de Deus.
Continuo a pedir o empenhamento de todos pelo aumento das vocações de consagração na Igreja, sem descuidarmos o compromisso de chamar para o sacerdócio ministerial, para o diaconado permanente e para os ministérios laicais instituídos. Neste contexto peço-vos para ajudardes os jovens, os acólitos, os seminaristas e os pré-seminaristas na vida espiritual, no discernimento e acompanhamento vocacional.
Cuidando de uma Igreja missionária e em saída, mais vocacional, ministerial e laical, descobriremos a alegria de servir a comunidade cristã como instrumentos de salvação, fazendo de nós um outro Cristo, em missão. A identidade do sacerdote começa com o chamamento – “Segue-me!” – dando depois lugar a um estilo de vida capaz de se identificar em tudo com Cristo e agir sempre “in persona Christi”.
O Sacerdote servidor da “Alegria do Evangelho” é chamado a ser servo fiel e prudente.
A grandeza do sacerdócio e a fragilidade do ministério ordenado, manifestam-se no dom da entrega, na escuta, no serviço e no cuidado do povo de Deus que nos está confiado.
“O sacerdote, como administrador dos “mistérios de Deus” é uma testemunha especial do “Invisível no mundo”. Com efeito, é o administrador de bens invisíveis e incomensuráveis, que pertencem à ordem espiritual e sobrenatural, e estão ao serviço do sacerdócio comum dos fiéis.
A dimensão fundamental da nossa vida, enquanto sacerdotes é louvar o Senhor, que nunca nos abandona, nem nos deixa sozinhos. Somos chamados a manifestar ao mundo com o nosso testemunho, a vida eterna, que consiste em acreditar em “Jesus Cristo” (Jo 17,3), casto, pobre e obediente.
O chamamento a uma vida de castidade encontra no celibato o seu compromisso e integra os nossos afetos e desejos de modo equilibrado e personalizado, na dedicação plena a Deus e ao seu povo.
Chamados a viver um estilo de desprendimento e de temperança, em comunhão e identificação com os pobres, devemos viver o ministério sem aparência de riqueza em sobriedade, espírito de partilha e de fraterna caridade.
O sacerdote fiel ao espírito de obediência a Deus e à Igreja na relação com o seu bispo e os seus irmãos, segue a Cristo obediente até à morte de Cruz para imitar o seu testemunho de vida oblativa.
O sacerdote antes de mais nada, deve ser um homem de oração, convencido de que o tempo dedicado ao encontro com Deus e ao estudo é sempre o mais bem empregue.
“Cristo precisa de sacerdotes santos! O mundo de hoje reclama sacerdotes santos! Só um sacerdote santo se pode tornar, num mundo cada vez mais secularizado, uma testemunha transparente de Cristo e do seu Evangelho. Só assim é que o sacerdote pode tornar-se guia dos homens e mestre de santidade. Os homens, sobretudo os jovens, esperam um orientador assim. O sacerdote pode ser orientador e mestre, na medida em que se tornar uma testemunha autêntica!” (São João Paulo II, Dom e Mistério, p.101).
A vida do sacerdote e o seu testemunho espiritual é indispensável para o crescimento da Igreja.
O cuidado da “Casa Comum” e o zelo pela “Casa de Deus” deve devorar a nossa vida e animar o nosso ministério sacerdotal. O cuidado espiritual e pastoral do povo de Deus, que nos foi confiado é algo de concreto e faz parte do exercício do nosso ministério.
O verdadeiro segredo dos sucessos pastorais não está nos bens materiais, económicos, financeiros, sociais e técnicos. Os frutos pastorais veem da santidade de vida espiritual dos fiéis, dos pastores, do testemunho dos consagrados e do exemplo dos leigos, isto é, da santidade do povo de Deus em caminho sinodal em direção para a casa do Pai.
Este exercício requer o conhecimento profundo do que significa ser pastor e também do conhecimento pormenorizado das necessidades do rebanho.
Peço aos leigos aqui presentes, que rezem pelos nossos sacerdotes e por mim, para que todos juntos façamos o caminho sinodal de renovação com as famílias e os jovens, peçamos ao Senhor o dom de novas vocações sacerdotais, diaconais, consagradas e laicais, aos ministérios instituídos de leitor, acólito, catequista e animador da comunidade.
Peço aos sacerdotes uma atenção especial às crianças, adolescentes, jovens e seus animadores para darmos continuidade aos desafios da JMJ, feitos pelo Papa Francisco.
É muito importante para nós sacerdotes dar atenção à nossa formação permanente, à dos leigos nossos colaboradores, para que integrados cada vez mais nos serviços eclesiais ajudem na renovação da Igreja, da vida cristã, das paróquias e das próprias instituições e serviços eclesiais.
Termino pedindo a Nossa Senhora, Mãe dos Sacerdotes e a São José, o guardião do nosso ministério, que nos conceda uma Santa Páscoa em Cristo Ressuscitado, na alegria de sermos perseverantes ao serviço da Igreja, até ao fim.
Rezai por mim e pelos nossos sacerdotes para sermos verdadeiras testemunhas de Cristo Ressuscitado. Contai também com a nossa oração e a generosidade do nosso serviço pastoral. Ámen!
Viseu, 28 de março de 2024
D. António Luciano dos Santos Costa, bispo de Viseu