Jovens à procura do primeiro emprego juntam-se às famílias endividadas e aos casos «habituais» de pobreza
Viseu, 04 Jan (Ecclesia) – Os pedidos de ajuda à Cáritas de Viseu cresceram 41% entre 2009 e Outubro de 2010 e a instituição prevê o seu aumento a partir deste mês, quando se começarem a fazer sentir os efeitos dos cortes salariais.
“Além das pessoas que habitualmente nos solicitavam ajuda, aparecem agora casos mais complicados”, afirmou à Agência ECCLESIA o presidente daquela instituição da Igreja Católica, José Borges, de 70 anos.
O responsável, que foi hoje reconduzido no cargo pelo bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, está preocupado “com as famílias altamente endividadas junto da banca e de entidades financeiras”, mas admite que a Cáritas não consegue solucionar esses problemas.
A instituição procura responder a necessidades pontuais, como o pagamento de rendas de casa, água, luz e medicamentos, através de transferência bancária para as entidades credoras, nunca dando dinheiro a quem pede ajuda.
A Cáritas também assume a distribuição de comida recorrendo aos bens que tem em armazém ou mediante a entrega de senhas para utilização em supermercados, uma alternativa pensada para quem tem “vergonha” de recorrer ao serviço de atendimento.
“Outra coisa que nos preocupa – refere José Borges – são os muitos jovens que acabam a sua licenciatura e que entram em pânico por não terem emprego e por não verem saída.”
O responsável reconhece que as respostas dadas pela instituição não extinguem a pobreza: “Vamos dando uns paliativos em vez do antibiótico. Mas não sai daqui ninguém sem levar alguma coisa”.
Para responder ao acréscimo de procura, D. Ilídio Leandro criou há cerca de duas semanas o Fundo Social Diocesano, no quadro da Secretariado da Pastoral Social.
O projecto, cuja gestão executiva foi confiada à Cáritas de Viseu, arranca com 6800 euros, a que se vão juntar verbas provenientes do ‘Fundo de Emergência’ daquele organismo.
Além de responder aos pedidos que lhe forem directamente dirigidos, o Fundo será accionado quando as paróquias não tiverem capacidade de responder às necessidades locais, o que vai exigir uma rede de observadores atentos às pessoas mais pobres.
“Vamos publicitar o Fundo o mais possível, para ver se podemos arranjar alguns euros, de modo a acudir às necessidades que nos vão aparecer e que esperamos sejam grandes, já que estamos a prever um ano difícil”, diz José Borges, que trabalha 6 a 7 horas por dia em regime de voluntariado, dirigindo 26 técnicos e auxiliares.
Para o responsável, “seria uma boa ajuda” se os padres da diocese decidissem oferecer parte dos seus rendimentos ao novo Fundo Social: “Mesmo não sendo o ordenado, se fosse alguma coisa já seria bom”.
O presidente admite que o tema reveste-se de “algum melindre”, mas manifesta a convicção de que “o senhor bispo falará com os padres e saberá o modo de agir”.
“Há leigos que já o estão a fazer, ao verem que a Cáritas estava aflita. Mesmo antes de o Fundo ser criado, chegaram-nos ofertas na ordem dos 500 e 250 euros, que já são bons donativos”, acrescenta.
José Borges sublinha que a acção social da instituição não tem como objectivo “‘angariar’ adeptos para a religião católica”: “Cada um seguirá o seu caminho segundo as suas convicções. Nunca perguntamos pelo ‘bilhete de identidade religioso’”.
O NIB do Fundo Social Diocesano de Viseu é o 0010 0000 2603 5280 008 47 (BPI).
RM