O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!
Na manhã da Páscoa este anúncio continua a encher de alegria os nossos corações. Jesus de Nazaré, morto na cruz e sepultado, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme diziam as Escrituras. Esta é a grande novidade que, passados dois mil anos, os cristãos continuam a proclamar e a celebrar.
Como relata o Evangelho que escutamos, tudo começou na manhãzinha daquele dia quando Maria Madalena foi ao sepulcro e viu a pedra retirada. Este sobressalto foi comunicado aos discípulos, e levou Pedro e João a correrem ao sepulcro. Aí chegados, puderam verificar o sepulcro vazio e as ligaduras que envolveram o corpo de Jesus colocadas de parte. Não se atemorizaram com receio de um roubo ou rapto mas perceberam os primeiros indícios de que algo especial tinha acontecido. Ainda naquele mesmo dia e nos seguintes, a ausência do corpo sepultado iria ser justificada com as aparições de Cristo ressuscitado, «não a todo o povo mas às testemunhas designadas por Deus».
Diante do túmulo vazio, o discípulo «viu e acreditou». Este foi o passo decisivo, até porque ainda não tinham entendido a Escritura nem o próprio sentido de ressurreição. Ver e acreditar continuam a ser as atitudes essenciais para viver a Páscoa. Ver, no sentido de reconhecer os sinais da presença de Cristo vivo, conduz à fé, ao acreditar que, pelo seu Espírito, está próximo de nós, nos ama e nos quer salvar.
Ver e acreditar são indispensáveis à vivência pascal porque se trata de um mistério. A Páscoa de Jesus não foi uma grande espetáculo, dominado pela ostentação ou preenchido de efeitos cósmicos, pretendendo deslumbrar as multidões ou conquistar a adesão das massas. Foi antes, e continua a ser, um mistério que nos ultrapassa, um desafio que nos mobiliza a fazer um caminho de reconhecimento de Cristo vivo. Um desafio que mobiliza o nosso olhar para sabermos ver e reconhecer e o nosso coração para acreditarmos. Aquele que encontra o Ressuscitado renasce para uma vida nova e tem o impulso irreprimível de o testemunhar aos que o rodeiam.
Numa carta que dirigiu aos jovens, há poucos dias, o Papa Francisco escrevia: «Cristo vive e quer-vos vivos!» Esta certeza que anima o Santo Padre e que partilhou com todos, pretende reavivar a esperança. «De facto, no atual contexto internacional marcado por tantos conflitos, tantos sofrimentos, posso imaginar (diz o Papa) que muitos de vós se sintam desanimados. Por isso desejo começar, juntamente convosco, do anúncio que está no alicerce da esperança para todos nós e toda a humanidade: Cristo vive!».
Acreditamos e proclamamos com alegria que Cristo vive, estamos conscientes de que esta não é uma história do passado, uma simples recordação. Não estamos a homenagear um morto mas a celebrar Aquele que está vivo, Aquele cuja presença é atual em cada um de nós, na Igreja e no mundo.
O primeiro impacto da ressurreição de Jesus deve fazer-se sentir, antes de mais, na nossa própria vida pessoal. Como diz o Papa aos jovens, «Ele quer-nos vivos». A sua presença nos conforta e renova. Enche-nos da alegria, da graça e da liberdade mais profundas que podemos imaginar. É uma presença que nunca nos deixa cair na solidão ou no desânimo (a não ser que nos esqueçamos dele!). Ela representa uma força e um estímulo incomparáveis para nos sentirmos vivos e para vivermos mais plenamente cada dia. Como escreve São Paulo «a vossa vida está escondida com Cristo em Deus», ou seja ela tem ainda muito a manifestar neste mundo e tem abertas diante de si as portas da eternidade e da glória.
A luz pascal inunda a história de cada um de nós e a história dos povos. Ela preenche os nossos corações com a presença luminosa e iluminadora de Jesus. Não há que ter medo porque é possível remover todas as pedras do nosso caminho e não há que se perder no meio das trevas nem se deixar dominar pela escuridão provocadas por situações de aflição ou sofrimento.
A ressurreição de Jesus faz-nos acreditar que a história tem a marca da bondade de Deus. Se as maldades humanas se multiplicam, Deus lembra-nos, com a ressurreição de seu Filho, que a sua palavra é a primeira e será também a última. O dom da salvação alcançado por Jesus na cruz, confirma não só a vitória sobre a morte, mas sobretudo que o amor tudo vence e a sua misericórdia nos sustenta.
A ressurreição do Senhor teve ainda um outro efeito de enorme importância: projeta uma nova luz sobre toda a vida de Jesus, sobre o significado e alcance das suas palavras e dos seus gestos. De facto, tudo o que Ele disse e fez continua a ter plena validade porque não ficou relativizado na sua morte mas foi confirmado com a sua ressurreição. A sua mensagem continua a ter a força de atualidade porque Ele está vivo. A sua Palavra é sempre Palavra de Deus, palavra de salvação.
Desta forma a Páscoa apresenta-se como o grande fundamento da nossa fé, o pilar onde assenta a nossa esperança. Podemos dar crédito às palavras das pessoas em quem confiamos, podemos alimentar sonhos e expetativas, mas é na Páscoa de Jesus que radicam as bases mais profundas de tudo aquilo em que esperamos e acreditamos.
A experiência da descoberta de Cristo vivo e ressuscitado foi para tantos homens e mulheres ao longo dos tempos, e poderá sê-lo também hoje, a experiência fundamental em que assenta a existência. Aquele movimento que começou na Galileia com a pregação de Jesus não acabou na cruz. Com a ressurreição e o dom do Espírito, a boa nova da salvação espalhou-se pelo mundo e chegou até nós. Esse movimento não terminou mas deve ganhar um novo impulso nesta páscoa.
Para os cristãos, para os batizados, celebrar a Páscoa deveria significar um rejuvenescer da fé, um avivar da consciência da presença de Jesus nas suas vidas e um renovar do seu compromisso com a comunidade e a missão da Igreja.
Que todos possam renascer em Cristo! Que a presença de Jesus Ressuscitado encha de alegria cada pessoa, de amor cada família e de paz a humanidade inteira!
Santa Páscoa para todos!
Vila Real, 31 de março de 2024
D. António Augusto de Oliveira Azevedo