Vida Religiosa em Portugal à procura de novos rumos

Os religiosos e religiosas portugueses estão a analisar quais os “dados e interpelações” mais relevantes que surgiram do “Inquérito sobre os religiosos em Portugal”, efectuado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa por ocasião dos 50 anos das duas Federações nacionais de religiosos, CNIR/FNIRF. A XXI semana de estudos sobre a Vida Consagrada que está a decorrer em Fátima tem precisamente como tema “50 anos depois. Novos ventos, novos tempos”. A Vida Religiosa tem hoje um papel diferente na Igreja e na sociedade e nem sempre essas mudanças a tornam mais visível, como explicou este sábado o sociólogo Marinho Antunes. O referido inquérito mostra que 42% dos portugueses não têm conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica. Na sua recente Nota Pastoral sobre as Ordens e as Congregações Religiosas em Portugal, os Bispos portugueses manifestam-se “surpreendidos pela ignorância em relação à Vida Religiosa”. Alfredo Teixeira, professor na UCP, explica à ECCLESIA que o nosso país vive uma mudança de identidades, não só a nível religioso, mas também a nível político e cultural. “Há um conjunto de dificuldades acrescidas, que têm a ver com uma certa desorganização daquilo que eram as fronteiras das culturas. Nesse sentido, também os religiosos são chamados a perguntar-se o que são”, assinala. O sociólogo e teólogo considera que há famílias religiosas que estão a empreender um trabalho fundamental ao “diversificar os modos de presença e as formas de inscrição naquilo que é o seu carisma e espiritualidade”. Sobre o alto número de portugueses que afirmam não conhecer o que seja a Vida Religiosa, Alfredo Teixeira considera que “esse dado tem de ser articulado com outros”. “Nem sempre o modo de dar testemunho daquilo que é uma comunidade religiosa em si passa por dar testemunho de que se pertence a determinada Congregação ou Ordem. A identificação pode ser difícil, mas se observarmos o que são sinais de transformação da Igreja em Portugal, vemos na esfera dos religiosos alguns dos sinais mais importantes”, destaca. Desconhecimento religioso O desconhecimento da Vida Religiosa parece estar associados a dois factores fundamentais: a posição religiosa actual e o grau de instrução dos inquiridos. De facto, com mais de 12% das pessoas a declararem-se sem religião, indiferentes, agnósticas ou ateias, é neste grupo que é percentualmente maior o desconhecimento do que sejam os religiosos na Igreja Católica (mais de 51%). Em relação ao grau de instrução, é entre as pessoas que nunca andaram na escola ou não concluíram o 4º ano (13,2%) que há mais respostas negativas sobre o conhecimento da existência dos religiosos: 52, 3%. Nestas circunstâncias, apenas cerca de metade dos inquiridos seguiu para as questões que dizem respeito ao contacto e opiniões sobre os religiosos. Para quem a conhece, contudo, a Vida Religiosa é um valor fundamental na Igreja e mesmo na sociedade portuguesa. Assim, quase 94% dos inquiridos entende que o facto de existirem religiosos é uma coisa boa ou muito boa para a Igreja Católica, e 87,4% pensa que também é bom ou muito bom para os portugueses. Quem responde não fala de cor: quase metade dos que têm conhecimento da existência de religiosos refere que conhece ou conheceu pessoalmente 10 ou mais religiosos, e revelam mesmo que eles fazem parte do seu grupo de amigos, colegas ou vizinhos. O contacto com os religiosos e religiosas ocorre, preferencialmente, nas actividades das paróquias (mais de metade dos casos), mas com as religiosas ganha destaque o contacto nas escolas/colégios: 18,9% dos casos. Como reconhecer os religiosos? O ditado português diz que “o hábito não faz o monge” e o inquérito da UCP parece comprovar esta teoria: para os entrevistados, aquilo que faz com que religiosos sejam diferentes não é o hábito que usam. Aliás, este é um dos pontos do questionário que certamente deixará mais satisfeitos os Institutos Religiosos. Para os portugueses, o que distingue verdadeiramente os religiosos é a vida que escolheram, a maneira como vivem e o espírito que os anima. “O que faz com que religiosos sejam diferentes?” As coisas que fazem – 16,1% A vida que escolheram – 29,2% O hábito que usam – 7,4% A maneira como vivem – 18,4% As casas grandes que têm – 2% O espírito que os anima – 19,8% Outra – 3,5% Nenhuma – 3,5% Do contacto pessoal com os religiosos, os portugueses destacam a sua disponibilidade para ajudar os outros (mais de 20%) e a boa formação humana (19%), mas contestam as ideias pouco actualizadas dos mesmos (19%) e a intransigência, rigidez e autoritarismo (17%). O futuro Sobre o futuro dos religiosos e religiosas em Portugal, os inquiridos inclinam-se a acreditar que o seu número irá diminuir nos próximos 10 anos. Caso se confirme essa hipótese, defendem que se deve tornar a Vida Religiosa mais atractiva para os jovens (95,8%) e que os leigos devem ser chamados a colaborar (79,7%). Fora de questão está a opção de pura e simplesmente fechar as casas dos religiosos e vendê-las (94,3% de opiniões contrárias). A crise de vocações em que os portugueses acreditam tem a ver, na sua opinião, com três factores fundamentais: a pouca fé dos jovens (18,9%), o desconhecimento geral da Vida Religiosa (15,3%) e o celibato (14,9%). O egoísmo e o medo de compromissos para toda a vida também são aspectos que, segundo os inquiridos, fazem que haja poucos jovens a seguir a Vida Religiosa. Dados gerais sobre os religiosos em Portugal CNIR – Conferência Nacional dos Superiores Maiores dos Institutos Religiosos Institutos federados – 38 Total de membros religiosos – 1.917 Religiosos que residem em Portugal – 1.375 Religiosos que trabalham nas Missões “ad Gentes” – 455 Religiosos que trabalham com emigrantes / residem no estrangeiro – 87 Religiosos em formação ( professos, escolásticos, irmãos) – 203 FNIRF – Federação Nacional das Superioras maiores dos Institutos Religiosos Femininos Institutos – 107 Comunidades Religiosas – 738 Total de membros – 6.539 Religiosas a residir em Portugal – 5.919 Religiosas nas Missões “ad Gentes” – 447 Religiosas a residir no estrangeiro – 294 Juniores (total incluído no total de membros a residir em Portugal) – 210 Ensino/Colégios Estabelecimentos – 117 Utentes – 39461 Funcionários – 659 religiosos; 4661 leigos IPSS Estabelecimentos – 218 Utentes – 23736 Funcionários – 792 religiosos; 3693 leigos Lares Estabelecimentos – 57 Utentes – 1161 universitários e 1026 idosos Funcionários – 263 religiosos; 521 leigos Outras obras Estabelecimentos – 57 Utentes – 70.000(centros de formação, espiritualidade e retiros); 5573 (hospitais, casas de saúde, Saúde mental); 1832 (outras). Funcionários – 406 religiosos; 3548 leigos.

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