Octávio Carmo, Agência Ecclesia
Desde 2016, como se projetava na altura, grande parte do debate em torno da eutanásia rapidamente ficou marcado pela confusão, evitando desde logo um mais do que necessário esclarecimento de conceitos. A pressa é má conselheira quando estamos a falar de temas centrais para a definição do que é a humanidade, como a dor, o sofrimento e a morte.
De então, recordo as preocupações que me acompanharam quando o tema ganhou destaque como a próxima “questão fraturante” da sociedade. O pensamento católico não propõe um sofrimento sem controlo nem o encarniçamento terapêutico. Acompanhar e ajudar são conceitos centrais na nossa tradição religiosa, em relação aos doentes – matéria tão séria que até ficou plasmada numa das obras de misericórdia.
O crente não pode ignorar o sofrimento do outro, ainda que tudo faça para o evitar. A história ensina-nos que a dor é uma marca constante do ser em humanidade. Não se pode fugir dela, mas também não é lícito permanecer impassível, como se não fosse possível ajudar quem sofre.
Muitos, perto ou longe de nós, vivem como se a dor não tivesse fim, como estivesse à espera de uma qualquer brecha para se fazer sentir. A resposta da sociedade não pode, nunca, passar por esvaziar de sentido este sofrimento.
“A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana”
(Bento XVI, Encíclica ‘Spe Salvi’)