Vida Consagrada: Quaresma nas tribos seminómadas do Quénia

Irmã Beta Almendra, missionária comboniana, recorda experiência em África

Lisboa, 17 fev 2015 (Ecclesia) – A irmã Beta Almendra, missionária comboniana, recorda as vivências e o anúncio da tradição da Quaresma, do jejum e da abstinência, às tribos seminómadas do Quénia, que faziam “uma refeição por dia”, onde viveu durante sete anos.

“Eles entendem, percebem e também precisam de tempos diferentes e percebiam muito bem que a Quaresma é tempo de mais sobriedade, sem tocar tambores [na Missa] para depois chegar à Páscoa e ser um boom”, recordou à Agência ECCLESIA, sobre a vida a 660 quilómetros a norte da capital Nairobi.

Para a irmã Beta Almendra a dúvida foi como falar de jejum e abstinência a pessoas de tribos seminómadas que “comem uma refeição por dia”, a quem não podia “pedir muito mais”.

“Quando apresentávamos esta tradição, explicávamos o porquê para refletirmos mais sobre Deus e havia quem fazia jejum o dia todo”, revela a missionária que os caracteriza como “cristãos extraordinários”.

Neste contexto, a Quaresma era vivida pela abstinência de outras coisas que “não tanto a comida” e pelos valores, “o que podiam melhorar”.

Na memória guarda as primeiras vivências de setes anos no Quénia, quando “era tudo novidade, diferente” e destaca a experiência vivida aos domingos à tarde nas comunidades de base, a Igreja familiar que envolve também os vizinhos mais próximos para “rezar novamente as leituras”, partilhar e tentar “resolver os problemas”.

“Olhar para o vizinho independente da religião, porque éramos a minoria, e a campanha quaresmal era muito por estes núcleos de responsabilidade”, desenvolve a irmã Beta Almendra.

A entrevistada deste “olhar” assinala o “contraste muito grande” para a Europa onde “quase nem se conhece os vizinhos”.

O tríduo Pascal era a oportunidade das missionárias combonianas irem ainda mais às periferias, às “comunidades mais longe” e passar uma ou duas semanas em “aldeias sem eletricidade, água, vida simples e acolhedora”.

O silêncio da Sexta-feira Santa contrastava com a “explosão” de Sábado, o “enfeitar a capela” ou o lugar da celebração porque “tinha de estar muito bonito, acolhedor” e as Missas com “60 batismos” com pessoas de todas as idades.

“Escutar o testemunho das idosas, felizes por serem cristãs, é uma das grandes alegrias que o nosso trabalho produz frutos”, recorda a consagrada.

No deserto do norte do Quénia, a Páscoa em ano de abundância – “água, pastos” – era sinónimo de grandes festas para os povos seminómadas guardadores de animais.

“Queriam acolher da melhor maneira que podiam, sentíamos que queriam celebrar e festejar as grandes etapas da vida”, conta a irmã Beta Almendra que recorda as pessoas que vinham para estas celebrações de outras terras e “via-se interesse em celebrar a vida, a ressurreição, o Deus connosco”.

No domingo de Páscoa, a Eucaristia era “muito mais prolongada” onde a dança, os cânticos e os sons dos tambores podiam fazer-se ouvir durantes “três a quatro horas”.

“É uma alegria muito grande e eles têm de se expressar assim”, contextualizou a missionária comboniana que da Páscoa no Quénia relembra não só o cheiro a incenso mas o “cheiro dos animais e do leite” que é sinal de abundância.

A missionária explicou que foi para o Quénia porque queria dedicar-se “à pastoral da catequese” e neste contexto formou-se em Ciências Religiosas, na Faculdade de Teologia do Porto, esteve um ano em Londres, Inglaterra, a estudar inglês e partiu de seguida para Nairobi, a capital do Quénia, onde ainda esteve seis meses a aprender suaíli e outro dialeto para “estar mais perto das pessoas nas tribos”.

SN/CB

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