«Cadeira de rodas tornou-se para mim o melhor púlpito» – Padre Manuel João Pereira Correia
Verona, Itália, 07 jan 2020 (Ecclesia) – O padre Manuel João Pereira Correia vive a sua missão com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), desde 2010, uma doença que tem sido “muito benévola”, porque continua “a ler e escrever” pelo computador, “com fecundidade apostólica”.
“Estou num pequeno espaço, mas posso semear e viver com fecundidade apostólica. Deus pode fazer, e faz, coisas grandes. Experimento que, pequenas coisas que antes pouco valorizava, como a palavra, o sorriso, a serenidade, a capacidade de escuta e empatia… me surpreendem também a mim como meios de graça que Deus usa para tornar a minha vida fecunda. Esta cadeira de rodas tornou-se para mim o melhor púlpito”, disse o missionário Comboniano que vive em Verona (Itália), desde 2016.
Na entrevista enviada hoje à Agência ECCLESIA, e que vai ser publicada este mês no Jornal ‘Família Comboniana’, o padre Manuel João Pereira Correia explica que Deus lhe concedeu “a graça de aceitar” a doença e, “com a aceitação, a graça da serenidade”.
“Graças a Deus, a doença comigo foi muito benévola, porque apesar da minha situação de imobilidade posso continuar a ler e escrever através do computador”, assinala.
A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurológica degenerativa rara que evolui de forma progressiva e que obrigou o missionário a deixar o Togo e regressar a Roma, no dia 28 de dezembro de 2010; Em 2018, depois de uma crise respiratória, o sacerdote foi hospitalizado de urgência, onde fez uma traqueotomia, e aprendeu “a usar o puntador ocular”, isto é, escreve “com os olhos”.
Desde o começo, tive o dom de aceitar a doença com serenidade e, pouco a pouco, descobrir que, se o Senhor me tirava alguma coisa, deixava-me outra maior; esvaziava-me de algo para me encher D’Ele mesmo, dos Seus dons. Agora estou totalmente imobilizado, mas sinto e vivo uma plenitude de mente e coração, de afeto e espírito, e sonho uma realização que antes desconhecia.”
Para o sacerdote, a doença “é como um muro que corta completamente todas as perspetivas de vida”, os sonhos que se tinham, as realizações que se queriam fazer, e se a situação atual de dependência, “às vezes, cansa um pouco, ajuda muito” pensar que Jesus viveu “trinta anos de vida escondida e só três de vida ativa”.
O padre Manuel João Pereira Correia foi missionário no Togo, de 1985 a 1993; depois coordenou a formação do Instituto Comboniano, em Roma, e regressou ao país da África ocidental em 2002, onde foi eleito superior provincial no Togo, Gana e Benim.
Para o sacerdote, que continua a acompanhar a vida da Igreja, atualmente vive-se “um momento de crise, inclusivamente na vida missionária”, mas é também uma nova oportunidade, uma crise que “é de purificação, será de regeneração, de primavera para a Igreja”.
Natural de Penajoia, Diocese de Lamego, Manuel João Pereira Correia foi ordenado presbítero a 15 de agosto de 1978, e começou por dedicar-se à animação missionária e à pastoral juvenil em Coimbra, num “tempo de muito entusiasmo” e diferente da sociedade atual.
“A situação atual é diferente: Os jovens vivem num contexto social, das redes sociais, mais individualista, amorfo e dispersivo, que não os ajuda a identificar-se com um projeto”, analisou, na entrevista realizada pelo padre Manuel Augusto Lopes Ferreira, que também é missionário Comboniano.
CB/OC