Um grande número de elementos das Conferências de São Vicente de Paulo da Diocese do Funchal participou ontem no Dia Vicentino, tendo oportunidade de reflectir sobre temas relacionados com o serviço à caridade. O Pe. Manuel Ornelas (da Congregação dos Padres da Missão) desenvolveu o tema do dia, reflectindo sobre a encíclica do Papa Bento XVI, que em muitos aspectos se refere à Caridade. Nos trabalhos participou também Manuel Torres Silva, o presidente do Conselho Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo, que assim se despediu das funções que durante muitos anos exerceu. Teve oportunidade de relevar o trabalho desenvolvido pelos Vicentinos madeirenses e porto-santenses e de os incentivar a prosseguir na importante obra que realizam em prol dos pobres. A Eucaristia presidida por D. Teodoro de Faria assinalou o encerramento deste Dia Vicentino, tendo o prelado madeirense, na homilia, feito uma catequese a propósito das leituras proclamadas no primeiro domingo da Quaresma. Enalteceu o trabalho das Conferências de São Vicente de Paulo e referiu-se à mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma deste ano, tendo ressalvado alguns aspectos da mesma, dizendo que «temos de olhar para os pobres, para os necessitados, para os que sofrem, com os olhos de Cristo, pedindo ao Senhor que nos empreste os Seus olhos para através deles olharmos para estas dificuldades. Não com os nossos olhos, nem com os olhos da sociologia nem da filantropia humana (que é boa). Esses não são os olhos que Deus nos quer dar para olharmos para os nossos irmãos carenciados. Temos de olhá-los através do modo como Ele olhou para os doentes, para os pobres, para os que têm saúde, porque podemos não ter chagas no corpo e ter problemas terríveis na nossa alma. Não há ninguém que não tenha problemas que não mereça a atenção de ser visto com os olhos de Cristo». Referiu ainda outro ponto daquela mensagem e acentuou que «a medicina pode curar muitas doenças, os hospitais, os lares, as casas de caridade podem estar muito bem apetrechados, como estão os nossos hoje, mas há qualquer coisa que nem os Estados nem os hospitais podem substituir, que é o coração misericordioso daquele que está junto à pessoa que sofre, que o ama e que leva a sua presença de amor. E esse não pode ser substituído, pela pessoa fria que trata o doente como se fosse um objecto». Recordou que «a especialidade dos Vicentinos foi sempre o contacto directo com o que sofre, o carenciado», sublinhando ainda que «a caridade do Vicentino é ele próprio e não o dom que ele leva. O Vicentino é que é um dom precioso para tantos carenciados». D. Teodoro de Faria apelou a todos os Vicentinos que vivam esta Quaresma como um tempo de misericórdia, continuando empenhados na importante tarefa que realizam. O prelado funchalense recordou as recentes visitas que efectuou às Misericórdias da Madeira, onde, como disse, notou que todas elas têm um bom aspecto, um bom funcionamento, e onde os utentes se sentem bem. Disse que nessas Instituições encontrou corações bons de pessoas que, tendo o espírito cristão, se dedicam aos idosos que sofrem. D. Teodoro de Faria disse que a Igreja não tenciona fazer mais lares ou centros sociais, pois «com as actuais formas de funcionamento é muito complexo geri-los», acentuando que as actividades que desenvolvem são muito importantes, «porque a misericórdia não vem dessas estruturas, mas de uma caridade que brota de um coração compadecido». Sílvio Mendes/Jornal da Madeira