Viana do Castelo: Despedimentos nos estaleiros podem impedir que empresa se afunde, diz bispo

D. Anacleto Oliveira afirma que redução de 380 dos 720 postos de trabalho é medida tomada «entre dois males»

Viana do Castelo, 21 jun 2011 (Ecclesia) – O bispo de Viana do Castelo considera que a redução de 380 dos 720 postos de trabalho nos estaleiros navais da cidade pode contribuir para impedir o fecho definitivo da empresa.

“Estamos entre dois males: o mal de um conjunto de pessoas que vai para o desemprego e o mal de uma empresa que, como está, não tem hipótese de sobreviver”, disse hoje D. Anacleto Oliveira à Agência ECCLESIA.

O prelado considera que “uma empresa com 200 milhões de euros de dívidas, e cujos débitos se agravam, não tem futuro”, mas sublinha o “lado humano e cristão” dos operários atingidos pela diminuição dos recursos humanos, anunciada esta segunda-feira pela administração dos estaleiros.

“O que podemos fazer é acolher essas pessoas e ajudá-las”, e ao mesmo tempo “pedir a Deus que a empresa não feche porque é fundamental para a cidade, para o distrito e para o país”, salientou Anacleto Oliveira.

Antes de anunciar ações de apoio aos trabalhadores, o bispo vai falar com os párocos das duas paróquias onde reside a maioria dos trabalhadores afetados, localizadas em Viana do Castelo, 400 km a norte de Lisboa.

Anacleto Oliveira diz ter “confiança fundamentada” no presidente do Conselho de Administração, Carlos Veiga Anjos: “Falei com ele mais do que uma vez. É uma pessoa que está a dar a pele pela empresa, que não precisa do cargo e que faz o seu trabalho sem receber nada”.

“Embora alguns trabalhadores tenham posto em causa a seriedade da administração, estou convencido que essa posição não corresponde ao que os operários realmente acreditam, porque eles sabem bem os esforços que têm sido feitos”, salienta o bispo, acrescentando que a decisão “foi ponderada e adiada” durante “vários meses”.

Baseando-se nos contactos que teve com o presidente dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, Anacleto Oliveira diz saber que “os despedimentos são uma medida muito dolorosa” para a administração, “mas na situação atual ela não vê outra hipótese perante o perigo de a empresa se afundar muito mais”.

“Se é para reduzir efetivos para tornar isto apetecível para um privado qualquer estrangeiro vir apoderar-se do que é nosso, obviamente que nem nós, trabalhadores, nem a comunidade vianense o vamos aceitar”, afirmou o coordenador da Comissão de Trabalhadores da empresa, António Barbosa, citado pela Lusa.

O prelado diz sentir-se próximo das pessoas afastadas: “Estou solidário no sentido de encontrar a melhor solução para que os trabalhadores consigam encontrar novos empregos, ajudando-os a enfrentar de modo mais humano e feliz a nova situação. Nisso podem contar comigo”.

Depois de afirmar que desconhece dificuldades económicas noutras grandes empresas sediadas na região, o bispo de Viana diz aguardar que o novo Governo, em quem deposita uma “esperança muito grande”, saiba agir com “coragem e verdade”.

Para Anacleto Oliveira, a aplicação das medidas de austeridade pode “facilmente” ser acompanhada de “injustiças”, nomeadamente quando se cortam apoios “nos elos mais fracos e com menos meios para defender os seus direitos”.

RM

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