Especial: De operário fabril a bispo diocesano – D. Anacleto Oliveira percorre os 50 anos de sacerdote e dez anos de entrada na Diocese de Viana do Castelo (c/vídeo)

Bispo deixa que «o passado fale de outra maneira sem ser apenas através da memória»

Viana do Castelo, 14 ago 2020 (Ecclesia) – O bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, celebra 50 anos de sacerdote e 10 anos de entrada na diocese, assumindo que no Minho se “sente bem”. 

“O número 50 é uma convenção humana não é por isso que tenho uma sensação especial, agora é altura de rever a vida mas não tenho tempo para isso, tenho mais em que pensar e deixo que o passado fale de outra maneira, sem ser apenas através da memória, eu sou um monte de coisas que se foram acumulando nestes 50 anos de padre”, disse, em entrevista à Agência ECCLESIA. 

Apesar de 50 anos de sacerdócio, o bispo confirma que ainda “sente um nervosinho” antes de cada celebração, algo que encara bem e o faz concentrar sentido que é “qualquer coisa que se torna útil”. 

Natural da Diocese de Leiria-Fátima, D. Anacleto Oliveira recorda que Fátima teve influência na sua escolha vocacional.

Lembro-me do meu primeiro sinal de vocação, de interesse pela vida sacerdotal foi em Fátima, onde ia no verão com a minha mãe e numa noite em que a minha mãe rezava e eu dormia, quando acordei, já de manhã, vi uma figura de homem a dar a comunhão e pensei: e um dia se eu fizesse o mesmo? Tocou-me profundamente mas depois esqueci-me e só veio à memória a recordação muitos anos depois”.

Em tempos de seminário viveu o Concílio Vaticano II (1962-1965), o que o fez ver “aquelas transformações de abertura ao mundo” e, de acordo com os superiores quis ter uma experiência de amadurecimento. 

“Eu e um colega já tínhamos programado um estágio numa fábrica de vidros na Marinha Grande, queríamos fazer uma experiência fora do seminário, que nos amadurecesse em vários campos, mas só lá estivemos dois meses, na área da contabilidade e falávamos muito com os operários e a ver aquela arte”, explica.

D. Anacleto Oliveira recorda que foi chamado para estudar fora, em Roma e depois na Alemanha, “experiências muito ricas”.

“Dois meses depois de estar na Alemanha, fui-me apresentar ao capelão da comunidade portuguesa, comecei a colaborar e foi uma experiência muito rica ao nível pastoral, cerca de dez anos, mesmo na minha tese de doutoramento escrevi que não sabia a quem agradecer mais, se aos bancos da universidade ou à comunidade portuguesa”, desvenda.

Entre o chamamento do núncio apostólico para bispo e a sua ordenação D. Anacleto viveu “os meses mais duros” da sua vida, entre a nomeação e a ordenação, “um clima de vazio e de ansiedade”. 

A gente antes de ‘entrar no barulho’ imagina tudo, põe as hipóteses todas, depois senti um alívio muito grande, eu disse-o publicamente e daí para a frente as coisas correram”.

Já bispo D. Anacleto esteve durante cinco anos ao serviço do patriarcado de Lisboa, numa altura em que aconteceu o ano Paulino, e a 15 de agosto de 2010 entrou na diocese de Viana do Castelo. 

“Estava um calor infernal nesse dia, vim para aqui às escuras, não conhecia o Minho nem procurei conhecer, apenas me informei o que era Viana do Castelo e vim à aventura”, lembra. 

Dez anos depois o prelado sente-se bem no Minho, quando está fora sente saudades e gosta da “maneira de ser minhota, extrovertida e brincalhona”.

“Eu sinto-me bem aqui e quando estou fora sinto saudades de Viana, é difícil não se enamorar por esta diocese, encontramos aqui pessoas tão boas e de quem recebemos muito e muitas lições, são pessoas muito abertas à mensagem que procuramos transmitir e isso é compensador para nós”, assume. 

Em tempo de pandemia D. Anacleto Oliveira disse no programa ECCLESIA, emitido esta quinta-feira, na RTP 2, que sente falta de estar no meio do povo, “sendo das coisas mais duras” para si “não poder conviver e viver” no meio do povo.

Outra das descobertas do bispo de Viana do Castelo foi a figura de São Bartolomeu dos Mártires, que “não conhecia” e “devorou um livro” sobre ele que depois o levou a convocar o ano jubileu pelos 500 anos de nascimento, iniciado em 2014.

“Descobri uma afinidade com o Papa Francisco e pensei que precisava de o dar a conhecer mais e organizámos um ano jubilar para dar a conhecer a toda a diocese e penso ter sido um ano proveitoso”, concluiu. 

LFS/SN

 

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Agência ECCLESIA

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