Viagem corajosa e oportuna, diz Esther Mucznik

Um acto de coragem que acontece na altura certa. Assim define Esther Mucznik a viagem que Bento XVI inicia hoje a Israel. “Louvo a coragem do Papa de viajar nesta altura. É nos momentos difíceis que estas iniciativas podem ter um papel mais relevante”, defende a investigadora de assuntos judaicos à Agência ECCLESIA. A viagem que o Papa realiza até ao próximo dia 15, carrega ainda “alguns ressentimentos”. Para além da situação política “que é sempre conturbada”, os episódios em torno da negação do Holocausto por parte do Bispo Williamson e a memória do discurso de Bento XVI, na Universidade de Regensburg, em 2006, podem ser causa de excessos. Do ponto de vista “pelo menos oficial”, quer do lado israelita como do lado palestiniano “não irão interferir na viagem do Papa”, vaticina, mas “tudo dependerá, por vezes, até de algum excesso ou radicalismo que possa surgir”. Para isso “não é preciso muito”. Esther Mucznik afirma que apesar de a maioria da população, estar numa “atitude de simpatia e expectativa quanto à visita, nada garante que não haja excessos de radicalismo”. Esta é uma viagem com uma “forte carga simbólica”. A comparação com João Paulo II “é injusta mas inevitável”. Enquanto judia, Esther Mucznik gostaria de ver Bento XVI tomar uma explícita posição em relação ao Holocausto. Isto apesar de “do lado judaico as coisas estarem resolvidas e de o Papa já ter tomado uma clara posição sobre esta matéria”. No entanto, numa altura em que “de novo” se ouvem declarações negacionistas sobre o Holocausto, “Bento XVI deveria, no memorial de Yad Vashem, um lugar altamente simbólico, pronunciar-se claramente sobre esta questão”. “Ninguém tem dúvidas em relação à sua posição, mas o problema continua a existir e tende a banalizar-se”, correndo o risco de “a própria humanidade perder memória”. “Na sequência de posições anti-Israel, não pode ser permitido a negação do Holocausto”, sublinha. Esther Mucznik aponta o encontro com os seis sobreviventes do Holocausto, no memorial mais simbólico do sofrimento judaico e perante os sobreviventes, “o local ideal para condenar as negações do Holocausto”. Também sobre o fundamentalismo religioso a investigadora em assuntos judaicos considera ser importante uma posição, pois “a violência religiosa e o fundamentalismo religioso são um obstáculo à paz”. Os problemas existentes “são políticos e vai ser resolvidos politicamente”, até porque “a paz não será feita através do diálogo inter-religioso”. No entanto, o incentivo religioso para a paz é também importante, sendo “inadmissível a violência em nome de Deus e, como tal, nenhum líder religioso pode ficar indiferente quando se mata em nome de Deus”. Bento XVI vai encontrar-se com os líderes religiosos, e esta seria uma “boa oportunidade para denunciar algo corrente na região”, aponta Esther Mucznik. Este seria um contributo “político mas também religioso”.

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