Vaticano: Seminário «não é um refúgio para falhas psicológicas», alerta o Papa

Francisco conversa com o psicólogo Salvo Noé, em livro dedicado ao «medo»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 22 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa apelou a uma maior vigilância dos seminários relativamente à avaliação psicológica dos candidatos ao sacerdócio, em particular após a crise dos abusos sexuais de menores por parte do clero.

“O seminário não é um refúgio para as muitas limitações que possamos ter, nem é um refúgio para falhas psicológicas”, assinala, numa entrevista ao o psicólogo Salvo Noé que vai ser editada a 25 de janeiro no livro “O Medo como dom”.

Em partes da conversa divulgada hoje pelo portal ‘Vatican Media’, Francisco sustenta que “ao iniciar um processo vocacional, é necessário avaliar de forma integral o modo de vida, o aspeto psicológico, as relações interpessoais da pessoa que deseja embarcar no caminho entrando no seminário”.

“É melhor perder uma vocação do que arriscar com um candidato inseguro”, aponta, observando que “é necessário notar, antes da ordenação sacerdotal, se há inclinações para abusos”.

O Papa deseja que, nos seminários, sejam formados “sacerdotes e consagrados maduros, especialistas em humanidade e proximidade, e não funcionários do sagrado”, sustentando que “a maior perversão na Igreja é a de sacerdotes carreiristas e a mundanidade”.

A entrevista, que abre o livro, aborda a experiência de Francisco desde a sua eleição pontifícia, a 13 de março de 2013, abordando temas como o acolhimento de pessoas homossexuais e migrantes, entre outros.

“Deus é Pai e não renega nenhum de seus filhos”, assinala o Papa, rejeitando atitudes de “julgamento e marginalização”, por considerar que “o amor não divide, mas une”.

Francisco critica particularmente quem promove um discurso de ódio contra os migrantes “para causar medo nas pessoas”.

O Papa alerta para um modo de vida “dominado pelo egoísmo e uma cultura do desperdício”, defendendo uma “conversão ecológica”.

A conversa aborda o tema central da obra, o “medo”.

“Uma pessoa escravizada pelo medo não se move, não sabe o que fazer: tem medo, concentra-se sobre si mesma, esperando que algo de mau aconteça. Portanto, o medo leva a um comportamento que paralisa”, observa Francisco.

O Papa aponta ao dedo ao “medo da verdade”, que leva à hipocrisia, considerando-a “particularmente detestável” quando acontece na Igreja.

Recordando o Conclave de 2013, Francisco refere que “não esperava ser eleito”, referindo ter sentido “paz e tranquilidade” ao assumir esta nova missão.

A entrevista aborda o quotidiano do Papa na Casa Santa Marta, destacando que “a proximidade com as pessoas, a capacidade de se confrontar, de fazer coisas juntos é o verdadeiro antídoto para o medo”.

“A solidão é o verdadeiro mal da nossa sociedade. Todos conectados com os telemóveis, mas desconectados da realidade”, adverte.

OC

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