Vaticano: Rezar como quem rega uma planta, o conselho do Papa para a oração

Francisco alerta para concentração excessiva em «realidades secundárias» e para a incapacidade de «parar»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 16 out 2022 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje no Vaticano que os cristãos dediquem tempo diário à oração, como se regassem uma planta, evitando a concentração excessiva em “realidades secundárias”.

“Precisamos da água da oração diária, de um tempo dedicado a Deus, para que Ele possa entrar no nosso tempo, na nossa história, de momentos constantes nos quais lhe abrimos nossos corações, para que Ele possa derramar sobre nós todos os dias amor, paz, alegria, força, esperança; isto é, nutrir a nossa fé”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, antes da recitação do ângelus.

Perante cerca de 20 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, Francisco lamentou que muitos negligenciem a vida espiritual e deixam que “o amor por Deus arrefeça”.

“Pensemos numa planta que temos em casa: temos de regá-la com constância, não podemos encharcá-la e depois deixá-la sem água por semanas”, exemplificou.

A oração é o remédio da fé, o reconstituinte da alma. Porém, deve ser uma oração constante. Se tivermos de seguir um tratamento para melhorar, é importante observá-lo bem, tomar os medicamentos de maneira correta e na hora certa, com constância e regularidade. Tudo na vida precisa disso”.

Admitindo que o ritmo da vida contemporânea dificulta os tempos de oração e silêncio, o Papa recomendou que se retome a “prática espiritual sábia” das chamadas orações jaculatórias.

“São orações muito curtas, fáceis de memorizar, que podemos repetir com frequência durante o dia, no decorrer das várias atividades, para ficar em sintonia com o Senhor”, precisou.

Francisco deu alguns exemplos dessas orações: “Senhor, eu te agradeço e te ofereço este dia”; “Vem, Espírito Santo”; “Jesus, eu confio em ti e te amo”.

“Com quanta frequência enviamos pequenas mensagens às pessoas que amamos: façamos isso também com o Senhor, para que os nossos corações permaneçam ligados a Ele. E não nos esqueçamos de ler as suas respostas”, indicou.

O Papa aconselhou a ter “sempre à mão” os Evangelhos, numa edição de bolso: “Quanto tiverem um minuto, abram e leiam alguma passagem”.

A reflexão partiu de uma passagem do Evangelho segundo São Lucas lida nas celebrações deste domingo: “Quando o Filho do Homem vier, encontrará porventura a fé sobre a terra?” (Lc 18,8).

“É uma pergunta séria. Imaginemos que o Senhor viesse hoje à Terra: Ele veria, infelizmente, tantas guerras, pobreza e desigualdades, e ao mesmo tempo grandes conquistas da técnica, meios modernos e pessoas sempre a correr, sem nunca parar. Mas encontraria os que lhe dedicam tempo e afeto, que o colocam em primeiro lugar?”, referiu Francisco.

Foto: Vatican Media

Após a oração do ângelus, o Papa recordou que um milhão de crianças vão rezar o terço pela paz, a 18 de outubro, numa iniciativa da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

“Obrigado a todas as crianças que vão participar. Unamo-nos a eles e confiemos à intercessão de Nossa Senhora o martirizado povo ucraniano e a todos os povos que sofrem por causa da guerra e qualquer forma de violência e miséria”, declarou.

Em Portugal, a iniciativa concentra-se na Capelinha das Aparições, Santuário de Fátima.

“Este ano, a Ucrânia está obviamente no pensamento de todos, mas não serão esquecidos outros países com conflitos e que também conhecem os horrores da violência, da guerra, do terrorismo, da destruição e da morte”, precisa o secretariado português da AIS.

Francisco falou ainda do Dia Internacional para a Erradicação da Miséria, que se assinala esta segunda-feira, apelando à construção de uma sociedade “onde ninguém se sinta excluído, por ser indigente”.

Os peregrinos presentes na Praça de São Pedro aplaudiram ainda a beatificação de dois sacerdotes, martirizados pelos nazis no norte da Itália, a 19 de setembro de 1943, durante a II Guerra Mundial: Giuseppe Bernardi e Mario Ghibaudo.

“No perigo extremo, não abandonaram o povo a eles confiado, mas ajudaram-no até o derramamento de sangue, partilhando o trágico destino de outros cidadãos, exterminados pelos nazis. Que o seu exemplo desperte nos sacerdotes o desejo de serem pastores de acordo com o coração de Cristo, sempre perto do seu povo”, afirmou o Papa.

OC

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Agência ECCLESIA

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