Vaticano: Representante do Papa recorda guerra «esquecida» na Síria

Cardeal Mario Zenari destaca impacto de 11 anos de conflito

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 15 mar 2022 (Ecclesia) – O representante diplomático do Papa na Síria, cardeal Mario Zenari, evocou hoje os 11 anos de conflito no país, falando numa guerra

“A guerra ainda não terminou, mas há alguns anos que a Síria parece ter desaparecido do radar dos media, com a crise libanesa, depois a Covid-19 e agora a guerra na Ucrânia”, disse o núncio apostólico em Damasco, numa entrevista ao portal de notícias do Vaticano.

O ‘Vatican News’ recorda um cenário de “casas destruídas, falta de alimentos, água e medicamentos, violência, saques, pessoas em fuga”.

“A catástrofe síria ainda é o desastre humanitário mais grave causado pelo homem desde o final da II Guerra Mundial. Ainda não há sinais de reconstrução ou de recuperação económica”, denuncia o cardeal Zenari.

O representante diplomático do Vaticano fala num processo de paz “paralisado” e do impacto das sanções económicas sobre a Síria, onde a fome ameaça a população.

Entre hoje e quinta-feira decorre a conferência “A Igreja, Lar da Caridade”, com representantes de instituições católicas e agências humanitárias; a Santa Sé vai estar presente através do cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e alguns membros dos organismos da Cúria Romana.

“Mais da metade, talvez dois terços, dos cristãos deixaram a Síria. Nesses conflitos, os grupos minoritários são o elo mais fraco”, aponta D. Mario Zenari.

Esta é outra grande desgraça que aconteceu com a Síria: cair no esquecimento. Este esquecimento magoa muito as pessoas”.

Falando nos mercenários sírios que combatem na Ucrânia e outros locais, o núncio apostólico assinala que está é “uma doença causada pela guerra”.

“Muitos jovens estão sem emprego, aprenderam a manusear armas e alistam-se a troco de algumas centenas de dólares”, adverte.

O diplomata considera “triste ver repetidas na Ucrânia as mesmas imagens angustiantes de dor vistas na Síria: bairros destruídos, mortes, milhões de refugiados, o uso de armas não convencionais como bombas de fragmentação, o bombardeamento de hospitais e escolas”.

“Ver exatamente a mesma descida ao inferno que se viu na Síria”, adverte.

No discurso anual ao corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, que pronunciou a 10 de janeiro, Francisco destacou a crise na Síria, “onde não se vê ainda um horizonte claro para o renascimento do país”.

“Ainda hoje o povo sírio chora os seus mortos, a perda de tudo e espera por um futuro melhor. São necessárias reformas políticas e constitucionais, para que o país renasça, mas é preciso também que as sanções aplicadas não atinjam diretamente a vida quotidiana, oferecendo um vislumbre de esperança à população, cada vez mais aflita pela pobreza”, advertiu.

OC

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