Vaticano: Renúncia é «novidade» assumida com «serenidade» por Bento XVI

Fim do pontificado em situações que configuram abdicação acontece menos de uma vez em cada 30 pontificados

Cidade do Vaticano, 28 fev 2013 (Ecclesia) – A renúncia de Bento XVI ao pontificado, que hoje se concretiza, foi assumida pelo próprio como uma “novidade” e é um facto virtualmente sem precedentes na história da Igreja Católica.

“Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito”, disse o Papa, em italiano, na última audiência pública do pontificado, esta quarta-feira.

A Igreja Católica não tinha visto qualquer Papa resignar desde 1415, com a abdicação de Gregório XII e segundo o jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’, “a reconstrução histórica dos casos em que um pontificado foi interrompido antes da morte do Papa conduz a pouquíssimas figuras e em nenhum caso a uma situação como a que se verificou com a decisão de Bento XVI”, anunciada no último dia 11.

Em abril de 2009, Bento XVI realizou um gesto simbólico ao depositar o pálio – insígnia pessoal e de autoridade – junto da porta santa da Basílica de de Collemaggio, de L’Aquila (Itália), que lhe fora imposto no dia do início de pontificado, em cima do relicário com os restos mortais do Papa Celestino V (1215-1296), pontífice que governou a Igreja Católica apenas durante uns meses, em 1294.

O vice-prefeito da Biblioteca do Vaticano, Ambrogio Piazzoni, autor da obra ‘A história das eleições papais’, explicou em conferência de imprensa que nem todos as situações dos bispos de Roma que abdicaram do pontificado são iguais: “Alguns [saíram] mais ou menos obrigados, outros de livre vontade”.

O primeiro caso foi o Ponciano, em 235, condenado a trabalhos forçados na “minas de metal” da Sardenha, seguindo-se Silvério, no ano de 537, obrigado a abdicar por Belisário, general bizantino, e exilado para a Ásia Menor.

São Martinho I, eleito em julho de 649, foi exilado após julgamento em Constantinopla, situação que alguns consideram como renúncia.

“Enquanto estava no exílio, teve notícia da eleição de um novo Papa. Escrevendo à comunidade de Roma, mostra-se algo desiludido, mas disse aceitar o sucessor de bom grado”, declarou o vice-prefeito da Biblioteca do Vaticano.

Outros casos são o de João XVIII, que terminou o pontificado em 1009 e o de Bento IX, em 1044, que renunciou voluntariamente mas voltou a ser Papa noutro período.

São Celestino V, eleito após um longo período de Sé vacante, levou a cabo uma “investigação jurídica” sobre a possibilidade de renúncia do Papa, antes de apresentar a sua resignação, cinco meses após a sua eleição, em 1294.

O último caso antes da renúncia de Bento XVI tinha sido o de Gregório XII, em 1415, no Concílio de Constança (Alemanha), abrindo caminho à eleição de Martinho V para resolver o cisma do Ocidente, divisão entre católicos que obedeciam ao Papa de Roma e ao ‘antipapa’ de Avinhão, fomentada por questões políticas.

No total, em mais de 260 Papas, as situações que podem configurar uma abdicação acontecem menos de uma vez a cada 30 pontificados.

OC

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