Vaticano: Relatório assume falhas no caso do antigo cardeal McCarrick, acusado de abusos sexuais (c/vídeo)

Bispo emérito de Washington foi condenado, em 2019, com a demissão do estado clerical

Cidade do Vaticano, 10 nov 2020(Ecclesia) – O Vaticano divulgou hoje o relatório relativo ao processo que envolveu o antigo cardeal McCarrick, arcebispo emérito de Washington, acusado de abusos sexuais, admitindo erros na gestão do caso.

A Santa Sé distribuiu aos jornalistas um dossiê publicado pela Secretaria de Estado, com os documentos e os testemunhos que contam o caso do antigo responsável norte-americano, de 90 anos, que em 2019 foi demitido do estado clerical.

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, fala num trabalho de dois anos que exigiu o “exame cuidadoso de toda a documentação relevante dos arquivos da Santa Sé, da Nunciatura em Washington e das dioceses dos Estados Unidos envolvidas” neste caso.

“Publicamos o Relatório com tristeza pelas feridas causadas às vítimas, às suas famílias, à Igreja nos Estados Unidos, à Igreja universal”, indica o colaborador do Papa.

O relatório revela que antes da criação cardinalícia do arcebispo McCarrick, em 2000, houve denúncias de abusos sexuais contra o responsável católico que terão sido consideradas infundadas pelo Papa de então, João Paulo II.

Ao longo de mais 400 páginas são apresentados documentos e testemunhos, naquele que é o primeiro texto do género a ser publicado pelo Vaticano sobre a gestão de um caso de abuso de menores.

A Santa Sé rejeita responsabilidades do Papa Francisco nesta matéria, sublinhando que após ter conhecimento de “alegações credíveis” contra o responsável norte-americano, este foi removido do Colégio Cardinalício (2018) e, mais tarde, do estado clerical.

As novas medidas contra abusos sexuais de menores permitem que sejam agora tidas em consideração eventuais denúncias anónimas, o que não aconteceu no caso McCarrick.

“Nos últimos dois anos, enquanto decorria a investigação que conduziu a este Relatório, demos passos significativos para assegurar uma maior atenção à proteção dos menores e intervenções mais eficazes para evitar que certas decisões tomadas no passado se repitam”, indica o cardeal Pietro Parolin.

Andrea Tornielli, diretor editorial da Secretaria para a Comunicação do Vaticano, apresenta as várias etapas desta “página dolorosa” na história recente da Igreja Católica, assinalando que várias decisões foram tomadas a partir de “informações parciais e incompletas”.

“Até 2017, nunca nenhuma acusação fundamentada disse respeito a abusos ou assédios contra menores: assim que chegou a primeira denúncia de uma vítima menor na época dos factos, o Papa Francisco agiu de modo rápido e decidido em relação ao idoso cardeal, já retirado da condução da arquidiocese desde 2006”, escreve.

Segundo o relatório, nas várias nomeações episcopais de Theodore McCarrick, entre 1977 e 1986, “nenhuma das pessoas consultadas para obter informações forneceu indicações negativas sobre a conduta moral” do responsável.

Antes da nomeação de McCarrick como novo arcebispo de Washington, em 1999, o então arcebispo de Nova Iorque, cardeal O’Connor, manifestou o seu desacordo com a decisão, embora reconhecendo não ter informações diretas sobre eventuais casos de abusos, falando no risco de “um grave escândalo”.

O Vaticano realça que João Paulo II conhecia McCarrick desde 1976, ainda antes da sua eleição pontifícia, e que este escreveu ao secretário pessoal do Papa polaco, D. Stanislaw Dziwisz, para se manifestar inocente de todas as acusações que lhe eram dirigidas.

Em 2006, Bento XVI retirou o então arcebispo de Washington do cargo, com recomendações para que este levasse uma vida mais reservada e em compromissos públicos, o que não veio a acontecer.

Entre as várias viagens internacionais do antigo responsável que são elencadas no relatório encontram-se três passagens por Portugal, sempre no mês de agosto, em 1987, 1992 e 2000.

OC

 

Em fevereiro de 2019, a Congregação para a Doutrina da Fé concluiu o julgamento do ex-cardeal McCarrick, condenando-o com a pena de “demissão do estado clerical”.

No dia 28 de julho de 2018, o Papa Francisco tinha-o suspendido do exercício público do ministério Daceitando a sua renúncia como membro do Colégio Cardinalício; cerca de um mês depois, seria tornada pública uma carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo núncio nos EUA, onde se acusava o Papa de ter encoberto denúncias de abusos sexuais, suspeitas que são rejeitadas no novo relatório divulgado hoje.

 

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Agência ECCLESIA

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