Vaticano reafirma «exclusividade» da Igreja

Novo documento da Congregação para a Doutrina da Fé critica relativismos ou indiferentismos religiosos A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) publicou esta Sexta-feira um “Nota Doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização” onde reafirma a necessidade da pertença à Igreja Católica para a salvação e critica os relativismos ou indiferentismos que colocam no mesmo plano todas as religiões. “O Reino de Deus não é, como alguns hoje sustentam, uma realidade genérica que domina todas as experiências ou as tradições religiosas”, pode ler-se, “mas é acima de tudo uma pessoa, que tem o rosto e o nome de Jesus de Nazaré”. O documento, assinado pelos responsáveis máximos da CDF e aprovado por Bento XVI, aponta o dedo a quem defende que “basta ajudar os homens a serem mais homens ou mais fiéis à sua própria religião”, em vez de “favorecer uma conversão a Cristo e à fé católica”. Este documento segue, em vários pontos, a linha da declaração “Dominus Iesus” do ano 2000, assinada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. Ali se defendia a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja. A CDF vem, agora, afastar as acusações de quem vê na “pretensão de ter recebido em dom a plenitude da Revelação de Deus” uma atitude “de intolerância e um perigo para a paz. “Solicitar honestamente a inteligência e a liberdade de uma pessoa no encontro com Cristo e o seu Evangelho não é uma indevida intromissão em relação a ela, mas uma legítima oferta e um serviço que pode tornar mais fecundas as relações entre os homens”, aponta. Contra a “canonização do relativismo”, expressão tirada de um discurso de Bento XVI, a Congregação vaticana apresenta um conceito de liberdade que é “tensão para o bem” e não indiferença. O Cardeal William Levada, actual presidente da Congregação, e o Arcebispo Angelo Amato, secretário do mesmo organismo, mostram-se críticos em relação aos que “defendem que não se deveria anunciar Cristo a quem não O conhece, nem favorecer a adesão à Igreja”, pois seria possível ser salvos “mesmo sem um conhecimento explícito de Cristo e sem uma incorporação formal à Igreja”. O Vaticano defende-se de quem vê na evangelização um “atentado à liberdade dos outros” e de quem apresenta a “legítima pluralidade de posições” como se isso significasse que “todas as posições são equivalentes” em termos religiosos. Para a CDF, estamos na presença de formas de “agnosticismo e relativismo” no pensamento contemporâneo que levam à “desconfiança na verdade”. A CDF apresenta a evangelização, ao longo deste documento, em paralelo com expressões como “diálogo”, “anúncio”, “aprendizagem”, “testemunho” ou “amizade”. Retoma-se, neste âmbito, a proibição de “obrigar” alguém a abraçar a fé com “processos indiscretos” ou qualquer tipo de pressão. Segundo o Vaticano, é necessário responder à “crescente confusão” em torno da acção missionária da Igreja, baseada na convicção de que “a realização definitiva da vocação da pessoa humana está na revelação de Deus em Cristo, como anunciada pela Igreja”. O anúncio das próprias convicções a outras pessoas é, aliás, apresentado como parte integrante do direito à liberdade religiosa, algo que “infelizmente em algumas partes do mundo, não é ainda legalmente reconhecido”. Um último capítulo é dedicado às implicações ecuménicas destas posições, sendo referido que o diálogo com cristãos de outras confissões “não priva do direito nem exime da responsabilidade de anunciar em plenitude a fé católica”, eviatando “qualquer indevida pressão”. Esta é uma questão particularmente sensível nas relações com os ortodoxos russos. “Se um cristão não católico, por razões de consciência e convicto da verdade católica, pede para entrar na plena comunhão da Igreja Católica, há que respeitar tal passo como obra do Espírito Santo e como expressão da liberdade de consciência e de religião”, afirma o texto. O documento da CDF faz questão de rejeitar o proselitismo, entendido num sentido negativo de “publicidade para a própria religião com meios e motivos contrários ao espírito do Evangelho e que não salvaguardam a liberdade e a dignidade da pessoa”. Em conclusão, é pedido aos católicos que não abdiquem do compromisso de anunciar a sua fé por causa dos “relativismos e irenismos de hoje em âmbito religioso”.

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