Análise do passado deve ajudar a corrigir respostas desadequadas das instituições, incluindo a Igreja
Lisboa, 03 nov 2011 (Ecclesia) – O promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) afirmou que a Igreja deve cooperar com a “autoridade civil” nos casos de abusos sexuais de menores por membros do clero ou em instituições eclesiais.
Numa intervenção hoje publicada pelo portal de notícias do Vaticano, news.va, monsenhor Charles Scicluna assinala que “o abuso sexual de menores não é apenas um delito canónico ou a violação de um código de conduta interno de um instituto, religioso ou não”.
O responsável pelo ministério público do tribunal da CDF, organismo da Santa Sé, falava num seminário internacional sobre a proteção de menores, em Roma.
Neste contexto, foi citada a carta circular da Congregação, publicada em maio deste ano, na qual se determinava o seguimento das “prescrições das leis civis no que toca o remeter os crimes às autoridades competentes, sem prejudicar o foro interno sacramental”.
“É evidente que esta colaboração não se refere só aos casos de abuso cometidos por clérigos, mas diz respeito também aos casos de abuso que implicam o pessoal religioso ou leigo que trabalha nas estruturas eclesiásticas”, indicava a CDF.
Monsenhor Charles Scicluna falou também na importância de “revelar os abusos” que possam ter acontecido, denunciando-os às “autoridades superiores”.
“Quando a denúncia diz respeito a ministros religiosos, a divulgação pode ser dificultada por considerações erróneas e deslocadas de lealdade e pertença”, referiu o responsável.
A intervenção apelou a uma “análise honesta” para “perceber o que não funcionou nos trágicos casos nos quais não se geriu a situação e nos quais a resposta aos abusos de menores foi desadequada, por causa de uma preocupação mal entendida pelo bom nome das instituições”.
Para o promotor de justiça da CDF, qualquer caso que envolva membros do clero “desacredita o sacerdócio ministerial e lança a sombra da delinquência, do crime e do comportamento errado sobre incontáveis representantes do clero e agentes pastorais inocentes”.
“Todos devemos reconhecer com honestidade intelectual e ter consciência do facto de que o abuso de um menor é uma trágica ferida para a dignidade da própria família humana”, prosseguiu.
Monsenhor Charles Scicluna considera que a Igreja Católica “sabe bem que todas as vezes que um dos seus ministros – seja um bispo, um sacerdote, um diácono ou um agente pastoral leigo – abusa sexualmente de um menor, uma trágica ferida é infligida à comunidade”, para lá do “indescritivelmente repugnante causado à criança”.
“As instituições, incluindo as Igrejas, fariam bem em mostrar a sua abertura à pesquisa e ao desenvolvimento no campo da prevenção dos abusos sobre menores”, observou.
OC