Vaticano: «Para a geração que começa a preparar o dia de amanhã o Papa Francisco é a primeira referência» – Ricardo Perna

Jornalista acreditado na Santa Sé percorre 10 anos de pontificado e aponta a nova forma de ser Igreja, «intenção inicial do Papa»

Foto: Ricardo Perna

Lisboa, 11 mar 2023 (Ecclesia) – Ricardo Perna, jornalista acreditado na Santa Sé, disse à Agência ECCLESIA que o Papa Francisco, eleito a 13 de março de 2013, é a referência para uma “geração que começa a preparar o dia de amanhã”, destacando a “vontade de ir ao encontro do mundo” e a “capacidade de falar para fora da Igreja”.

“Para a geração que começa a preparar o dia de amanhã o Papa Francisco é a primeira referência e vai haver muita curiosidade de o ver, do que vai fazer, e sabemos que o que o Papa faz, mesmo com as suas atuais limitações, é muito, muito forte”, afirma o vaticanista à Agência ECCLESIA, referindo-se à presença de Francisco na próxima edição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que vai decorrer de 1 a 6 de agosto.

O jornalista analisou alguns momentos do pontificado do Papa Francisco, recordando o momento da sua eleição, “onde o nome do cardeal Bergoglio não constava na lista dos jornalistas”.

“Havia alguma expetactiva de sequência, continuidade, que existia não se personificava na figura de Bergoglio e a principal surpresa era essa; depois a surpresa do nome e ao mesmo tempo de o ver aparecer na varanda, o “boa noite”, a primeira piada deixou muita gente sem saber o que pensar”, partilha. 

Ricardo Perna defende que o início do pontificado fica marcado com o pedido do cardeal Hummes, do Brasil: “não te esqueças dos pobres”.

O últimos anos desenrolaram-se na “busca pelas periferias” até ao Sínodo 2021-2024.

Há aqui uma vontade tão grande de ir ao encontro do mundo, nós podemos querer que o mundo mude, mas ir ao encontro do mundo para que, com o nosso exemplo, o mundo inevitavelmente mude, a mudança foi esta”.

O jornalista, atualmente a trabalhar na organização da JMJ Lisboa 2023, recordou algumas viagens do Papa Francisco a locais “não óbvios de visita de um Papa”, como Myanmar, República Centro Africana ou Iraque.

“Acima de tudo a capacidade que a Igreja tem e que o Papa tem de chamar a atenção para coisas que não estão na agenda mediática, esta capacidade da Igreja se antecipar e marcar o ritmo do mundo está muito presente no Papa Francisco”, sustanta.

O entrevistado lembrou o tempo de pandemia vivido em todo o mundo e a marca do dia 27 de março de 2020, quando Francisco percorreu a Paça de São Pedro, sozinho.

“Toda a gente, se pudesse, teria lá estado, não só os crentes, e isso marca a diferença, a capacidade do Papa falar para fora da Igreja, tocar a outras pessoas da Igreja”, indica.

Além desse momento Ricardo Perna cita ainda os “telefonemas individuais, o disco que se comprou na loja sem ninguém perceber”  como “gestos particulares do Papa mas que toca a todos e ajudam a criar uma imagem que lhe dá crédito”.

Segundo o entrevistado, depois da viagem ao Chile, em 2018, o Papa torna-se “muito mais duro” no tratamento da questões do abusos sexual de menores na Igreja.

“A viagem ao Chile marca a abordagem do próprio Papa, era o que dizemos em Portugal um abre olhos, algo não estava bem, havia um sistema por cima dos abusadores que estava podre e esta perceção mudou a maneira de abordar, o Papa tornou-se muito mais duro e produziu as mudanças que tornou a Igreja numa das instituições com legislação mais restritiva e avançada no que respeita ao combate do abusos de menores”, explica.

Ricardo Perna entende que a Igreja vive uma “mudança epocal” e que o grande legado do Papa vai ser a “transformação da forma de ser Igreja” e acredita ter sido a “intenção desde o início”.

Com a marca de um ano após o início da guerra da Ucrânia o vaticanista aponta que o Papa tem sido “muito claro no papel que lhe cabe, de pastor e chefe de Estado, com diferentes pronunciamentos”.

“Isso gera alguma dificuldade em controlar o que diz e isto demonstra esta capacidade diplomática, que acaba por deitar abaixo a ideia de que era um Papa do povo e pouco capaz, acho que este ano de guerra tem provado que o Papa é exímio na arte da diplomacia e na arte da pastoral”, destaca.

De olhos postos na JMJ Lisboa 2023, Ricardo Perna realça que há “grande expetativa e vontade em receber o Papa e ouvir o que tem para dizer”, considerando uma “oportunidade extraordinária para os jovens se colocarem perto do Papa e se mostrarem solidários com ele”.

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste domingo, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast

OC/SN

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Agência ECCLESIA

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