Vaticano: Papa telefona a missionária que cuida de 2500 crianças no Haiti

“A mensagem não era apenas para mim, era realmente um gesto para com as crianças e os mais pobres do Haiti”, disse a irmã Paësie

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 05 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa Francisco conversou telefonicamente, este sábado, com a irmã Paësie, que desde 1999 se encontra em Porto Príncipe, no Haiti, ao serviço dos mais desfavorecidos, tendo encorajado a missão da religiosa com a crianças na região.

“[O Papa] deu-me uma mensagem de incentivo e agradeceu-me pela presença junto das crianças. Assegurou-me das suas orações, o que realmente me tocou”, disse, em entrevista à Rádio Vaticano, informa o portal Vatican News.

A religiosa francesa confessa ter sido “uma grande surpresa” receber um telefonema do Papa: “O que também me surpreendeu nesse telefonema foi a voz do Santo Padre: senti uma grande doçura e bondade”.

A irmã Paësie revela que “imediatamente” partilhou a notícia com a comunidade, a equipa e algumas crianças, o que trouxe “alegria e esperança” para muitas pessoas.

“A mensagem não era apenas para mim, era realmente um gesto para com as crianças e os mais pobres do Haiti”, salientou.

É na favela de Cité do Soleil que a religiosa se dedica aos mais necessitados, lugar onde a Família Kizito, comunidade criada pela missionária, presta apoio a 2500 crianças.

“Há vários anos acontecem confrontos entre grupos armados nas favelas”, denuncia a irmã, acrescentando que se tornaram “cada vez mais poderosas” e se encontram “praticamente em todos os bairros da capital e também em várias cidades do interior”.

“As pessoas realmente vivem com medo de serem atacadas a qualquer momento. Quando um gangue invade um bairro, todos têm de se salvar. Vemos pessoas a correr com os seus filhos. As casas são incendiadas e isso paralisa completamente as atividades do país”, conta.

Seis religiosas da Congregação de Santa Ana foram sequestradas, em Porto Príncipe, por homens armados, e libertadas dias mais tarde.

Questionada sobre a razão de os gangues terem como alvo membros da Igreja, que está do lado dos mais frágeis, a missionária diz que os sequestros em Porto Príncipe “afetam todos os níveis da sociedade”.

“No caso das seis irmãs, é difícil dizer… Não tive a sensação de que a Igreja fosse um alvo específico. Eles agiram na esperança de obter um resgate. Às vezes, isso pode depender do estilo de vida das pessoas consagradas, padres ou freiras”, referiu a irmã, que acrescentou que não se pode “generalizar”.

Sobre o apoio da Igreja no local, a missionária conta que muitas mães manifestam gratidão pelo serviço ali prestado.

“Há alguns dias, algumas mães disseram-me: ‘Irmã, se a senhora não estivesse connosco, estaríamos todos mortos’. Acho que estavam a exagerar um pouco, mas é isso que elas pensam, é isso que elas expressam”, descreve.

“Às vezes até me pergunto como as pessoas conseguem sobreviver por vários dias sem comer e privando-se de absolutamente tudo. O Senhor está presente. Acho que a resposta é esta: Ele está presente para elas. Ele pode estar presente através de mim ou de alguma outra forma. Mas Ele nunca abandona os Seus filhos”

A irmã explica que quase todas as semanas novos bairros são invadidos e milhares de pessoas precisam de fugir, não podendo voltar às suas casas: “Muitas pessoas morrem a tentar voltar para casa”.

“Atualmente, vemos pessoas a dormir na rua com os seus filhos, algo que não existia antes em Porto Príncipe”, aponta.

LJ/PR

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Agência ECCLESIA

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