Francisco fala das viagens como uma «grande penitência», por ser pessoa de hábitos enraizados
Cidade do Vaticano, 13 mar 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco, que hoje completa dois anos de eleição, reafirmou em entrevista à televisão mexicana ‘Televisa’ que tem a “sensação” de que vai ter um pontificado “breve”.
“Eu tenho a sensação de que o meu pontificado vai ser breve, quatro ou cinco anos, não sei, ou dois, três. Bom, dois já passaram. É como uma sensação um pouco vaga. Mas sou eu que digo, talvez não”, referiu, após ter sido questionado sobre declarações anteriores no mesmo sentido.
Francisco admite que não tem motivos concretos para pensar dessa maneira e que é apenas “uma sensação”.
“O Senhor colocou-me [aqui] para uma coisa breve, nada mais”, precisa.
Neste contexto, o Papa elogia a “coragem” do seu predecessor, Bento XVI, que renunciou ao pontificado, entendendo que esse gesto “não deve ser considerado como uma exceção”, mas como uma “instituição”.
Francisco rejeita, no entanto, que se determine uma idade limite, como os 80 anos, para o exercício do pontificado, porque “o papado tem algo de última instância, é uma graça especial”.
O Papa argentino revela que visita e conversa telefonicamente com Bento XVI, um “avô sábio” a quem se pode pedir conselho.
“É leal até à morte”, assegurou.
O atual pontífice reitera que decidiu viver na Casa de Santa Marta, junto dos outros hóspedes, porque não teria “tolerado” a solidão do apartamento pontifício, um espaço “grande”, mas que não é “luxuoso, como alguns dizem”.
O antigo arcebispo de Buenos Aires recorda o conclave de 2013, revelando que durante a votação estava a rezar o terço e tinha “muita paz”.
“Diria mesmo inconsciência”, prossegue, considerando esta paz interior como “um sinal de Deus”, porque até hoje ainda não a perdeu.
Francisco chegou a Roma com “uma malinha pequena”, à espera de um conclave curto e sem qualquer expectativa de ser escolhido como Papa.
“Nisso quero ser sincero, para evitar histórias e assim”, realça.
A perceção de que algo diferente estava a acontecer teve lugar ao almoço do dia 13 de março, quando alguns cardeais o questionaram sobre a sua saúde.
Nessa mesma tarde, em duas votações, o conclave acabou.
“Para mim também foi uma surpresa”, recorda Francisco.
Ao surgir à varanda da Basílica de São Pedro, mais de uma hora depois, o novo Papa foi “espontâneo” tanto a rezar por Bento XVI como a pedir orações por si.
“Não sei, não preparei nada. Saiu, só”, explica.
Francisco rejeita a ideia de que teria alguma antipatia pelo ambiente do Vaticano e confessa que a sua “grande penitência” são as viagens, porque é uma pessoa de hábitos enraizados.
A jornalista mexicana questionou o Papa sobre a polémica surgida após a divulgação de uma mensagem privada em que Francisco aludia à ‘mexicanização’ da Argentina, por causa do narcotráfico.
“Não tem nada a ver com a dignidade do México, é como quando falamos de ‘balcanização’”, explicou.
O Papa gostaria de ver preservada a privacidade dos seus telefonemas e mensagens, agradecendo que muitas pessoas o façam, mas deixa claro que vai continuar a comportar-se da mesma forma.
“Se sentir que tenho de fazer alguma coisa, vou fazê-lo e corro o risco”, disse.
Em 24 meses de pontificado, o Papa Francisco visitou o Brasil, a Terra Santa, a Coreia do Sul, a Albânia, a Turquia, o Sri Lanka e Filipinas e a cidade francesa de Estrasburgo, onde passou pelo Parlamento Europeu e o Conselho da Europa; realizou também sete viagens em Itália e várias visitas a paróquias de Roma, numa das quais entrou de surpresa num bairro de lata.
Após a viagem à Terra Santa, reuniu no Vaticano, a 8 de junho de 2014, os presidentes de Israel e da Palestina para uma invocação pela paz, na qual participou também o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu I, um interlocutor privilegiado do Papa.
O papel de Francisco foi reconhecido pelos presidentes de Cuba e dos Estados Unidos da América, após o restabelecimento de relações diplomáticas, agradecendo a intervenção do Papa.
Ainda em 2014, Francisco visitou a sede da FAO em Roma e promoveu a assinatura de uma declaração conjunta inter-religiosa contra a escravatura.
Entre os principais documentos do atual pontificado estão a encíclica ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, e a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), tendo ainda iniciado um Sínodo sobre a Família, em duas sessões.
OC