Francisco critica insinuações «ofensivas e infundadas», surgidas à margem do caso de desaparecimento de Emanuela Orlandi
Cidade do Vaticano, 16 abr 2023 (Ecclesia) – O Papa Francisco saiu hoje em defesa de São João Paulo II (1920-2005), rejeitando o que considerou como insinuações “ofensivas e infundadas”, surgidas à margem do caso de desaparecimento de Emanuela Orlandi
“Certo de interpretar os sentimentos dos fiéis de todo o mundo, dirijo um pensamento agradecido à memória de São João Paulo II, por estes dias objeto de ilações ofensivas e infundadas”, disse, após a recitação da oração do ‘Regina Coeli’, perante milhares de pessoas na Praça de São Pedro.
Francisco falava após saudar os peregrinos que participam na celebração do Domingo da Divina Misericórdia, uma festa criada pelo Papa polaco, pontífice entre 1978 e 2005.
A intervenção respondia, indiretamente, a declarações de Pietro Orlandi, irmão de Emanuela Orlandi, filha de um funcionário do Vaticano que desapareceu no centro de Roma, no dia 22 de junho de 1983.
O caso foi reaberto em janeiro deste ano pelo promotor de Justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, também com base em pedidos feitos pela família da jovem desaparecida.
Na última terça-feira, Pietro Orlandi, acompanhado pela sua advogada, Laura Sgrò, foi recebido por Diddi para fazer declarações e oferecer a informação que tivesse em sua posse.
“A conversa com o promotor durou quase oito horas, como foi divulgado pelo próprio Orlandi, que, entre outras entrevistas, participou num programa de televisão italiano naquela noite [11 de abril], relatando as declarações feitas por um membro da ‘Banda della Magliana’ – uma organização criminosa que sempre foi mencionada no caso Orlandi – sobre supostas saídas noturnas de João Paulo II e outros comportamentos impróprios”, explica o portal de notícias do Vaticano.
Segundo o ‘Vatican News’, estas alegações são relatadas “num arquivo de áudio depositado no Escritório do Promotor de Justiça, que não têm provas corroborantes e que suscitaram uma onda de indignação geral”.
O antigo secretário particular de João Paulo II, cardeal Stanislaw Dziwisz, falou em “insinuações ignóbeis”, considerando as acusações contra o Papa polaco “falsas do começo ao fim, irreais, risíveis até ao ponto de comédia, se não fossem trágicas, até mesmo criminosas em si mesmas”.
O arcebispo emérito de Cracóvia associou-se, por outro lado, à “dor incompressível de uma família que não tem notícias da sua filha há 40 anos”, manifestando-lhe “todo o respeito, toda a preocupação, toda a proximidade”.
“Desde o primeiro momento, o Santo Padre [João Paulo II] encarregou-se do caso, agiu e fez com que outros agissem para que este tivesse um resultado feliz, nunca encorajou nenhuma forma de dissimulação, sempre demonstrou afeto, proximidade e ajuda das mais diversas maneiras à família de Emanuela”, relatou.
O cardeal espera “honestidade por parte de todos os envolvidos” e manifesta a esperança de que “a Itália, o berço universal da lei, saiba usar seu sistema jurídico para zelar pelo direito a uma boa reputação”.
Na sequência destas declarações, o Vaticano chamou de novo a advogada de Pietro Orlandi, que alegou sigilo profissional para se recusar a informar junto de quem foram ouvidas as insinuações que o seu cliente lançou sobre supostos hábitos do falecido Papa.
“Nem Pietro Orlandi nem Laura Sgrò decidiram fornecer ao promotor nomes ou elementos úteis sobre as fontes dessas declarações e a sua credibilidade. Teria sido essencial para o sistema judicial do Vaticano saber a origem dos boatos relatados por Orlandi. Infelizmente isso não aconteceu”, indicou este sábado o prefeito do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), Paolo Ruffini, em resposta a críticas da advogada.
Alessandro Diddi, professor de Direito Processual Penal da Universidade da Calábria, foi nomeado promotor da Justiça do Estado da Cidade do Vaticano em setembro de 2022.
OC
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