Francisco destacou exemplo de humildade e amor de Albino Luciani
Cidade do Vaticano, 04 set 2022 (Ecclesia) – O Papa destacou hoje o exemplo de vida de João Paulo I (1912-1978), que beatificou no Vaticano, pedindo uma Igreja “sorridente”, à imagem de Albino Luciani.
“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, um rosto sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não está zangada nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado”, disse, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro.
Perante milhares de fiéis que enfrentaram a chuva, Francisco deixou elogios à figura de João Paulo I, afirmando que este viveu “na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo”.
“Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mim mesmo no centro e procurar a glória própria”, acrescentou.
Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever. Nesta linha, exclamava: «O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’» (audiência geral, 06/09/1978)”.
O Papa citou várias intervenções do novo beato sobre o amor de Deus, “que se dá até ao fim, sem medida nem fronteiras”, um amor que “não se se apaga, nunca se eclipsa”.
“Somos chamados a purificar-nos das nossas ideias erradas sobre Deus e dos nossos fechamentos, a amá-lo a Ele e aos outros, na Igreja e na sociedade, incluindo aqueles que não pensam como nós e até os próprios inimigos”, apelou.
Francisco defendeu que é preciso amar sempre, “ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição”.
“Como dizia João Paulo I, se queres beijar Jesus crucificado, ‘não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor’ (audiência geral, 27/09/1978)”, indicou.
A homilia sublinhou a importância de viver este “amor até ao extremo”, para não deixar a existência a “meio”, sem “nunca dar o passo decisivo, sem levantar voo, sem arriscar pelo bem”.
“Se não apontarmos para o alto, se não arriscarmos, se nos contentarmos com uma fé superficial, somos – diz Jesus – como quem deseja construir uma torre, mas não calculou bem os meios para a fazer”, observou.
O Papa começou por refletir sobre o discurso “exigente” que Jesus dirige a quem os segue, numa passagem do Evangelho segundo São Lucas (Lc 14, 25), alertando para os que arrastam multidões, atualmente.
“Acontece hoje, especialmente nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o salvador”, advertiu.
O estilo de Deus é diferente, porque não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas. Não tem a paixão dos números, não busca consensos, nem é um idólatra do sucesso pessoal. Pelo contrário, parece preocupar-se quando as pessoas o seguem com euforia e fáceis entusiasmos”.
Francisco lamentou que alguns sigam Jesus por razões “mundanas”, por interesses “pessoais” e não espirituais.
“Por trás duma fachada religiosa perfeita, pode esconder-se a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais”, elencou.
A homilia concluiu-se com uma intercessão ao novo beato, para que todos obtenham o “sorriso da alma”.
“Servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: ‘Senhor, aceita-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas faz que me torne como Tu desejas’ (audiência geral, 13/09/1978)”, pediu Francisco.
No final da Missa, o Papa recitou a oração do ângelus, agradecendo a presença do presidente da Itália e do primeiro-ministro do Mónaco, bem como de representantes das dioceses ligadas à vida do novo beato, como Veneza, onde foi patriarca, e Belluno, onde nasceu Albino Luciani.
“Agora, dirijamo-nos em oração à Virgem Maria, para que obtenha o dom da paz em todo o mundo, especialmente na martirizada Ucrânia. Que ela, primeira e perfeita discípula do Senhor, nos ajude a seguir o exemplo e a santidade de vida de João Paulo I”, declarou.
Francisco, que se deslocou em cadeira de rodas, cumprimentou os cardeais presentes, antes de passar entre a multidão, no papamóvel descoberto, com o sol de regresso à Praça de São Pedro.
OC