Vaticano: Papa pede «cultura do encontro» para que Igreja «ouse ser fronteira do presente e do futuro»

Inauguração espaço de exposição permanente na Biblioteca Apostólica do Vaticano permite procurar «novos mapas» para a humanidade

Foto: Sala de Imprensa do Vaticano

Cidade do Vaticano, 06 nov 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco inaugurou um novo espaço de exposição permanente na Biblioteca Apostólica do Vaticano, e afirmou que o mundo precisa de novos mapas para descobrir “o significado da fraternidade, da amizade social e do bem comum”.

“Nesta mudança de época que a pandemia acelerou, a humanidade precisa de novos mapas para descobrir o significado da fraternidade, da amizade social e do bem comum. A lógica dos blocos fechados é estéril e cheia de mal-entendidos. Precisamos de uma nova beleza, que não é mais o reflexo usual do poder de alguns, mas o mosaico corajoso da diversidade de todos. Que não seja o espelho de um antropocentrismo despótico, mas um novo cântico de criaturas, onde uma ecologia integral se concretize efetivamente”, afirmou o Papa durante o encontro de inauguração.

A mostra ‘TUTTI. Humanidade a caminho. A inauguração do novo espaço expositivo’ foi apresentada pela Biblioteca Apostólica, dirigida pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça, como “um novo capítulo na história centenária da missão de conservação e divulgação” da instituição.

O Papa agradeceu a “aposta no diálogo” e sublinhou que a vida “é a arte do encontro”.

“As culturas adoecem quando se tornam autorreferenciais, quando perdem a curiosidade e a abertura para os outros. Quando eles excluem em vez de integrar. Que vantagem temos em tornar-nos guardas de fronteira em vez de guardiães de nossos irmãos?”, questionou.

Francisco fez notar que quis marcar o seu pontificado com a cultura do encontro e, indicou que o mesmo “é válido para a Biblioteca”.

“Tanto melhor serve à Igreja se, além de guardar o passado, ousa ser uma fronteira do presente e do futuro”, assinalou.

Partilhando com D. José Tolentino Mendonça a “responsabilidade” de manter “vivas as raízes, a memória, procurando sempre as flores e os frutos”, o Papa convidou o cardeal português a “sonhar novos mapas”.

Foto: Sala de Imprensa do Vaticano

“Estou a pensar em particular na necessidade de passar do analógico para o digital, para traduzir cada vez mais a nossa herança para novas línguas. É verdade que é um desafio histórico que devemos enfrentar com sabedoria e ousadia. Conto com a Biblioteca Apostólica para traduzir o depósito do Cristianismo e a riqueza do humanismo para as línguas de hoje e de amanhã”, explicou.

Francisco afirmou a beleza coo “a raiz da bondade, da verdade e da justiça que são seus sinónimos” e explicou que esta “não é a ilusão fugaz de uma aparência ou de um ornamento”.

“O coração humano não precisa apenas do pão, não precisa apenas do que garante a sua sobrevivência imediata: precisa também da cultura, do que toca a alma, que aproxima o ser humano da sua profunda dignidade”, reconheceu, sendo, por isso, tarefa da Igreja testemunhar “a importância da beleza e da cultura, dialogando com a particular sede de infinito que define o ser humano”.

No final do encontro, dirigindo-se aos funcionários da Biblioteca Apostólica Vaticana, o Papa agradeceu o testemunho e o trabalho, “oculto” das pessoas que não se veem”.

“Nós, às vezes, pensamos no valor das coisas ou das pessoas que vemos, mas há muitas, muitas pessoas ocultas que continuam vida, família, mundo, sociedade, tudo, cultura … Obrigado por este trabalho, obrigado”, finalizou.

A exposição parte das “reflexões propostas pelo Santo Padre na Encíclica Fratelli Tutti” e propõe “um caminho que parte da cartografia de viagem até chegar a mapas utópicos e alegóricos”, aponta a nota de imprensa.

Foto: Sala de Imprensa do Vaticano

Criada em colaboração com Pietro Ruffo, artista romano, a exposição tem curadoria de padre Giacomo Cardinali, Simona De Crescenzo e Delio Proverbio, com o objetivo de estabelecer “um diálogo entre os tesouros da Biblioteca Apostólica do Vaticano e as novas instâncias da arte contemporânea”.

Entre outras obras, estará em exibição o mapa do Nilo do século XVII de Evliya Çelebi, com cerca de seis metros de comprimento, em diálogo com a reinterpretação de Pietro Ruffo.

A exposição estará aberta até 25 de fevereiro de 2022, todas as terças e quartas-feiras, das 16 às 18 horas locais, mediante reserva no site da Biblioteca.

OC/LS

 

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