Vaticano: A Cúria Romana «não é apenas um instrumento logístico e burocrático» e deve ser a primeira a converter-se ao «estilo» sinodal

Encontro de Natal do Papa com os que estão ao serviço da Igreja Universal apelou à «participação, comunhão e missão», rejeitando a «cumplicidade cria divisões»

Cidade do Vaticano, 23 dez 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje no discurso de Natal aos colaboradores do Vaticano que a Cúria Romana “não é apenas um instrumento logístico e burocrático”, deve promover um “estilo diferente de trabalho” onde a experiência sinodal “deve começar”.

“A sinodalidade é um estilo, ao qual, os primeiros a converter-se, devemos ser nós que estamos aqui e vivemos a experiência do serviço à Igreja universal através do trabalho na Cúria Romana”, afirmou o Papa.

No encontro de Natal da Cúria Romana, o Papa disse que a humildade é a palavra que expressa “todo o mistério do Natal” e a condição para dar seguimento ao percurso sinodal iniciado a 17 de outubro, e que vai decorrer durante os próximos dois anos, com o propósito de ouvir “todos, “para dialogar e discernir” .

“O Sínodo é a experiência de nos sentirmos, todos, membros de um conjunto maior”, sublinhou o Papa, crescentando que “todos” “não é palavra que se preste a equívocos” e lembrando que o clericalismo é uma “tentação” que “insinua diariamente” as estruturas eclesiais e “faz pensar num Deus que fala apenas a alguns, enquanto os outros devem apenas escutar e cumprir”.

Francisco lembrou que a Cúria Romana não é apenas “um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal”, antes “o primeiro organismo chamado a dar testemunho”.

Na medida em que assume pessoalmente os desafios da conversão sinodal a que é chamada também ela, cresce a sua credibilidade e eficácia. A organização que devemos implementar não é de tipo empresarial, mas evangélico”.

No discurso de Natal o Papa desafiou os colaboradores da Cúria Romana a serem os primeiros a uma “conversão à sobriedade” e a “procurar viver com transparência, sem favoritismos nem partidarismos”.

“Se a Igreja percorre o caminho da sinodalidade, nós devemos ser os primeiros a converter-nos a um estilo diferente de trabalho, colaboração, comunhão. E isto só é possível pelo caminho da humildade”, acrescentou.

No discurso de Natal, o Papa Francisco lembrou as três palavras-chave que marcam o percurso sinodal – participação, comunhão e missão – e disse que são “três exigências” que indicou como “estilo de humildade” a concretizar  na Cúria Romana, “três disposições para se colocar concretamente em prática o caminho da humildade”.

Para o Papa, a participação “deveria expressar-se através dum estilo de corresponsabilidade”, onde cada um se sinta “envolvido” e “corresponsável no trabalho sem se limitar a viver a experiência despersonalizante da execução dum programa estabelecido por outrem”.

“Fico sempre impressionado quando encontro na Cúria a criatividade e, não raro, esta manifesta-se sobretudo onde há e se encontra espaço para todos, mesmo para quem parece, hierarquicamente, ocupar um lugar marginal”, afirmou, acrescentando que “a autoridade torna-se serviço, quando compartilha, envolve e ajuda a crescer.

Francisco indicou depois que palavra é comunhão “não se expressa com maiorias ou minorias”, mas de “estilo evangélico”, onde os vários colaboradores não são estranhos nem “concorrentes que procuram a melhor posição” ou, pior ainda, as relações que se criam parecem assentar na cumplicidade ditada por interesses pessoais, esquecendo-se da causa comum que nos mantém unidos”.

“A cumplicidade cria divisões, fações e inimigos; a colaboração exige a grandeza de se aceitar como parcela e abrir-se ao trabalho em grupo, mesmo com quem não pensa como nós. Na cumplicidade, está-se junto para obter um resultado externo. Na colaboração, está-se junto porque se tem a peito o bem do outro e consequentemente de todo o Povo de Deus”, indicou o Papa.

O Papa referiu-se depois à missão na Cúria Romana, afirmando que não permite atitude de isolamento, “inclui sempre a paixão pelos pobres”, “não só materiais, mas também espirituais, afetivos, morais”.

“A pessoa com coração missionário sente que lhe falta o seu irmão e, com a atitude do mendigo, vai encontrá-lo. A missão torna-nos vulneráveis, ajuda-nos a recordar a nossa condição de discípulos e permite-nos descobrir sempre de novo a alegria do Evangelho”

Participação, missão e comunhão são os traços duma Igreja humilde, que se coloca à escuta do Espírito e mantém o próprio centro fora de si mesma”, afirmou o Papa  no discurso à Cúria Romana, que é também a ocasião de Francisco transmitir os votos de natalícios aos seus mais diretos colaboradores.

PR

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Agência ECCLESIA

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