«A porta para a dignidade de um homem é o trabalho» – Francisco
Cidade do Vaticano, 08 out 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje que “o desenvolvimento é inclusivo ou não é desenvolvimento”, aos participantes da conferência da Fundação ‘Centesimus Annus pro Pontifice’ que, como fiéis leigos, têm de “fazer ‘levedar’ a realidade económica num sentido ético”.
“O crescimento inclusivo encontra o seu ponto de partida num olhar não voltado para si mesmo, livre da busca pela maximização dos lucros. A pobreza não se combate com o assistencialismo, não! Ele a anestesia, mas não a combate”, disse o Papa na audiência, na manhã deste sábado, no Vaticano.
No seu discurso, Francisco, citando a encíclica ‘Laudato si’, lembrou que “ajudar os pobres com dinheiro deve ser sempre um remédio temporário para enfrentar as emergências”, uma vez que o objetivo verdadeiro deve ser “permitir-lhes uma vida digna através do trabalho”.
“A porta para a dignidade de um homem é o trabalho”, realçou, aos participantes da conferência ‘Crescimento inclusivo para erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável para a paz’, promovida pela Fundação ‘Centesimus Annus pro Pontifice’.
Para o Papa se não existir o “compromisso de todos” em cultivar políticas trabalhistas para os mais frágeis favorece-se “uma cultura mundial do descarte”, algo que tentou explicar no primeiro capítulo da sua encíclica ‘Fratelli tutti’ (Todos Irmãos).
“O futuro invoca um novo olhar, e cada um é chamado a ser o promotor dessa maneira diferente de olhar para o mundo, a partir das pessoas e situações que vive na vida quotidiana. Somos todos irmãos e irmãs, e se sou o dono de uma empresa isso não me legitima a olhar para os meus empregados com um ar de presunção. Se eu administro um banco, não devo esquecer que cada pessoa deve ser tratada com respeito e atenção.”
Segundo Francisco, a expressão-chave está no tema da conferência, ‘crescimento inclusivo’, que leva a pensar na encíclica ‘Populorum Progressio’ (26 de março de 1967), de São Paulo VI, onde o Papa afirma: «Desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todo homem e o homem todo».
“O desenvolvimento é inclusivo ou não é desenvolvimento. Aqui está a nossa tarefa, especialmente a de vocês como fiéis leigos: Fazer ‘levedar’ a realidade económica num sentido ético, o crescimento no sentido de desenvolvimento. Vocês procuram fazê-lo, a partir da visão do Evangelho, porque tudo nasce da forma como se olha a realidade, o olhar de Jesus começava com a misericórdia e compaixão pelos pobres e excluídos.”
O Papa salientou que a Fundação ‘Centesimus Annus pro Pontifice’ pode declinar as “importantes reflexões” que realizaram nestes dias “através da conversão do olhar de cada um”, o olhar humilde de quem vê em cada homem e mulher que encontra “um irmão e uma irmã a serem respeitados em sua dignidade, e não apenas como um cliente com quem fazer negócios”.
“Somente com esse olhar poderemos lutar contra os males da especulação atual que alimenta os ventos de guerra. Não olhar ninguém de cima para baixo é o estilo de todo agente de paz, só é permitido fazê-lo para ajudar a se levantar”, explicou Francisco.
A Fundação “Centesimus Annus” foi instituída pelo São João Paulo II e tem por objetivo a promoção da DSI e das ações da Santa Sé nos meios profissionais, favorecendo a presença da Igreja em diferentes âmbitos sociais.
CB